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vacas são bússolas vivas

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  neste século 21, cientistas alemães descobriram que as vacas pastam viradas para o norte. não todas, só as normais. é uma tendência, seguindo uma espécie de magnetismo. os estudiosos dessas picanhas vivas, h. burda e sabine begall, levaram anos observando as mimosas e o senso magnético parece mesmo fato consumado. pastam para o norte. de repente, estariam à espera da grande aurok, a vaca ancestral, que um dia voltaria para salvar as que mugem e mascam. o problema é que, pelo brasil, o número de vacas aumenta na mesma proporção que os territórios indigenas diminuem. culpa do homo sapiens. o ser humano, como você deve conhecer, também tem senso magnético, apesar de que poucos são os que pastam. muitos eu já mandei pastar. outros, nem precisei.  olhem, de certa forma, melhor é compreender a natureza das coisas, mesmo que você não saiba onde fica o norte.   . . . . . . .  .  .  .  .   .   .    .    .

uma estátua para arlette

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  [ arlette ] início do século 21. o rio de janeiro ganha mais uma estátua de notório valor: clarice lispector. chamo atenção para quatro figuras públicas e que não são cariocas: cristo, drummond, clarice e dorival caymmi. todos com estátua, na cidade maravilhosa. por outro lado, o carioca mais famoso do mundo, agenor oliveira   -- o cartola --, não ganhou o mesmo agrado. olhem, até romário tem estátua... vejam que cariocas ilustres como tom jobim, noel e machado de assis, ganharam o mimo também. e glória maria? para ela, nada de estátua... também estão na fila, pelo menos até a publicação desta crônica, fluminenses brilhantes: chiquinha gonzaga, dona ivone lara e arlette pinheiro. sim, arlette, mais conhecida pelo pseudônimo: fernanda montenegro.

além do ponto - caio fernado abreu - comentário

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                                                      caio fernando abreu (1948-1996) início da narrativa "além do ponto" -- caio f abreu: Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de cigarros molhados no bolso (...)  - [ m or ang os m ofad os ]   . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .   .    . o narrador caminha pela chuva com cigarro e garrafa, na cidade que parece não colaborar com a caminhada. carros espirram lama em seu corpo. mas, segundo a narração, é preciso ir ao encontro dele, de alguém que supostamente o espera e ...

ribeirão preto 1981 ensino médio

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  lembro desta foto, era novembro, últimos dias de aula. 1981,  segunda série "g", ensino médio. escola: curso oswaldo cruz, na rua américo brasiliense, ribeirão preto. falta mais gente aí, lembro fernando, katia, ligia... e outros tantos mais. na foto: da esquerda para direita, ao fundo, francisco, eu (camisa escura) e paulo sérgio (camisa branca); no segundo degrau: taís (blusa vermelha) -- fazendo chifrinho na coleguinha --, alessandra, ivana, maria e washington; sentadas: cristiane, agnes e miriam manini (in memorian). os nomes peguei no verso da fotografia porque, na ocasião, eu mesmo tive o cuidado de colocar. não sei o rumo de quase todos, com exceção de miriam (falecida, 2020) e eu mesmo, por aqui, campinas, com aulas de literatura. os demais, será que viram esta foto, na época? era tão difícil -- e caro -- fazer cópias... eu gostava de praticamente todo mundo, achava tudo lindo porque também era meu segundo ano em uma escola privada, começava a gostar mesmo de escrev...

o cais em pessoa : durban dentro dele

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  um dos primeiros portugueses que, oficialmente, deixou sua marca por durban, áfrica do sul, foi bartolomeu dias, em 1488. no mesmo lugar, viveu parte da adolescência, o poeta fernando pessoa. ele chegou em 1896, em função do trabalho do padrasto, o cônsul joão rosa. na cidade de durban, pessoa escolheu um heterônimo: c.r. anon (brincadeira com "anônimo"). em 1905, o português das múltiplas personalidades deixava a áfrica do sul. na cidade, há um relógio em sua memória e uma estátua para bartolomeu dias, a quem pessoa dedicou versos:       Jaz aqui, na pequena praia extrema    O Capitão do Fim     Dobrado o Assombro,     O mar é o mesmo:     Já ninguém o tema!                         (...)                  [in "M ensage m"]    . . . . . . .  .  .  .  .  ....

