pessoas, fiz este texto em 2008, achei que podia colocar aqui, então vai.
2008. século 21. homenagens estão sendo feitas a três escritores importantes, de
nossa língua: pessoa (1888-1935), guimarães rosa (1908-67) e machado de assis
(1839-1908). ano de 2008 é data redonda para se relembrar gigantes da
literatura. relembrar, reler, mas não colocá-los em disputa, como fez a folha de s paulo, neste domingo, 22, com um caderno em que opinaram umas dezenas de supostos
críticos, alguns até querendo fugir do páreo e conclamando euclides da cunha
(era melhor então não ter aceitado convite do jornal). nem vou dizer quem
venceu a enquete, seria dar corda à falta de pauta do jornalão.
gente, vale a pena comparar rosa e machado? paulinho da viola e noel? mário faustino e joão cabral? carolina de jesus e conceição evaristo? zico e sócrates? mano brown e emicida? porsche e ferrari? feijoada e caipirinha?...
numa pesquisa publicada em maio de 2008, a mesma folha de s paulo
fez crer que o escritor preferido do grande público era monteiro lobato,
seguido por paulo coelho e jorge amado. três escritores diferentes demonstram
que o leitor brasileiro lê de tudo, menos os livros do sarney, mas isso já é
outra estante.
um dos primeiros portugueses que, oficialmente, deixou sua marca por durban, áfrica do sul, foi bartolomeu dias, em 1488. no mesmo lugar, viveu parte da adolescência, o poeta fernando pessoa. ele chegou em 1896, em função do trabalho do padrasto, o cônsul joão rosa. na cidade de durban, pessoa escolheu um heterônimo: c.r. anon (brincadeira com "anônimo"). em 1905, o português das múltiplas personalidades deixava a áfrica do sul. na cidade, há um relógio em sua memória e uma estátua para bartolomeu dias, a quem pessoa dedicou versos:
Jaz aqui, na pequena praia extrema O Capitão do Fim Dobrado o Assombro, O mar é o mesmo: Já ninguém o tema!
dona tareja é mãe de afonso henriques, o primeiro rei de portugal independente. no século 12, perdeu a batalha de são mamede para o próprio filho, numa disputa de poder.
aqui, no texto, o eu lírico eleva sua condição humana a uma figura divinizada pois que teria parido um rei. daí, na primeira estrofe, lemos "mãe de reis e avó de impérios". o "mundo a sós" indica um mistério ainda a ser executado, ainda a ser conhecido. sabendo de todo contexto que cerca o livro, este mistério seria o grande império luso, formado anos depois do reinado de afonso.
o marinheiro - - teatro estático, fernando pessoa, portugal, 1913
estilo do texto: paulismo e simbolismo o que é: trata-se uma tendência de vanguarda na literatura portuguesa de viés impressionista, com valorização de paisagens interiores; o sonhar e a introspecção
veja a apresentação da peça:
o ator alex ribeiro -- "assisto porque gosto" -- escreveu:
"Três irmãs (...) velam por uma donzela de branco, em seu caixão. Quatro tochas acesas, uma única janela ao fundo, de onde se veem uma colina e, mais ao longe, um azul que pode ser o mar. A lua intensa ilumina o velório. Esse é o cenário que propõe Fernando Pessoa, e que não servirá de apoio a nenhuma ação, no máximo, será um ressonador dos sonhos e angústias das três veladoras. O silêncio é sempre presente, aumentando a inquietação por parte delas. É preciso quebrar o silêncio (...)"
para passar o tempo, conta-se história. a segunda veladora -- uma das irmãs -- vai falar do sonho que teve: um marinheiro chega a uma ilha e sonha com um país perfeito, diferente.
trata-se do espírito sebastianista, neste enredo. uma alegoria de um portugal melhor, imperialista.
O esforço é grande e o homem é pequeno. Eu, Diogo Cão, navegador, deixei Este padrão ao pé do areal moreno E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita. Este padrão sinala ao vento e aos céus Que, da obra ousada, é minha a parte feita: O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano Ensinam estas Quinas, que aqui vês, Que o mar com fim será grego ou romano: O mar sem fim é português.
