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Mostrando postagens com o rótulo samba

rubinato e arte eterna

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  joão rubinato faz cento e quatorze anos, neste 2024. joão era o nome de pia. contudo, foi mais conhecido como adoniran barbosa. o primeiro nome vem de seu melhor amigo e o sobrenome, uma homenagem ao cantor luiz barbosa. " saudosa maloca " é um dos sucessos de adoniran. nascido na região de valinhos, s paulo, o compositor fez parceria com o grupo "demônios da garoa", mas sua canção fica mesmo gravada no apelido do torcedor corintiano, o  maloqueiro e sofredor. adoniran e corinthias são de 1910. olhem, se você que me lê não sabe o que é "maloca", não sou eu quem vai explicar. se não sabe quem foi adoniran, aí precisa nascer outra vez. o  clube do parque são jorge também fez 114 anos, em 2024. gente como gilmar (goleiro), rivellino (meia), gabi portilho (atacante) sócrates (meia-atacante), tamíres (ala) ou ronaldo (atacante) foram campeões jogando pelo clube. o maior público para uma partida de futebol, em s paulo, foi num jogo do time. era 1978. o adversá...

hutukara - samba-enredo salgueiro 2024 - não vamos nos render

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  [ estatueta de omama enviada à organização do oscar 2023, eua ] _ arte: felipe corcione _  É Hutukara! O chão de Omama  O breu e a chama, Deus da criação  Xamã no transe de Yakoana  Evoca Xapiri, a missão  Hutukara, ê! Sonho e insônia  Grita a amazônia, antes que desabe  Caço de tacape, danço o ritual  Tenho o sangue que semeia a nação original  Eu aprendi português, a língua do opressor  Pra te provar que meu penar também é sua dor  Falar de amor enquanto a mata chora  É luta sem flecha, da boca pra fora!  Tirania na bateia, militando por quinhão  E teu povo na plateia, vendo a própria extinção  Yoasi que se julga: Família de bem  Ouça agora a verdade que não lhe convém  Você diz lembrar do povo Yanomami em 19 de abril  Mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome  Quando o medo me partiu  Você quer me ouvir cantar em Yanomami  pra postar no seu perfil  Entre aspas e ...

silêncio de um cipreste - cartola - um outro olhar

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  numa primeira postagem ( julho, 2022 ) comentando o samba "silêncio de um cipreste", do rei cartola, afirmei o seguinte:      (...) parece mesmo que existe culpa, nessa letra de cartola. então, a solução para o defeito seria mudar o pensamento – ao invés de tentar fazer alguma coisa. o pensamento, segundo o texto, é folha do cipreste que o vento leva, não tem peso. uma ação, pelo contrário, fica, tem peso, pode ser julgada. (...)       [  clica aqui pra ler o texto todo  ] hoje, releio, estudo, converso, então, resolvo fazer ressalva.  assim: a questão, no texto de cartola, não seria apenas o contraste entre o pensar e o fazer. lidar com pensamento não significa necessariamente deixar de fazer uma ação.  pode ser, mas nem sempre. olhem, a letra é introspectiva, revela arrependimento, é fato. agora, mudar o pensar também pode ser uma maneira nova de encarar o passado, ou seja, rever aquilo que o poeta diz não ter realizad...

delírios de um paraíso vermelho - salgueiro é samba

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         DELÍRIOS DE UM PARAÍSO VERMELHO              [ acadêmicos do salgueiro ]   Ei, psiu   Salgueiro, eu te sigo (eu te amo)   De todos os amores que eu tenho   É com muita honra e com muito orgulho    Salgueiro, a minha maior paixão   Vermelha paixão salgueirense   Que invade a alma   Tá no sangue da gente   O morro desce na batida do tambor   Nesse delírio que o artista se inspirou    No toque sublime de amor   O profeta pintou o paraíso   Intenso vermelho que tinge a emoção   Tá no meu coração, Salgueiro   A vida em perfeita harmonia   A plena liberdade de viver   Mas a tentação que seduziu Adão e Eva   Fez o pecado florescer   Quem será pecador?   Quem irá apontar?   Há um olhar de querer julgar   Se cada um tem seu jeito   Melhor conviver sem preconceito   No meu sonho de rei, quero tempo de...

disfarça e chora - cartola - comentário

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      DISFARÇA E CHORA       Cartola (1908 - 80)   Chora, disfarça e chora  Aproveita a voz do lamento  Que já vem a aurora  A pessoa que tanto querias  Antes mesmo de raiar o dia  Deixou o ensaio por outra  Ó triste senhora  Disfarça e chora  Todo o pranto tem hora  E eu vejo seu pranto cair  No momento mais certo  Olhar, gostar só de longe  Não faz ninguém chegar perto  E o seu pranto, ó triste senhora  Vai molhar o deserto  Chora, disfarça e chora   . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   . samba critica com algum escárnio o amor platônico de uma senhora por alguém. este objeto do desejo acaba indo para outra pessoa. "deixar o ensaio" pode significar metaforicamente, ensaio de escola de samba, ou seja, o sambista mudou de escola antes do carnaval; ou então: seu amor se foi antes da realização amorosa desejada... o que gerou choro. repa...

sim - cartola - comentário

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             SIM            Cartola [ 1908 - 80 ]   Sim,   Deve haver o perdão   Para mim   Senão nem sei qual será   O meu fim   Para ter uma companheira   Até promessas fiz   Consegui um grande amor   Mas eu não fui feliz   E com raiva para os céus   Os braços levantei   Blasfemei   Hoje todos são contra mim   Todos erram neste mundo   Não há exceção   Quando voltam a realidade   Conseguem perdão   Porque é que eu Senhor   Que errei pela vez primeira   Passo tantos dissabores   E luto contra a humanidade inteira      . . . . . . . . . . . . .   .  . samba com jeito de relato pessoal. o poeta está indignado porque não foi perdoado em função de sua blasfêmia, ou seja, culpou os céus e o "senhor" pela infelicidade amorosa. pessoas à sua volta criticam esta má ação, o que gera revolta, uma vez q...

silêncio de um cipreste - cartola - comentário

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       SILÊNCIO DE UM CIPRESTE              Cartola [ 1908 - 80 ]   Todo mundo tem o direito   De viver cantando   O meu único defeito   É viver pensando   Em que não realizei   E é difícil realizar   Se eu pudesse dar um jeito   Mudaria o meu pensar   O pensamento é uma folha desprendida   Do galho de nossas vidas   Que o vento leva e conduz   É uma luz vacilante e cega   É o silêncio do cipreste   Escoltado pela cruz . . . . . .   .   .   .   .   .   .   .   . canção expõe nota de arrependimento e busca de acolhimento. a tal da empatia, como se diz nesse nosso século. o eu lírico mostra que seu defeito é pensar no que não fez... parece mesmo que existe culpa, nessa letra de cartola. então, a solução para o defeito seria mudar o pensamento – ao invés de tentar fazer alguma coisa. o pensamento, segundo o texto, é fol...

que é feito de você - cartola - comentário

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      QUE É FEITO DE VOCÊ           Cartola ( 1908-80 )  O que é feito de você ó minha mocidade?  Ó minha força, a minha vivacidade?  O que é feito dos meus versos e do meu violão?  Troquei-os sem sentir por um simples bastão  E hoje quando passo a gurizada pasma  Horrorizada como quem vê um fantasma  E um esqueleto humano assim vai  Cambaleando quase cai, não cai  Pés inchados, passos em falso  O olhar embaçado  Nenhum amigo ao meu lado  Não há por mim compaixão  A tudo vou assistindo  A ingratidão resistindo  Só sinto falta dos meus versos  Da mocidade e do meu violão  . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   .   .   . neste samba, o eu lírico vê que sua mocidade não mais existe. a vivacidade não é mais a mesma. ele  demonstra a tristeza pela passagem do tempo.  o que se lê, aqui, é o poeta ressen...

alvorada - cartola - comentário

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             ALVORADA         Cartola   [1908 - 80]  Alvorada lá no morro, que beleza  Ninguém chora, não há tristeza  Ninguém sente dissabor  O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo  E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo   Você também me lembra a alvorada  Quando chega iluminando  Meus caminhos tão sem vida  E o que me resta é bem pouco  Quase nada, de que ir assim  Vagando numa estrada perdida  Alvorada    . . . . . . . . . .  .  .  .   .  .   .   . samba contrapõe a paisagem do morro à realidade triste do poeta, dentro de seus caminhos "tão sem vida". uma maneira de ter mundo melhor seria o momento da chegada da pessoa amada, comparada, claro, ao amanhecer no morro, lugar sem tristeza e muito lindo. olhem, todos sabemos -- até os que não moram no morro -- que a vida nesses locais é árdua. às vezes...

cordas de aço - cartola - comentário

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      CORDAS DE AÇO       Cartola [1908 - 80]  Ah, essas cordas de aço  Este minúsculo braço  Do violão que os dedos meus acariciam  Ah, este bojo perfeito  Que trago junto ao meu peito  Só você violão  Compreende porque perdi toda alegria  E no entanto meu pinho  Pode crer, eu adivinho  Aquela mulher  Até hoje está nos esperando  Solte o teu som da madeira  Eu você e a companheira  Na madrugada iremos pra casa  Cantando   * pinho: v iolão (madeira usada para o instrumento)   . . . . . . . . . . . .  .  .  .   . muito comum, no século 20, referir-se ao corpo das mulheres como "violão", por conta de sua forma ondulada, lembrando a cintura de uma figura feminina.  o texto de "cordas de aço" traz a relação de um músico e seu violão. o  instrumento pegado ao peito indica intimidade e cumplicidade. o poeta está sem "aquela mulher" ( ver...

as rosas não falam - cartola - comentário

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                            AS ROSAS NÃO FALAM         Cartola  [1908 - 80]   Bate outra vez  Com esperanças o meu coração  Pois já vai terminando o verão  Enfim  Volto ao jardim  Com a certeza que devo chorar  Pois bem sei que não queres voltar  Para mim  Queixo-me às rosas  Que bobagem as rosas não falam  Simplesmente as rosas exalam  O perfume que roubam de ti, ai  Devias vir  Para ver os meus olhos tristonhos  E, quem sabe, sonhavas meus sonhos  Por fim     . . . . . . . . .  .  .  .   .   . saudade é o tema deste samba de cartola. qual a queixa do poeta? resposta: desilusão amorosa. o eu lírico divide com as rosas a tristeza que sente pela ausência da pessoa amada. o coração dá o tom -- vermelho -- à sensação, ou seja, ele vê, na rosa, o seu coração ferido e t...

o mundo é um moinho - cartola - comentário

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       O MUNDO É UM MOINHO              Cartola     [1908 - 80]  Ainda é cedo, amor  Mal começaste a conhecer a vida  Já anuncias a hora de partida  Sem saber mesmo o rumo que irás tomar  Presta atenção, querida  Embora eu saiba que estás resolvida  Em cada esquina cai um pouco tua vida  Em pouco tempo não serás mais o que és  Ouça-me bem, amor  Preste atenção, o mundo é um moinho  Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho  Vai reduzir as ilusões a pó  Preste atenção, querida  De cada amor, tu herdarás só o cinismo  Quando notares, estás à beira do abismo  Abismo que cavaste com teus pés    . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .   . neste samba "o mundo é um moinho", eu lírico fala com sua amada que está indo embora, para decepção dele. ele procura dissuadi-la da ação de abandoná-lo, di...

amarElo é plantação de humanidade

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  amarElo - é tudo pra ontem   -  documentário - emicida. onde: netflix com o mote "plantar - regar - colher" o ativista e compositor emicida (leandro oliveira) organiza documentário em que revisita história da negritude pelo brasil. o documentário  cita a escravidão, homenageia o samba, o hip hop, figuras importantes como tebas, ruth de souza, donga, lelia gonzalez, racionais, marielle franco, wilson das neves e tantos outros para reforçar ideia de que a união deveria nortear a luta da comunidade preta, no país. o trabalho base está no teatro municipal, com música de emicida. convidados bem ilustres, majur e pablo vittar dão o tom da diversidade dentro discurso do documentário que sinaliza que não se luta pela metade. se a ideia é falar de excluídos, como os pretos, então havia espaço para comunidade lgbt e trans.  poesia, história, memória, arte plástica e, principalmente, gente unida, fazem deste  documentário uma necessidade urgente. temas como gentr...

sonho de um sonho - aula carlos drummond de andrade

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"claro enigma", 1951, é o livro mais sério da vasta carreira do poeta carlos drummond de andrade. poderia ter sido mais altiva se não publicasse tanto rascunho. enfim, ainda bem que há poetas melhores como gonçalves dias, joão cabral ou mário faustino, só pra ficar em três. vamos a mais uma proposta de exercício para sua aula, professor, professora. pensei em em dois textos com o nome "sonho de um sonho". segue um trecho do primeiro, dentro de "claro enigma": ​ SONHO DE UM SONHO​ ​Sonhei que estava sonhando e que no meu sonho havia um outro sonho esculpido Os três sonhos superpostos Dir-se-ia apenas elos de uma infindável cadeia de mitos organizados em derredor de um pobre eu Eu, que mal de mim, sonhava! Sonhava que no meu sonho retinha uma zona lúcida para concretar o fluido como abstrair o maciço Sonhava que estava alerta e mais do que alerta, lúdico e receptivo e magnético (...) e em torno de mim se d...