diálogo - caio f abreu - comentário

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                                                          caio fernando abreu [1948-96] " diálogo ", do livro "morangos mofados", texto em discurso direto, na estrutura de um drama, uma peça teatral. veja as primeiras linhas e o final: A: Você é meu companheiro.  B: Hein?  A: Você é meu companheiro, eu disse.  B: O quê?  A: Eu disse que você é meu companheiro.  B: O que é que você quer dizer com isso?  A: Eu quero dizer que você é meu companheiro. Só isso.  B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto.  A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico.  (...) A: Eu quero que você seja meu companheiro, eu disse.  B: O quê?  A: Eu disse que eu quero que você seja meu companheiro.  B: Você disse?  A: Eu disse?  B: Não. Não foi assim: eu disse.  A: O quê?  B: Você é meu co...

além da fábula: toy story e frankenstein

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                                                           na televisão, passa um dos filmes "toy story" ( pixar ) . famosa fábula infantil e adulta ao mesmo tempo. num dado momento, um dos bonecos diz a seu parceiro de plástico: " você é um brinquedo !", tentando expor a realidade dura daquele instante. era necessário fazer com que o boneco de astronatuta reconhecesse que não tinha super poderes, era descartável... e também não voaria. sobra o  desespero de quem quer ser amado... os brinquedos são imagem e semelhança de seus criadores. tanto cebolinha quanto a barbie. é assim como mitos ou fábulas. impossível não lembrar a criatura de "frankenstein" ( séc 19 ), narrativa de mary shelley. tempo frio, a agonia das noites longas e ambientação gótica reforçam sensação de desespero e de muita coisa errada. num dado momento do livro, cria...

o dia que júpiter encontrou saturno - caio f abreu - comentário

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  o conto, do livro "morangos mofados" (caio f abreu) traz uma história provavelmente datada: dezembro de 1980. júpiter e saturno estão em conjunção a cada 20 anos, aos olhos dos viventes do planeta terra. este ano, 1980, foi momento do encontro visível desses corpos do céu.  narrador onisciente conta uma narrativa sob duas perspectivas diferentes.  começa assim: Foi a primeira pessoa que viu quando entrou. Tão bonito que ela baixou os olhos, sem querer querendo que ele também a tivesse visto.   (...) Com a movimentação dos outros, levantando o tempo todo para dançar rocks barulhentos ou afundar nos quartos onde rolavam carreiras e baseados, devagarinho conquistou a cadeira de junco junto à janela. A noite clara lá fora estendida sobre a Henrique Schaumann (...)   . . . . . . . .  .  .  .  .  .   .   .   . a narrativa tem como cenário a cidade de são paulo. história singela e simples: ela é tímida e e...

discutir literatura de homens ou mulheres no vestibular mascara o mais importante

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  figuras importantes da literatura, por aqui, não vêem com bons olhos a escolha de uma lista de leitura composta apenas por mulheres, para o vestibular da usp ( fuvest ), em 2026. de certa forma, uma lista só feminina pode mascarar o machismo inerente à cultura do país, principalmente nos século 19 e 20. concorda-se. direito reconhecido em criticar o que quer que seja, tudo certo também. agora, sinto que se dá importância demais a um exame que não pretende medir o grau de conhecimento de estudantes. se fuvest escolhe este ou aquele, esta ou aquela, não vai alterar o preço do feijão.  a literatura dos homens -- excluídos da lista -- não será excluída do mundo, eles continuarão aí.  vestibular é exame, não é prova. vestibular não premia o bom esudante, a boa estudante. quem passa no vestibular xis só prova que foi bem naquele tipo de exame. passar em vestibulares, por aqui, não é tarefa apenas para quem estuda muito, mas sim, quem treina aquele tipo de prova.    ...

hutukara - samba-enredo salgueiro 2024 - não vamos nos render

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  [ estatueta de omama enviada à organização do oscar 2023, eua ] _ arte: felipe corcione _  É Hutukara! O chão de Omama  O breu e a chama, Deus da criação  Xamã no transe de Yakoana  Evoca Xapiri, a missão  Hutukara, ê! Sonho e insônia  Grita a amazônia, antes que desabe  Caço de tacape, danço o ritual  Tenho o sangue que semeia a nação original  Eu aprendi português, a língua do opressor  Pra te provar que meu penar também é sua dor  Falar de amor enquanto a mata chora  É luta sem flecha, da boca pra fora!  Tirania na bateia, militando por quinhão  E teu povo na plateia, vendo a própria extinção  Yoasi que se julga: Família de bem  Ouça agora a verdade que não lhe convém  Você diz lembrar do povo Yanomami em 19 de abril  Mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome  Quando o medo me partiu  Você quer me ouvir cantar em Yanomami  pra postar no seu perfil  Entre aspas e ...