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma E faz a febre em mim de navegar. Só encontrará de Deus na eterna calma O porto sempre por achar. [ Mensagem, F Pessoa, 1934 ]
poema que se inclui na segunda parte do livro "mensagem" -- nomeada "mar português". quem fala é diogo cão, navegador que primeiro chegou ao litoral africano do congo (1482-84) e criou esse tipo de marco, um padrão, ou seja, elemento físico da marca das invasões portuguesas (muita gente chama de "expansão"). o trabalho de cão é base para o que iria fazer vasco da gama, em 1498.
a cruz é a referência ao destino luso da navegação, ou seja, um ser divino tornou possível aos portugueses as viagens e, consequentmente, o aumento do império. vale sempre reforçar que a cruz também pode ser referência aos templários: ordem da qual faziam parte tanto vasco como pessoa, por exemplo. "alma imperfeita", verso 1, mostra que cabe ao homem, segundo este e outros poemas, sonhar com uma vida plena, perfeita, ou seja, com domínio sobre as terras, formando quinto império. insisto: no texto, sonhar é possível...realizar, só com deus.
"mensagem" faz referência a fatos históricos da vida portuguesa, daí sua proximidade com "os lusíadas", de camões. contudo, os poemas de pessoa apresentam uma abrangência tal que, sozinhos, não dão ao leitor clareza didática a respeito do momento histórico tratado neste ou naquele poema. é necessário, então, conhecimento mínimo prévio de eventos da história portuguesa.
veja nosso vídeo sobre livro "mensagem", aqui, para ajudar melhor.
às vezes tenho vontade nenhuma de me mexer, tenho sensação de que cada movimento, frase ou gesto resultará em tragédia ou, simplesmente, em nada, zero. às vezes há alguma euforia. do tamanho dos comprimidos que tomo. saúde mental é um coisa delicada. pouca gente entende. quase ninguém acolhe. tenho pesadelos recorrentes. nasci em dezembro, dia 19. e a história desse vírus "19" parece piada ruim. enfim, não fico pensando muito nisso, seria enxugar gelo.
já me considerei artista, educador, cozinheiro e fotógrafo. também motorista, herói da marvel, prefeito, falso nove, ator, guitarrista, fernando pessoa, gustavo kuerten, ridley scott e macunaíma.
nazaré - portugal - foto do blog livro contendo 44 poemas de caráter nacionalista, místico e histórico mensagem é obra de fernando pessoa (ele-mesmo) - ortônimo título original seria "portugal". poeta alterou, mas manteve, no novo nome, o mesmo número de letras. a mensagem, em si, pede que o país cresça e reassuma um espaço de protagonismo, como se viu entre os séculos 15 e 16 O INFANTE
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Pessoa - Mensagem 1934
"infante" é aquele que há de ser -- filho de reis mas não diretamente ligado ao trono. o texto, como se sabe, é dedicado a dom henrique, morto em 1460 o texto faz referência á rotunda forma do planeta, uma então novidade, no tempo deste infante. a mágoa reinante no desfecho é similar à que se lê em "mar português", mas bem menos contundente aqui, neste "infante" parece que a vontade de deus ou o sonho humano se esfarelou. o mar está, deus é, mas portugal carece de bom destino o fim do império luso, reza a lenda, teria começado com o sumiço de dom sebastião, 1578 como um todo, o livro "mensagem" possui três partes : O Brasão,Mar Português e O
Encoberto messianismo, nacionalismo, sebastianismo, tudo isso em versos que apresentam lirismo sem exageros ... e apontam para história passada do país. vale a pena! clique abaixo para saber mais!
