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terça-feira, 26 de dezembro de 2023

o dia que júpiter encontrou saturno - caio f abreu - comentário

 


o conto, do livro "morangos mofados" (caio f abreu) traz uma história provavelmente datada: dezembro de 1980. júpiter e saturno estão em conjunção a cada 20 anos, aos olhos dos viventes do planeta terra. este ano, 1980, foi momento do encontro visível desses corpos do céu. narrador onisciente conta uma narrativa sob duas perspectivas diferentes. começa assim:

Foi a primeira pessoa que viu quando entrou. Tão bonito que ela baixou os olhos, sem querer querendo que ele também a tivesse visto.  (...) Com a movimentação dos outros, levantando o tempo todo para dançar rocks barulhentos ou afundar nos quartos onde rolavam carreiras e baseados, devagarinho conquistou a cadeira de junco junto à janela. A noite clara lá fora estendida sobre a Henrique Schaumann (...)
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a narrativa tem como cenário a cidade de são paulo.
história singela e simples: ela é tímida e está à janela, vendo estrelas, "discretamente infeliz" . ele, calças brancas, queimado de sol. conversam à beira da janela, mas não há conflitos explícitos.
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E de repente o rock barulhento parou e a voz de John Lennon cantou every day, every way is getting better and better. Na cabeça dela soaram cinco tiros. Os olhos subitamente endurecidos da moça voltaram-se para dentro, esbarrando nos olhos subitamente endurecidos do moço.
(...)
- Você gosta de Júpiter? 

- Gosto. Na verdade “desejaria viver em Júpiter onde as almas são puras e a transa é outra”. 

- Que é isso? 

- Um poema de um menino que vai morrer. 

- Como é que você sabe? 

- Em fevereiro, ele vai se matar em fevereiro. 

- Hein? 

(Silêncio) 

- Você tem um cigarro? 

- Estou tentando parar de fumar. 

- Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora. 

- Você tem uma coisa nas mãos agora. 

- Eu? 

- Eu. 

(silêncio)

(...) 

- Eu só sinto, mas não sei o que sinto. Quando sei, não compreendo. 

- Ninguém compreende. 

- Às vezes sim. Eu te ensino. 

 (...)

- Vou ver Júpiter e me lembrar de você. 

-Vou ver Saturno e me lembrar de você. 

- Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar. 

- O tempo não existe. 

- O tempo existe, sim, e devora. 

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o verso "desejaria viver em júpiter onde as almas são puras..." é de um poema de henrique do valle (vazio na carne). na sequência, ficam mais próximos, se beijam e ele vai embora. na rua, ele olha pra cima, vê uma moça à janela tentando dizer algo, ele não ouve. aí, em sua cabeça, soaram soaram cinco tiros. em seguida , ele atravessa a avenida e ela se recolhe. fim.
prosa poética que personifica a união dos planetas que se aproximam e partem a cada vinte anos, silenciosamente.
o tema é a solidão, linha mestra do estilo do livro "morangos mofados". solidão, mesmo que próximo a outro ser.
em dezembro de 1980, tempo do encontro dos planetas, cinco tiros soaram, em frente ao edifício dakota, nova york. era o fim para john lennon.

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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

aula expositiva o tempo todo é desperdício




é comum, na área do ensino, aqui pelo meu mundo, o desconforto da clientela com determinado professor, professora. muitas das vezes a culpa é do próprio aluno, porque quem tem a última palavra é sempre o adulto da relação, pelo menos como pede  a carteira de identidade.
quando alunos se dispersam ou vão mal nas avaliações (que muita gente insiste em chamar de prova) é comum cravar que a culpa é do aluno.
olhem, se a maioria, na sala, usa de artifícios para fugir da aula, mesmo de corpo presente, há algo errado sim com a aula e os métodos de quem a ministra. se a maioria vai mal numa avaliação, é preciso considerar umas tantas variáveis para se achar a causa, como: não se reforçou a data do evento; as questões tratadas na avaliação foram retiradas de manuais de vestibular (nada de própria autoria); professor(a) não explicou como estudar o conteúdo; professor(a) nunca fez ou propôs tarefas condizentes com os objetivos das aulas ou a emília, do sítio, embaralhou as perguntas e todo mundo ficou confuso.

insisto: melhorar a relação professor-aluno implica diretamente em rendimentos melhores, não só na sala de aula como nas avaliações -- caso elas se mostrem coerentes, diga-se.
não falo de relações subjetivas, pessoais, como ir ao churrasco da galera, jogar vôlei no intervalo ou dar carona aos alunos em dia de chuva. é a relação dentro da sala, em linguagem de dia-de-semana, perguntando, chamando atenção, mantendo a plateia unida a seu conteúdo.
é difícil? talvez, quando a maioria dos professores, professoras, ignora os alunos e dá aula independente da postura deles... muitos usam da avaliação seguinte como arma para ameaçar seu público, afirmando que o assunto é conteúdo de avaliação, como se isso mudasse a situação dos imigrantes sírios ou a gravidade em saturno.
se o professor, professora não sabe como lidar com essa relação, é preciso dividir com colegas, fazer reunião de professores e não com professores.  pedir ajuda à coordenação, cobrar mais proximidade com departamento pedagógico, mas não vale desistir do aluno. por favor.