quinta-feira, 30 de abril de 2020

navio negreiro e o desespero


                                              [ rugendas, século 19 ]

falei com meus alunos, esta semana, sobre castro alves.
claro, o destaque é navio negreiro

a negritude.

a denúncia social.

há os excessos de interjeições, hipérboles e exclamações. 
forças previsíveis do estilo.

a juventude inerente à subjetividade de seus versos também conta.

com certeza, melhor poeta que casemiro de abreu, álvares ou mesmo gonçalves de magalhães. 

em "navio negreiro" há revolta, nas palavras do poeta, mas, no limite, ela clama por deus, chama as ondas do mar, os ventos, até um tufão é gritado.

não se trata, neste caso, de crítica social como se viu em "o primo basílio" (eça) ou "quincas borba" (machado), livros do período posterior ao romantismo.

é um clamor de desespero.

é castro alves

é o romantismo.

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segunda-feira, 27 de abril de 2020

capítulo 4 versículo 3 - racionais mc's



racionais mc's
sobrevivendo no inferno, 1997

a letra de capítulo 4 versículo três mostra mais de um gênero literário, além, claro do lírico.

relatório e o litúrgico 

são apresentados números da violência e exclusão social

"60% dos jovens de periferia
Sem antecedentes criminais
Já sofreram violência policial
A cada quatro pessoas mortas pela policia, três são negras
Nas universidades brasileiras
Apenas 2% dos alunos são negros
A cada quatro horas um jovem negro morre violentamente em São Paulo (...)"

há momentos em que a letra se liga a discurso religioso

"E ah profecia se fez como previsto
(1997) depois de Cristo a fúria negra ressuscita outra vez
Racionais, capitulo quatro versículo três

(...)
Irmão o demônio fode tudo ao seu redor
Pelo radio, jornal, revista e outdoor
Te oferece dinheiro, conversa com calma
Contamina seu caráter, rouba sua alma 
(...)"


existe o desabafo, existem pequenas narrativas sobre vida na periferia

arranjo da música é pontuado por uma voz feminina que canta a palavra “aleluia” no refrão, trecho extraído da canção “pearls”, gravada pela britânica sade e termina com o som de um sino de igreja

é a raiva diante das diferenças de classe e o racismo

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letra e música  - -
capítulo 4 versículo 3



segunda-feira, 20 de abril de 2020

entre a educação e a barbárie



sim, abril de 2020, dia 20.

mais um dia de quarentena.

já começou uma movimentação pelo retorno do comércio e outras atividades, pelas cidades. tomara que não vingue, neste mês, pelo menos. 

houve manifestação, em s paulo, neste fim de semana, pregando que vírus covid-19 é fraude, uma invenção. 

as mortes, segundo as gentes, são causadas por h1n1. terrível. difícil pedir coerência a quem é ignorante e quer continuar na treva.


a ciência tem exposto à exaustão hospitais sem leito, covas anônimas, choro, solidão, horror. mas há quem faça manifestação pelo retorno às ruas. 

são ambiciosas,  dinheiristas, incapazes de compreender o que vai adiante do nariz. 
como é claro de onde vem a indicação da quarentena, a insensatez ataca cientistas, meios de informação e até o governador igualmente de direita por causa do isolamento que se prolonga. 

para azar dessa gente, o governo federal brasileiro é também de extrema direita e, com medo do impeachment, ainda sustenta discurso sobre importância do isolamento. a pessoa anti-ciência fica encurralada e, obrigada a pensar, surta, sai à rua, grita. 


e olhe que a aposta na demissão de mandetta (dem) era balão de ensaio para a popularidade da presidência, surtiu efeito nenhum na maioria da população: ninguém aplaudiu a façanha de demitir quem lutava pela saúde. 


estamos entre a educação de nossa gente e a barbárie dos insensatos.


educadores, humanistas, adultos com gosto por viver, devem sim continuar divulgando trabalhos dos cientistas, pregando coerência, respeito à coletividade, bom senso, verdade. 


hoje, constituição, ciência e pequena parcela da imprensa são a favor da humanidade e pedem que se fique em casa.


é a única saída.

sábado, 18 de abril de 2020

leituras brasileiras: a lista



adoro listas. por isso, encaro esta que é também sugestão para você que me lê.

leituras brasileiras desde o século 17.

de modo pretensioso, fiz lista de leituras que considero imprescindíveis.
a ordem é minha: quem é mais legal ocupa as vinte primeiras posições.


se discordar, está livre para fazer a sua.

aí vai:


1 - Grande sertão:veredas - G Rosa
2 - Dom Casmurro - Machado
3 - Lavoura arcaica - Raduan
4 - A paixão segundo GH - Clarice
5 - Morte e Vida Severina - Cabral
6 - Mem Póstumas de B Cubas - Machado
7 - Macunaíma - Mário
8 - São Bernardo - Graciliano
9 - Triste fim de P Quaresma - L Barreto
10 - Viva a Vaia - Augusto de Campos
11 - Nove noites - Bernardo Carvalho
12 - Poesia completa - Faustino
13 - Livro sobre nada - Manoel de Barros
14 - Noite na taverna - Azevedo
15 - Sagarana - Rosa
16 - Dois irmãos - M Hatoum
17 - Quarto de despejo - Carolina
18 - Três mulheres de três PPPês - Paulo Emílio
19 - Libertinagem - Bandeira
20 - O homem que sabia javanês - L Barreto
21 - Claro enigma - Drummond
22 - Fogo morto - J Lins
23 - O Ateneu - Pompeia
24 - Navio Negreiro - Castro
25 - Poesia completa - Gregório
26 - Vidas secas - Graciliano
27 - Quarup - Callado
28 - Iracema - Alencar
29 - Budapeste - Chico
30 - O noviço - Pena
31 - Missa do Galo - Machado
32 - Um certo cap Rodrigo - Veríssimo
33 - Vestido de Noiva - Nelson
34 - Capitães da areia - Amado
35 - O quinze - Rachel
36 - A orelha de Van Gogh - Scliar 37 - Ai de ti, Copacabana - Braga 38 - O matador - Patríca Melo 39 - Morangos mofados - Caio 40 - O caderno rosa de Lori Lamby - Hilda H 41 - Romanceiro da Inconfidência - Cecília 42 - Bagagem - Prado 43 - Poemas Sonetos Baladas - Vinícius 44 - Felicidade - Gianetti 45 - Negrinha - Lobato 46 - Brás Bexiga e Barra Funda - Alcântara 47 - Raposa - Carneiro 48 - Marília de Dirceu - Gonzaga 49 - A grande arte - Rubem 50 - I-Juca Pirama - Gonçalves

terça-feira, 14 de abril de 2020

ficar em casa garante futuro





negação da ciência, crença em vírus comunista, crença na demência que nega a quarentena... sim, sim, estamos em abril de 2020 e há pessoas (parecem gente, pelo menos) que pregam volta ao trabalho pelo simples fato de que sem ele há menos lucro, menos caixa dois, menos submissão. 
já escrevi aqui, recentemente, que ficar em casa é ato contra burrice mais do que contra vírus. pior para a sandice que prega fim da quarentena, pois quem fica em casa conversa, mesmo que pouco, mas conversa. quem fica em casa ouve. quem fica casa presta atenção no que está em torno. 
essa gente que minimamente pensa já é uma tempestade contra quem prega fim da quarentena supostamente pelo bem da economia.
se ficarmos em casa, menos infecções. se ficarmos em casa, menos mortes. melhor pra economia, num futuro breve. se voltarem aglomerações, mais mortes. essa gente que prega fim do isolamento sabe disso. tanto que faz manifestação de carro. a questão é não deixar o povo em casa porque eles, naturalmente, vão descobrir com quem está a verdade.

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vale a pena assistir, juro
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domingo, 12 de abril de 2020

viver




primeira quinzena de abril. 2020.


não consigo imaginar atividades normais, na rua, antes do fim de agosto.


o esforço insano de profissionais de saúde, educadores e humanos sensatos parece começar a trincar por aqui. mais carreata contra o fim da quarentena, em alguns pontos do país. 


a cada dia que passa, neste abril, com tanta gente na rua, é mais atrdia a volta. insisto: do jeito que está hoje, antes do fim de agosto, nada de normalidade...  
a não ser que haja mesmo diminuição na circulação, pelas ruas. diminuição plena. 
mas a gente sabe que o brasileiro, em geral, acredita mais no que não existe do que naquilo que acontece diante dos olhos. sim, sim, desde 1500 boicotando educação. dá nisso: carreatas pelo fim da quarentena.

já vi marcha por jesus, marcha pela família, mas pra pegar doença é a primeira vez.


sinto que vai haver pressão para volta às ruas. sistemas de televisão, rádio e internet pró-governo federal apoiam o risco. 

educadores e influenciadores digitais precisamos continuar defendendo a vida. nem falo de ciência, arte, saúde mental, nada disso. é a vida mesmo. 

o projeto de extermínio de pobreza chegou com esse caos. lembro bem de "diário de um detento", racionais, 1997. 


"Mas não imaginavam o que estaria por vir
(...)
Era a brecha que o sistema queria
Avise o IML, chegou o grande dia

(...)O ser humano é descartável no Brasil
Como modess usado ou Bombril
Cadeia? Guarda o que o sistema não quis
Esconde o que a novela não diz"

segunda-feira, 6 de abril de 2020

novo ensaio sobre a cegueira


                                                    H. Touluse-Lautrec 


não é vida fácil a ninguém essa circunstância de trabalhos a distância, alémdo refletir sobre a política nacional e, acima de tudo, como isso se resolve, no campo da educação e vivências sociais.

fico lembrando episódio recente que é o crescimento da nova religião: o terraplanismo. por que lembro disto? porque parte do mundo acadêmico, científico, pedagógico e afins deu de ombros para o esfarelamento de instituições como universidade, diante do avanço do consumismo puro e simples.

sei que arrisco ficar sem esta ou aquela amizade, eu sei.
mas vou seguir.
hoje, abril de 2020, vejo professores atordoados, abalroados de tarefas a gerenciar, de todo tipo. professores de ensino fundamental, médio e pré-vestibular. aulas pela internet, aulas através de envio de documentos, áudios... e as demandas próprias burocráticas que tudo isso requer.

então, pergunto, novamente: onde estão os acadêmicos?
sei que há abnegados pelo país arrecadando alimento e roupa para assentamento, livros para quem não tem, eu sei. e a maioria? trabalhar mais com a juventude, sim e com os professores e professoras, sim. somar, na linha de frente da educação.
era momento  de reavivar, por exemplo, algo como o telecurso, século 20. usar a televisão para manter algum aprendizado.
neste governo federal, já se sabe: data das provas do enem foram mantidas. quem possui conforto, internet, material didático, está estudando. os mais necessitados, nem de longe. é contra eles que se luta, a gente sabe bem. daí meu apelo.
olhem, a internet requer menos burocracia que uso da televisão. mas a gente sabe, desde a privatização deste setor, nem todo brasileiro tem acesso a internet. logo, a televisão parece ser mais acessível, hoje. por que não usá-la? há redes públicas, pelos estados. rádios ligados à cultura. por que não mobilizar pacotes de ensino?
vejo acadêmicos, pensadores, muitos deles em mesas redondas de debate, via rádio, podcast, lives pelas mídias digitais fazendo análise desta pandemia. ótimo. necessário. jogam luzes racionais no meio do horror que é a perseguição à ciência que este governo federal, hoje, promove. eu sei, eu assisto, vejo, ouço, tento compreender e acompanhar.
contudo, mais precisa ser feito. não só professores e professoras de ensino fundamental e médio deveriam estar nessa batalha. estamos, como quase sempre, sós. o que fazer
?