a seleção portuguesa de futebol, neste 2019, conquistou a liga europa. torneio que veio no lugar da "eurocopa". competição, aliás, também vencida pelos tugas anos atrás. em junho de 2010, a seleção brasileira de futebol esteve em durban, áfrica do sul, pela copa do mundo, a jogar contra portugueses. o mesmo lugar que, por acaso, foi de fernando pessoa. o primeiro português, oficialmente, a estar no sul da áfrica foi bartolomeu dias em 1488. já o poeta chegou por lá, mas em 1896, em função do trabalho do padrasto, o
cônsul joão rosa. o heterônimo c. r. anon (brincadeira com "anônimo")
nasceu em durban. em 1905, o português das múltiplas personalidades deixava a áfrica do sul. na cidade, há um relógio em sua memória e uma estátua para bartolomeu dias, a quem pessoa dedicou versos: "Jaz aqui, na pequena praia extrema O Capitão do Fim Dobrado o
Assombro, O mar é o mesmo: Já ninguém o tema!(...)" -
["Mensagem"]
falando em futebol, meu time português, para todo o sempre, está escalado:
GUARDA REDES (camisa 1)–Vieira
ALA DIREITA (4) – Gil Vicente
DEFENSOR (3) – Mário de Sá-Carneiro
DEFENSOR (2) – Branquinho da Fonseca
LÍBERO – (5) Eça de Queiroz
ALA ESQUERDA – (6) Miguel Torga
técnico -sá de miranda massagista - alexandre o'neill auxiliar técnico - josé régio reservas guarda redes - ramalho ortigão defensor - antero de quental meia defensivo - camilo castelo branco ala - bocage médio - joão de deus avançado - camilo pessanha
meus amigos sonia e gustavo vão a portugal, em fevereiro, daí fiquei animado a dar umas dicas.
serão cinco ou seis dias, segundo me escreveu sonia.
em lisboa & arredores :
[ a ordem é aleatória ]
1. praça do comércio - nela há o museu da cerveja e o café martinho da arcada... e com fernando pessoa...tudo de bom 2. castelo de são jorge - é perfil de um parque, hoje.... vista linda do centro velho e tem café, além da construção milenar em si 3. igreja n. s. do carmo - fica no chiado, tem museu lá dentro, túmulo de fenando e tal 4. mosteiro dos jerônimos - dispensa apresentações - fica no bairro de belém 5. torre de belém - idem, idem ... detalhe para um rinoceronte esculpido numa borda externa ... é a construção mais emblemática da cidade... daquela praia saíam as naves de gama e cabral 6. padrão dos descobrimentos - colado na torre de belém, dezenas de metros de altura, concreto, dom henrique na proa; dá pra subir e curtir a vista do tejo - - das dezenas de estátuas que ladeiam a embarcação, tente achar camões... tente achar diogo cão, o que gostava dos padrões 7. LX factor - colado na ponte 25 de abril, espaço de uma antiga fábrica, abriga lojas, bares, arte pop 8. museu dos coches - o nome diz tudo 9. alfama - miradouro de santa luzia - marca a estada dos árabes pela região...vista do tejo, azulejos, roupas nas janelas, vielas... 10. sintra - castelo e centro histórico com as ruinhas estreitas e o encantamento - - enfim, há mais, bem mais por lisboa, praça da figueira, o elevador de sta justa, o café "a brasileira", cais do sodré e seu mercado, igreja da sé (caminho para são jorge), cascais e sua boca do inferno, museu do azulejo ... desses dez itens acima, se puderem passar por pelo menos oito, acho que ganham o selo "sei um pouco do país todo", juro - - galera de portugal curte bastante pedro 4o. - - é o nosso "primeiro" aqui; o teatro próximo à praça da figueira, neoclássico, leva o nome de maria, a sua filha mais velha - - al usbuna seria o nome antigo de lisboa, qando tomada pelos muçulmanos, na idade média, antes da reconquista - - eu prefiro a versão poética que dá conta da viagem de ulysses, grego homérico, que teria viajado até a foz do tejo... aí, ele teria fundado uma comunidade conhecida como "ulissipona"... por corruptelas fonéticas foi sendo sonorizado o nome para "lisbona", "lispona" ... lisboa
lembrem-se:
banheiro = casa de banho
gelada = fresca
ônibus = comboio
legal; joia; bacanérrimo = giro
neblina = nevoeiro
sardinha = sardinha mesmo
deus = cristiano ronaldo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . possíveis contradições do editor - - * casas de fado - não foi; não gosta... o autor demorou pra assumir em função de muito preconceito e possíveis retaliações.... mas agora, depois dos 50 de idade, tá se achando poderoso... então, não sabe o que dizer dessa arte [acho triste pra caramba, vontade de cortar os pulsos depois] * andar de tuck tuck - experiência só para quem não costuma guardar rancor... detestei * filas - neste janeiro, por passar pouco tempo em lisboa, não encaramos filas para, por exemplo, a casa dos pastéis de belém, ao lado dos jerônimos ... assim, como não entramos - desta vez - no mesmo mosteiro... fila é para os fortes, boa sorte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .