conto do livro "morangos mofados" do caio f abreu.
aqui, a relação entre psicanalista e paciente. o tempo da narrativa é o da sessão, desde a chegada da paciente, até o término e a a vinda de outro, quando o texto se encerra. o começo é assim:
Rói as unhas no momento em que abro a porta, a bolsa comprimida
contra os seios. Como sempre, penso, ao deixá-la passar, cabeça baixa, para
sentar-se no mesmo lugar, segundas e quintas, dezessete horas: como
sempre. Fecho a porta, caminho até a poltrona à sua frente (...)
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a paciente conta um episódio que antecede sua chegada ao consultório, que é o tropeço em um caixão de defunto. ela estava entretida com suas ameixas, comendo com vontade, dobra uma esquina e topa com o caixão saindo da casa. a paciente e o psicanalista fumam vários cigarros, durante a sessão.
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(...) então eu vinha caminhando
devagarinho as ameixas eu não conseguia parar de comer, sabe, já tinha
comido acho que umas seis estava toda melada quando dobrei a esquina aqui
da rua e ia saindo um caixão de defunto do sobrado amarelo (...) foi bem na hora que eu dobrei não deu tempo de parar
nem de desviar daí então eu tropecei no caixão e as ameixas todas caíram
assim paf! na calçada (...)
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ao final, ela retira uma ameixa da bolsa, deixa sobre a agenda do psicanalista e lhe deseja "feliz ano novo". sai. ele, preocupado -- era setembro -- decide ligar aos pais dela para que a internem novamente. quando vai olhar para as meias, não dá tempo, a secretária anuncia outro paciente.
o que teria levado o psicanalista a querer que ela fosse internada? a história do defunto chama atenção e, presunção minha, pode se ligar a um possível desejo de morte da própria paciente -- ou de outro.
o que seria esta ameixa, no fim da história recheada de frutas? se "pera", "uva" e "maçã" trazem conotação sensual, de intimidade, a ameixa pode ser algo mais intenso do que a gradação "aperto de mão", "abraço" e "beijo". poder sexo mesmo.
vale notar que há dois conflitos nessa história: primeiro, aquilo que está embutido no discurso da paciente; segundo, ela havia notado que as meias do psicanalista estariam trocadas. isso o deixa curioso, ele disfarça, mas está querendo saber -- enquanto ela fala de seu assunto -- se seria uma branca e a outra listradinha de preto, mas não consegue ver. você deve estar pensando se realmente só a moça precisaria internação. certo?
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