silêncio de um cipreste - cartola - um outro olhar

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  numa primeira postagem ( julho, 2022 ) comentando o samba "silêncio de um cipreste", do rei cartola, afirmei o seguinte:      (...) parece mesmo que existe culpa, nessa letra de cartola. então, a solução para o defeito seria mudar o pensamento – ao invés de tentar fazer alguma coisa. o pensamento, segundo o texto, é folha do cipreste que o vento leva, não tem peso. uma ação, pelo contrário, fica, tem peso, pode ser julgada. (...)       [  clica aqui pra ler o texto todo  ] hoje, releio, estudo, converso, então, resolvo fazer ressalva.  assim: a questão, no texto de cartola, não seria apenas o contraste entre o pensar e o fazer. lidar com pensamento não significa necessariamente deixar de fazer uma ação.  pode ser, mas nem sempre. olhem, a letra é introspectiva, revela arrependimento, é fato. agora, mudar o pensar também pode ser uma maneira nova de encarar o passado, ou seja, rever aquilo que o poeta diz não ter realizad...

pera, uva ou maçã - caio f abreu - comentário

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  conto do livro "morangos mofados" do caio f abreu. aqui, a relação entre psicanalista e paciente. o tempo da narrativa é o da sessão, desde a chegada da paciente, até o término e a a vinda de outro, quando o texto se encerra. o começo é assim: Rói as unhas no momento em que abro a porta, a bolsa comprimida contra os seios. Como sempre, penso, ao deixá-la passar, cabeça baixa, para sentar-se no mesmo lugar, segundas e quintas, dezessete horas: como sempre. Fecho a porta, caminho até a poltrona à sua frente  (...)  . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .   .   . a paciente conta um episódio que antecede sua chegada ao consultório, que é o tropeço em um caixão de defunto. ela estava entretida com suas ameixas, comendo com vontade, dobra uma esquina e topa com o caixão saindo da casa. a paciente e o psicanalista fumam vários cigarros, durante a sessão.    .  . . . . .  .  .  .  .  ....

cozinha sentimental - um restaurante imaginário

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  meu aniversário está chegando e já encomendei pratos diversos, de repente escolho um deles. filé de auroque com farofa doce de azeitona. poder ser também: risoto de pupila de mamute, acompanhado de fígado de megalodonte, além, claro de guacamole de melancia. tudo vale quando se descobre que estômago não faz julgamento moral. viva a fome que aguça imaginação.    . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   conheça mais revoluções e fanfarronices, neste livro aqui, veja o vídeo!       compre o livro   [ capa foi levemente alterada: a nova é a que está no alto deste texto] conheça mais proudutos selecionados - amazon

abolição via vargas - romance histórico e ficcional

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  romance com dois narradores envolvendo personagem que vive em um museu possivelmente criado por... -- ah, não vou contar aqui! ... -- foi inventado a partir de práticas pouco ortodoxas de um desenhista e fotógrafo francês radicado em campinas, s paulo. narrativa meta-histórica cuja trama envolve santos dumont, carlos gomes, o tal hercule florence, luiza xavier de andrade, iara e outras figuras que passaram (ou deveriam ter passado) por campinas. clica para conseguir o seu!   [ amazo n ] clica e compra agora!   [ link da editora -- eterno ]

cruzes

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                                                                                                                  [ bill watterson ] há vestibulares por aqui, à minha volta. usp, getúlio vargas, federal do abc, puc, unesp, unicamp, ita e mais uma dezena de médias ou nanicas. o método é o mesmo: acertar a  alternativa mágica. são as provas de múltipla escolha. nome é cruel: escolhas. são várias possibilidades, então pode-se marcar qualquer uma. dá-lhe cruzinha.   fazer prova é tormento porque, de repente, num par de folhas de papel decidem-se anos de esforço... vestibulares aqui da região de são paulo -- que consigo acompanhar -- têm valorizado assuntos como: negritude e racismo; violênci...

aqueles dois - caio fernando abreu - comentário

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  " aqueles dois ", conto do livro "morangos mofados", caio f abreu (1948-96) raul e saul trabalham numa mesma firma. um é do norte do país, outro do sul. gostam de van gogh, de dalva de oliveira, carlos gardel e bebidas. trabalham num lugar que, segundo um deles era um "deserto de almas também desertas". a aproximação deles é algo lento, natural, sem barulhos ou dilemas. não há, explicitamente, ao longo da narrativa, uma relação sexual entre eles, mas são bastante íntimos. raul perde a mãe, passa uma semana fora. saul sente falta. raul volta, eles bebem, se abraçam longamente. dormem no mesmo quarto, nus. saul vai embora logo cedo. logo depois, em janeiro, o chefe da repartição comunica a ambos que recebeu cartas de "um atento guardião da moral". nelas, falava-se em "psicologia deformada" e outras acusações. o chefe, temendo pela imagem da empresa, demite os dois. termina assim: Demoraram alguns minutos na frente do edifício. Depois ap...