segunda-feira, 27 de junho de 2022

minha ansiedade é uma frase passageira

                                                             

esses últimos vinte dias de junho foram movimentados demais. um misto de ressaca do mar e queda de meteorito. sentia que havia uma rave de babuínos dentro do peito. não vou entrar em detalhes, há mais vida lá fora e parece que vou melhorar. mas aprendi que em meio a ansiedades e frustrações o que resta é viver um dia por vez. dificílimo pra mim, porém cérebro é pra usar.
tento beber e fumar menos, isso é fato. vou a médicos, tomo comprimido. existe a terapia. existe a movimentação física. existe o trabalho. existem pessoas em volta, ainda preciso acreditar em alguém... 
ansiedade, um dia ela vai embora. e você, que nem ansioso é, garanto que leu "fase", no título dessa croniqueta. frase boa é só uma fase mesmo.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

pais idosos vão para casa de repouso, em ribeirão preto

 

2022: de 09 a 18 de junho, praticamente dez dias, estive em ribeirão preto, apartamento de pais idosos, ambos próximos dos 90 anos.
minha mãe caiu, em abril, dentro de casa, quebrou fêmur.
precisa acompanhamento o tempo todo; a memória falhando muito. meu pai já não tem o vigor de antes, memória vai enfraquecendo...
eu e irmão decidimos, nesses dez dias, que os pais iriam para uma casa de repouso, lá em ribeirão preto mesmo. e assim se fez. é 
lugar com enfermeiras tempo todo e médico regularmente. fora outras pessoas para conversar e atividades físicas (
musicoterapia, educação física, jogos de escrita, memória etc
).
o nó é a sensação que fica de desmembramento das rotinas de todos: eu, irmão e pais. cada um com sua ansiedade. cada um com seu touro selvagem dentro do peito. mas tenho ouvido de gente próxima que o que foi feito foi o melhor, o mais acolhedor etc etc. na casa de repouso os dois estão cercados de cuidados. é brisa que traz algum conforto. e estou procurando atividade física mais regular, para mim mesmo, como frequentar -- mesmo que irregularmente -- o pequeno espaço de academia aqui do prédio onde moro... deve ajudar.
recebi energia de família, amigos, amigas, meus alunos, alunas, colegas de escola, figuras mais e menos distantes, isso anima e me berça. essas energias continuam me acolhendo. o muito obrigado, aqui, é o mínimo.


terça-feira, 21 de junho de 2022

cordas de aço - cartola - comentário

 

    CORDAS DE AÇO
     Cartola [1908 - 80]

 Ah, essas cordas de aço
 Este minúsculo braço
 Do violão que os dedos meus acariciam
 Ah, este bojo perfeito
 Que trago junto ao meu peito
 Só você violão
 Compreende porque perdi toda alegria
 E no entanto meu pinho
 Pode crer, eu adivinho
 Aquela mulher
 Até hoje está nos esperando
 Solte o teu som da madeira
 Eu você e a companheira
 Na madrugada iremos pra casa
 Cantando
 

* pinho: violão (madeira usada para o instrumento)
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muito comum, no século 20, referir-se ao corpo das mulheres como "violão", por conta de sua forma ondulada, lembrando a cintura de uma figura feminina. o texto de "cordas de aço" traz a relação de um músico e seu violão. o instrumento pegado ao peito indica intimidade e cumplicidade. o poeta está sem "aquela mulher" (verso 10). num  determinado momento se lê: "perdi toda a alegria". restou a ele, poeta, a companhia do instrumento que expressa emoção. contudo, ela deve estar esperando e, assim que o violão soltar seu som, ela irá juntar-se aos dois. repare que a expressão "cordas de aço" também pode fazer referência à prisão; àquilo que prende; uma ligação muito forte: o amor. mais do que isso, pode também ser a ligação com o samba que, além de acalmar sofrimento, o aproxima da mulher amada.
cartola: agenor de oliveira, nascido no rio de janeiro, 1908. falecido na mesma cidade, 1980. o apelido "cartola" veio dos tempos em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu. 
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saiba mais:



terça-feira, 14 de junho de 2022

o poder e a glória da edição: cortar é uma arte?

 


não consigo trabalhar sem um plano. aula; uma viagem; horários de chegada em determinado lugar... etc... embora, para algumas ações, só o primeiro ímpeto já vale o início de determinada tarefa, como, por exemplo, gravar vídeos para o canal do youtube. eles chegam ao espectador recheados de cortes, alguns suaves, imperceptíveis, outros abruptos e quase risíveis. algumas vezes refaço a gravação, mas na maioria delas, deixo como está, porque não quero o grammy latino, o troféu de edição, mas transmitir alguma coisa útil: literatura. e um pouco do meu jeito único de destroçar vídeos.
por que escrevo isso? 
não sei.

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este do nelson é um dos mais retalhados 

[ nos comentários tem uma crítica construtiva, aliás ]



quarta-feira, 8 de junho de 2022

as rosas não falam - cartola - comentário

                    

     AS ROSAS NÃO FALAM
        Cartola  [1908 - 80]

 Bate outra vez
 Com esperanças o meu coração
 Pois já vai terminando o verão
 Enfim
 Volto ao jardim
 Com a certeza que devo chorar
 Pois bem sei que não queres voltar
 Para mim
 Queixo-me às rosas
 Que bobagem as rosas não falam
 Simplesmente as rosas exalam
 O perfume que roubam de ti, ai
 Devias vir
 Para ver os meus olhos tristonhos
 E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
 Por fim
 
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saudade é o tema deste samba de cartola. qual a queixa do poeta? resposta: desilusão amorosa. o eu lírico divide com as rosas a tristeza que sente pela ausência da pessoa amada. o coração dá o tom -- vermelho -- à sensação, ou seja, ele vê, na rosa, o seu coração ferido e tenta falar com a pessoa amada, mas é inútil. as rosas -- cor avermelhada -- acentuam o estado emotivo do poeta que sonha com a volta de seu amor. para compensar a solidão e a tristeza, as rosas exalam o perfume que lembra a pessoa querida. ao final, a voz poética deixa recado a ela, pedindo que venha vê-lo outra vez para, de repente, sonhar com ele.

agenor de oliveira, nascido em cantagalo, rio de janeiro, 1908. falecido na mesma cidade, em 1980. torcedor do fluminense. um dos fundadores da escola de samba estação primeira de mangueira. o apelido "cartola" veio dos tempos em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu.