terça-feira, 29 de novembro de 2022

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

escolha de túmulo - josé paulo paes - comentário

 



                                                      [ j p paes - por osvalter ]


        
 ESCOLHA DE TÚMULO
                             José Paulo Paes

                               Mais bien je veus qu'un arbre
                             m'ombrage au lieu d'un marbre.  - Ronsard -

  Onde os cavalos do sono
  batem cascos matinais.

  Onde o mundo se entreabre
  em casa, pomar e galo.

  Onde ao espelho duplicam-se
  as anêmonas do pranto.

  Onde um lúcido menino
  propõe uma nova infância.

  Ali repousa o poeta.

  Ali um voo termina,
  outro voo se inicia.

     [in "prosas seguidas de odes mínimas", cia das letras]
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se você não sabe francês, a epígrafe de ronsard diz algo mais ou menos assim, tradução livre:
"só quero que uma árvore me faça sombra ao invés de um mármore".

poema com tema ligado à morte. a repetição "onde", no início de verso é conhecida como "anáfora", uma figura de linguagem.
o que temos, nese texto, é uma sequência de imagens ligadas ao fim da vida: "cavalos do sono", "pranto", "voo", "repousa" etc são uma maneira mais suave de descrever a passagem da vida para a morte, o que traz o nome de "eufemismo", outra figura de linguagem. 
vale lembrar que, pelo conjunto da obra de paes, podemos dizer que essa repetição de "onde" lembra uma reza, uma espécie de ladainha.
a figura do menino propondo nova história não deixa de ser um clichê que bem pode se ligar ao cristianismo e àquelas imagens de anjos, querubins e afins. contudo, a riqueza da proposta está no que o menino oferece: não se trata de outra vida, eternidades ou companhias divinas, mas sim uma outra infância. é inusitado. simbólico até o talo, faz crer que a infância é a melhor vida, porque livre, porque prestes a aprender tudo... é bem bonito. é literatura.

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sexta-feira, 18 de novembro de 2022

vai bater o sinal: vestibular não é tudo

 

a notícia é de 2007. charles, hoje, deve estar pelos 30 anos. escrevi o texto abaixo, logo que a notícia se deu, na época. 

foi assim: 

vejo no jornal desta semana que um jovem de 14 anos, no paraná, foi aprovado para ingresso em faculdade. teoricamente, alcançou vaga bem antes de terminar o ensino médio. charles ribeiro é seu nome. a faculdade é a puc de curitiba. família pleiteia, na justiça, direito de cursar a faculdade, pulando o ensino médio. 
ultimamente, tenho percebido muita pressa dos jovens em seguir logo em uma carreira, fazer cursos de especialização, idiomas, mais pós-graduações, correr, correr... não é bom. e por que continuam tentando pular etapas? pressão da comunidade? pressão do mercado? modismo? medo?
não sei quanto de precocidade há na mente de charles, o menino de quatorze anos que quer fazer faculdade, convivendo com mais velhos, respirando clima de gente que busca emprego e prazeres que só a privacidade de uma vida adulta e independente darão. tenho medo dessa pressa. dizem que, na época, charles era superdotado. pode ser. se considerado assim, apenas porque foi bem num exame vestibular, há controvérsia. os exames para faculdade não atestam, necessariamente, conhecimento profundo. não é uma avaliação, mas um exame. tem diferença. então, não é coisa de outro mundo um jovem de 14 anos conseguir fazer o exame. não duvido se muita gente, antes dos 15, estudasse um tanto, pudesse vencer um vestibular de faculdade. mas existe a vida a vencer e, para ela, não há prova antecipada. a maturidade é a experiência. a felicidade vem quase sempre junto.
a
proveito o espaço, aqui, para insistir: muito se pode fazer pelo planeta, pela reciclagem, economia de água etc. agora, é bom pensar um tanto na felicidade, com calma e responsabilidade.

tempos

 


ultimamente, figuras próximas perguntam como estou. pra uns digo que estável, pra outros não. depende da hora, depende do lugar.
há antidepressivos, remédios para pressão, umas iguarias mais específicas para alimentação. e pedras. sim, pedras. neste ano, detectaram várias, na vesícula, e devem ser retirada ainda em 2022.
uma canseira essa expectativa porque, apesar da distância de 4 anos, ainda lembro direitinho da cirurgia para retirar câncer de próstata. lembro bem porque o pós-operatório parece não querer sair da cabeça. nem do corpo. impotência, algum desânimo, sensação de solidão, desmotivação... 
parece que a decisão sobre o que fazer da vida já foi tomada, aqui dentro. só falta pôr em prática. parece simples. não é. 

sábado, 12 de novembro de 2022

comunicador fujiwara cria podcast sobre profissões

 


elucidar questões a respeito de determinadas carreiras pode ser a chave para um vestibular mais tranquilo. no mínimo, dá segurança. se você é estudante ou mesmo educador, precisa conhcer isto: voltado para estudantes de ensino médio, as conversas de oscar fujiwara buscam esclarecer ouvintes a respeito de determinadas profissões. 

vale a pena.

link abaixo
ouça podcast sobre profissões - clica

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

ao shopping center - josé paulo paes - comentário

 

                                                          [josé paulo paes 1926 - 98]

       AO SHOPPING CENTER
                   José Paulo Paes

    Pelos teus círculos

    Vagamos sem rumo

    Nós almas penadas

    Do mundo do consumo.

    Do elevador ao céu

    Pela escada ao inferno:

    Os extremos se tocam

    No castigo eterno.

    Cada loja é um novo prego em nossa cruz.

    Por mais que compremos

    Estamos sempre nus

    Nós que por teus círculos

    Vagamos sem perdão

    À espera (até quando?)

   Da Grande Liquidação.

 

     [in: "prosas seguidas de odes mínimas", cia das letras]
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criticando o consumismo, o eu lírico junta o espaço do shopping ao momento do julgamento final, à moda católica. o poeta afirma que "vagamos sem perdão", uma vez que o consumismo é símbolo de vaidade, ação tão condenada pelos católicos. olhem, gostar de si, querer agradar ao próprio ser é ruim para essa religião porque é a chance de que a pessoa seja mais dona de seus próprios atos e deixe de dar ouvidos a histórias de outros mundos.

aqui, o eu lírico não está criticando o catolicismo e suas leis punidoras, pelo contrário, condena os que frequentam shoppings centers e os trata como seres vazios. "cada loja é um prego" significa o erro de ser consumista, ou seja, ir ao shopping tira da pessoa a chance de ir à igreja. o poeta pune aquele(a) que compra.
o texto tem o caráter de uma "ode", ou seja, uma homenagem, na tradição clássica. no caso, uma grande ironia, como se lê ao final.
essas pessoas consumistas vazias esperam o grande perdão por serem o que são: consumidores. "grande liquidação", ao final, é t
rocadilho digno de aplauso. é instigante. é literatura.

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domingo, 6 de novembro de 2022

patriota no caminhão é chamado para justiça agir contra antidemocratas

 

                       retrato do mundo paralelo em que vivem bolsonaristas
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milly lacombe escreve muito próximo do que eu gostaria de assinar. como sei que a ideia é multiplicar chance de melhorar a vida, coloco aqui trechos de seu artigo, de novembro, 2022:

Bolsonaro perdeu e seu bando tomou as ruas. Homens e mulheres vestidos em amarelo deixaram claro desde o domingo (30/11) à noite que seguiriam as ordens de seu mito e aguardavam coordenadas (...)
As coordenadas dadas a partir de Brasília foram cifradas e cada um interpretou como quis. Entre marchas com bandeira em punho e cantorias de hino nacional com saudação nazista, os patriotas berravam que a direita veio para ficar. Leia-se extrema-direita, evidentemente.
A anistia geral e irrestrita na década de 80, deixando sem punição os torturadores da ditadura, nos trouxe até esse estado alucinado e violento de coisas. Não podemos mais errar assim. (...) É preciso haver punição aos golpistas, aos policiais rodoviários prevaricadores, aos empresários que estão financiando a baderna. (...) Punir todos os responsáveis de forma categórica e exemplar. Em seguida, investigar as inúmeras suspeitas de crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro (...)

leia o texto de milly lacombe - clica

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a cena do patriota pendurado no caminhão, lá em pernambuco, é ilustração do golpe que não deu certo. aliás, não se dá golpe do dia pra noite. 
olhem, gente cantando hino nacional pra pneu na estrada, outros carregando bandeira do brasil no carro e buzinando pra lombadas ou mesmo os alucinados pedindo ditadura, ofendendo e ameaçando, são figuras manipuláveis, são os ilegais, principalmente quando pedem militares no poder, pedem a morte a lideranças que chamam de "esquerda", tudo em nome de algo que nem eles mesmos sabem.
sim, é uma alegria desmedida saber que foi tirado do poder uma figura atroz. é um alívio. economia parece estabilizar-se e há acenos da política internacional em prol do país e de sua saúde. o terrível é lidar com seus alucinados seguidores que chutam a lei e ameçam ordem pública.
milly tem razão quando diz que a anistia da década de 1980 deixou de banir torturadores e defensores de genocídios, aqueles praticados pelos militares e apoiadores, por 21 anos, entre 1964 e 85. a anistia perdoou essa gente. o resultado é claro e, hoje, e não se pode errar mais.
vejam: ex-ministros, o próprio jair, filhos, aquela gente que repassou notícia falsa, propagou cloroquina, que desdenhou da vacina e das máscaras, gente que queimou floresta, pediu propina para vacinação, estuprou indígenas, comprou voto com orçamento secreto etc etc, essa gente precisa pagar, precisa ser presa. do contrário, amanhã, não será um patriota pendurado num caminhão... será uma frota gigante de patriotas atropelando a vida de verdade.
a história não perdoa deslizes.

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

canção - cecília meireles - comentário

 

     CANÇÃO

 Pus o meu sonho num navio
 e o navio em cima do mar;
 — depois, abri o mar com as mãos, 
 para meu sonho naufragar.

 Minhas mãos ainda estão molhadas
 do azul das ondas entreabertas,
 e a cor que escorre dos meus dedos
 colore as areias desertas.

 O vento vem vindo de longe,
 a noite se curva de frio;
 debaixo da água vai morrendo
 meu sonho, dentro de um navio...

 Chorarei quanto for preciso,
 para fazer com que o mar cresça,
 e o meu navio chegue ao fundo
 e o meu sonho desapareça.

 Depois, tudo estará perfeito:
 praia lisa, águas ordenadas,
 meus olhos secos como pedras
 e minhas duas mãos quebradas.

     Cecília Meireles [ Viagem, 1939 ]

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versos de oito sílabas poéticas, isso mesmo. octassílabos. ritmo regular com um par só de rimas por estrofe.
poema de caráter narativo, uma vez que há lista de ações e a voz de quem fala revela emoção; também de caráter lírico porque há ritmo regular e o apelo semântico desmedido presente no desfecho.
influenciada pelo simbolismo -- final do século 19 e inícios do 20 -- a poesia de cecília, aqui, expõe tristeza sem os exageros do romantismo. é de caráter depressivo, sim, o texto. lembra alguém que desiste de algo importante: o sonho. a bem da verdade, desistir de sonhos não é, necessariamente, algo ruim, mas aqui, é uma ação bem dolorosa, já que os olhos estão secos de tanto choro e mãos quebradas, ao final.
para ter certeza de que o sonho afundado está mesmo seguramente submerso, o eu lírico afirma que chorará muito: as lágrimas serão tantas que farão o mar crescer. haja rivotril.