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Mostrando postagens com o rótulo cartola

silêncio de um cipreste - cartola - um outro olhar

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  numa primeira postagem ( julho, 2022 ) comentando o samba "silêncio de um cipreste", do rei cartola, afirmei o seguinte:      (...) parece mesmo que existe culpa, nessa letra de cartola. então, a solução para o defeito seria mudar o pensamento – ao invés de tentar fazer alguma coisa. o pensamento, segundo o texto, é folha do cipreste que o vento leva, não tem peso. uma ação, pelo contrário, fica, tem peso, pode ser julgada. (...)       [  clica aqui pra ler o texto todo  ] hoje, releio, estudo, converso, então, resolvo fazer ressalva.  assim: a questão, no texto de cartola, não seria apenas o contraste entre o pensar e o fazer. lidar com pensamento não significa necessariamente deixar de fazer uma ação.  pode ser, mas nem sempre. olhem, a letra é introspectiva, revela arrependimento, é fato. agora, mudar o pensar também pode ser uma maneira nova de encarar o passado, ou seja, rever aquilo que o poeta diz não ter realizad...

disfarça e chora - cartola - comentário

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      DISFARÇA E CHORA       Cartola (1908 - 80)   Chora, disfarça e chora  Aproveita a voz do lamento  Que já vem a aurora  A pessoa que tanto querias  Antes mesmo de raiar o dia  Deixou o ensaio por outra  Ó triste senhora  Disfarça e chora  Todo o pranto tem hora  E eu vejo seu pranto cair  No momento mais certo  Olhar, gostar só de longe  Não faz ninguém chegar perto  E o seu pranto, ó triste senhora  Vai molhar o deserto  Chora, disfarça e chora   . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   . samba critica com algum escárnio o amor platônico de uma senhora por alguém. este objeto do desejo acaba indo para outra pessoa. "deixar o ensaio" pode significar metaforicamente, ensaio de escola de samba, ou seja, o sambista mudou de escola antes do carnaval; ou então: seu amor se foi antes da realização amorosa desejada... o que gerou choro. repa...

sim - cartola - comentário

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             SIM            Cartola [ 1908 - 80 ]   Sim,   Deve haver o perdão   Para mim   Senão nem sei qual será   O meu fim   Para ter uma companheira   Até promessas fiz   Consegui um grande amor   Mas eu não fui feliz   E com raiva para os céus   Os braços levantei   Blasfemei   Hoje todos são contra mim   Todos erram neste mundo   Não há exceção   Quando voltam a realidade   Conseguem perdão   Porque é que eu Senhor   Que errei pela vez primeira   Passo tantos dissabores   E luto contra a humanidade inteira      . . . . . . . . . . . . .   .  . samba com jeito de relato pessoal. o poeta está indignado porque não foi perdoado em função de sua blasfêmia, ou seja, culpou os céus e o "senhor" pela infelicidade amorosa. pessoas à sua volta criticam esta má ação, o que gera revolta, uma vez q...

silêncio de um cipreste - cartola - comentário

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       SILÊNCIO DE UM CIPRESTE              Cartola [ 1908 - 80 ]   Todo mundo tem o direito   De viver cantando   O meu único defeito   É viver pensando   Em que não realizei   E é difícil realizar   Se eu pudesse dar um jeito   Mudaria o meu pensar   O pensamento é uma folha desprendida   Do galho de nossas vidas   Que o vento leva e conduz   É uma luz vacilante e cega   É o silêncio do cipreste   Escoltado pela cruz . . . . . .   .   .   .   .   .   .   .   . canção expõe nota de arrependimento e busca de acolhimento. a tal da empatia, como se diz nesse nosso século. o eu lírico mostra que seu defeito é pensar no que não fez... parece mesmo que existe culpa, nessa letra de cartola. então, a solução para o defeito seria mudar o pensamento – ao invés de tentar fazer alguma coisa. o pensamento, segundo o texto, é fol...

que é feito de você - cartola - comentário

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      QUE É FEITO DE VOCÊ           Cartola ( 1908-80 )  O que é feito de você ó minha mocidade?  Ó minha força, a minha vivacidade?  O que é feito dos meus versos e do meu violão?  Troquei-os sem sentir por um simples bastão  E hoje quando passo a gurizada pasma  Horrorizada como quem vê um fantasma  E um esqueleto humano assim vai  Cambaleando quase cai, não cai  Pés inchados, passos em falso  O olhar embaçado  Nenhum amigo ao meu lado  Não há por mim compaixão  A tudo vou assistindo  A ingratidão resistindo  Só sinto falta dos meus versos  Da mocidade e do meu violão  . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   .   .   . neste samba, o eu lírico vê que sua mocidade não mais existe. a vivacidade não é mais a mesma. ele  demonstra a tristeza pela passagem do tempo.  o que se lê, aqui, é o poeta ressen...

alvorada - cartola - comentário

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             ALVORADA         Cartola   [1908 - 80]  Alvorada lá no morro, que beleza  Ninguém chora, não há tristeza  Ninguém sente dissabor  O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo  E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo   Você também me lembra a alvorada  Quando chega iluminando  Meus caminhos tão sem vida  E o que me resta é bem pouco  Quase nada, de que ir assim  Vagando numa estrada perdida  Alvorada    . . . . . . . . . .  .  .  .   .  .   .   . samba contrapõe a paisagem do morro à realidade triste do poeta, dentro de seus caminhos "tão sem vida". uma maneira de ter mundo melhor seria o momento da chegada da pessoa amada, comparada, claro, ao amanhecer no morro, lugar sem tristeza e muito lindo. olhem, todos sabemos -- até os que não moram no morro -- que a vida nesses locais é árdua. às vezes...

cordas de aço - cartola - comentário

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      CORDAS DE AÇO       Cartola [1908 - 80]  Ah, essas cordas de aço  Este minúsculo braço  Do violão que os dedos meus acariciam  Ah, este bojo perfeito  Que trago junto ao meu peito  Só você violão  Compreende porque perdi toda alegria  E no entanto meu pinho  Pode crer, eu adivinho  Aquela mulher  Até hoje está nos esperando  Solte o teu som da madeira  Eu você e a companheira  Na madrugada iremos pra casa  Cantando   * pinho: v iolão (madeira usada para o instrumento)   . . . . . . . . . . . .  .  .  .   . muito comum, no século 20, referir-se ao corpo das mulheres como "violão", por conta de sua forma ondulada, lembrando a cintura de uma figura feminina.  o texto de "cordas de aço" traz a relação de um músico e seu violão. o  instrumento pegado ao peito indica intimidade e cumplicidade. o poeta está sem "aquela mulher" ( ver...

as rosas não falam - cartola - comentário

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                            AS ROSAS NÃO FALAM         Cartola  [1908 - 80]   Bate outra vez  Com esperanças o meu coração  Pois já vai terminando o verão  Enfim  Volto ao jardim  Com a certeza que devo chorar  Pois bem sei que não queres voltar  Para mim  Queixo-me às rosas  Que bobagem as rosas não falam  Simplesmente as rosas exalam  O perfume que roubam de ti, ai  Devias vir  Para ver os meus olhos tristonhos  E, quem sabe, sonhavas meus sonhos  Por fim     . . . . . . . . .  .  .  .   .   . saudade é o tema deste samba de cartola. qual a queixa do poeta? resposta: desilusão amorosa. o eu lírico divide com as rosas a tristeza que sente pela ausência da pessoa amada. o coração dá o tom -- vermelho -- à sensação, ou seja, ele vê, na rosa, o seu coração ferido e t...

o mundo é um moinho - cartola - comentário

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       O MUNDO É UM MOINHO              Cartola     [1908 - 80]  Ainda é cedo, amor  Mal começaste a conhecer a vida  Já anuncias a hora de partida  Sem saber mesmo o rumo que irás tomar  Presta atenção, querida  Embora eu saiba que estás resolvida  Em cada esquina cai um pouco tua vida  Em pouco tempo não serás mais o que és  Ouça-me bem, amor  Preste atenção, o mundo é um moinho  Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho  Vai reduzir as ilusões a pó  Preste atenção, querida  De cada amor, tu herdarás só o cinismo  Quando notares, estás à beira do abismo  Abismo que cavaste com teus pés    . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .   . neste samba "o mundo é um moinho", eu lírico fala com sua amada que está indo embora, para decepção dele. ele procura dissuadi-la da ação de abandoná-lo, di...

cartola pra cabeça e livro: a busca de salvação

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  quando estava perto de terminar " abolição via vargas" ( romance ), achei um texto para epígrafe:   "ouça-me bem, amor /  preste atenção, o mundo é um moinho" é cartola, poeta e músico do século 20. o livro saiu em dezembro de 2021 -- saiba mais no vídeo abaixo. de lá pra cá, muita coisa se deu: tento deixar a depressão no controle, às vezes dá certo, mas na maioria das horas em que estou acordado, não. também existe o medo ainda desse coronavírus 19. por outro lado, houve matéria na tv-campinas ( eptv ) sobre o romance -- foi um reconhecimento e tanto... enfim, a aposentadoria tão esperada veio, mas ainda sinto que remo com a colher, sobre uma prancha, em plena areia da praia, tentando evitar a próxima ressaca do oceano. quase tudo dói. dentes, pés, cabeça, o peito, o ciático... não tudo de uma vez, mas aos poucos, feito garoa intermitente.  mais antigamente, eu acreditava piamente nas pessoas. hoje, sinto que são universos paralelos e que estou mesmo por ...