domingo, 30 de outubro de 2022

escolas precisam assumir seu papel na história do país

 


o tempo dos vestibulares estressantes e do caminho estreito para universidades pode -- finalmente -- estar se extinguindo. não que os vestibulares terminarão logo. mas haverá mais opções, mais vagas, é isso que tento dizer. daí, menos estresse, penso eu. pode ser que essa guinada chamada "novo ensino médio" apenas reforce que tudo ficará como está, no quesito acesso à universidade. esperar pra ver.
olhem, os vestibulares de hoje e de tempos passados ainda insistem em cobrar quase sempre apenas informação e não conhecimento. lamentavelmente, esse tipo de exame norteia quase todas as escolas de ensino médio, no país, principalmente as particulares. estudantes saem dessas escolas sabendo o número atômico do hidrogênio, a fórmula de bahskara, o sistema econômico da itália na idade média ... daí, quando estão na rua, votam em anti-vacina, em terraplanista ou naqueles que destroem natureza. é o caos. é quase um meme.
a escola deve tratar das necessidades da comunidade, tratar do combate ao racismo, à valorização da natureza, a ciência, a leitura, a arte e o esporte... e, principalmente, como funciona a política de sua cidade, de seu país. 

já escrevi mais sobre essa questão da escola na vida da comunidade em que está inserida. clique abaixo, me diz o que acha.
importância da escola - clica



sábado, 22 de outubro de 2022

canção de exílio - josé paulo paes - comentário

 

                                   

      CANÇÃO DE EXÍLIO
                      José Paulo Paes [1926 - 98]

  Um dia segui viagem
  sem olhar sobre o meu ombro.


  Não vi terras de passagem
  Não vi glórias nem escombros.

  Guardei no fundo da mala
  um raminho de alecrim.
 
  Apaguei a luz da sala
  que ainda brilhava por mim.

  Fechei a porta da rua
  a chave joguei no mar.


  Andei tanto nesta rua
  que já não sei mais voltar.

   [in "prosas seguidas de odes mínimas", cia das letras]
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poema paródia do adocidado "canção do exílio", gonçalves dias, 1843.
aqui, século 20, ao contrário das boas expectativas no citado poema romântico, temos dose de pessimismo.
texto de caráter narrativo, revela que o poeta não viu, no passado, nem "glória" nem "escombro", ou seja, nada de ruim ou bom.
no fundo da mala, ou seja, dentro de si, vai um ramo de alecrim. na tradição europeia, era chamado de "rosmarino" -- flor do mar, para os romanos. aqui pelo país, é costume crer que o alecrim afasta inveja ou pesadelo. 
veja, mesmo não enxergando nada de ruim, no passado, melhor prevenir e botar alecrim na mala. é o medo. insegurança.
o eu lírico fecha a casa, joga a chave no mar, ou seja, busca distanciar-se de suas origens, de seus possíveis problemas, quer mudar de vida. a expectativa sobre o que esse eu lírico faz depois de tudo é quebrada, porque, no final, se descobre que talvez ele tenha se arrependido e só não volta porque se perdeu. outra leitura possível para esse desfecho você mesmo pode criar. é divertido. é literatura.

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  saiba mais sobre josé paulo:



segunda-feira, 17 de outubro de 2022

o fantástico mundo da depressão

 


há pouco soube que psiquiatra e terapeuta vão trocar ideia sobre o paciente remediado: eu. nada mal. importante esse registro. importante que troquem impressões. o paciente -- no caso, eu -- parece melhorar, mas isso é no campo da comparação e, no limite, especulação. no final dos anos 1960, por exemplo, eu estava ligeiramente melhor que hoje, com a desvantagem de não ter a menor ideia de como seria meu futuro. tinha entre 4 e 5 anos de idade. pelo menos não tinha depressão e nem sabia da existência da ponte preta. depressão é ruim, senhoras e senhores. bem ruim. quem não tem depressão sempre acredita que isso "uma hora passa". outros acreditam nos remédios, nos fitoterápicos, nos alopáticos, enfim, em algo que se possa ingerir ou esfregar e, pumba, começa o show. viva a tarja preta. só que não. 

há alguns anos, ando por aí cerca de um centímetro do chão: engastalhado de comprimidos, alguma ansiedade e pressão alta.
o caminho para o outro lado desse mundo da depressão é algo que desanima... solidão é única certeza. ainda bem que, após 50 anos de vida, por instinto de sobrevivência, instalei um piloto-automático no meu cérebro, chama-se fingimento. então, com ele preparo aula, vou a mercado, tiro selfie com os próximos, boto água na planta, faço comida e até durmo. pouco, mas durmo.
a sensibilidade aflorada não deixa digerir nada fora do simples. qualquer conflito vira um inferno... qualquer sensação de que um deslize foi cometido é motivo de quase pânico. perde-se a fome. existe a vergonha, a vontade de sumir. solidão.


já disse, em outro post, que ninguém vive nossa dor. é fato. mas com o fingimento você até pode fazer amigos. ele não funciona em terapias, já aviso. mas cabe bem no bar, na trilha, hora do lanche ou em formaturas.
terapeuta e psiquiatra devem ter algum plano. essa gente sempre tem. 
enquanto espero, vou sentar e tentar descansar um pouco.


sábado, 8 de outubro de 2022

dicas de leitura - ensino fundamental e médio

 



      LEITURAS PARA SALVAR O MUNDO

dentro desse mundo repleto de barbárie, há de se começar por algum lugar e, como trabalho em escolas, achei que poderia compartilhar o que pretendo fazer ano que vem com meus estudantes, todos do ensino médio.  de repente ajuda, no mínimo, a combater essa enxurrada de violência, ódio e racismo. quiçá, mudar o mundo pra melhor, de uma vez. 

 1. "a vida não é útil" (krenak) 

sugestão: 9o (fund2) e ensino médio

-- cuidar do planeta
-- relação do humano com a tecnologia
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 2. "olhos d'água" (conceição evaristo)

sugestão: ensino médio

- - pelo menos dois contos: o primeiro e mais um

-- debate sobre racismo estrutural; amor; passado da negritude

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 3. "pequeno manual antirracista" (djamila)

-- racismo institucional e estrutural

sugestão: ensino médio, 8o. e 9o. anos

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 4.  "campo geral" (g rosa)

sugestão: ensino médio 

-- família o que é; infância; ética; busca de felicidade

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 5. "o conto da ilha desconhecida" (saramago)

sugestão: ensino médio

-- busca de felicidade; rei versus povo; sonhar; coletividade; viajar

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 6. "ideias para adiar o fim do mundo", krenak

sugestão: 9o. ano e ensino médio

-- ambiente; futuro; comunidades indígenas; tecnologia

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 7. "o visconde partido ao meio" (calvino)

sugestão: 9o ano e  1a. série ensino médio

-- maniqueísmo; bem e mal; preconceito; democracia

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8. "cartola - dez sambas" (agenor de oliveira / música)

-- lirismo na literatura, desde idade média; questão social; identidade

sugestão: 8o. e 9o. anos; ensino médio

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as leituras precisam ser compartilhadas com pelo menos mais um educador, educadora... ideal era que toda classe docente, em algum momento do ano, tratasse de um tema -- pelo menos -- dentro da leitura escolhida; mesmo no caso das chamadas "exatas" é possível ter um instante pra discutir, por exemplo, como a ciência, pode colaborar para acabar com racismo, preservar mais a natureza etc. olhem, em "conto da ilha..." o tema é a busca de um lugar novo que muito bem pode estar dentro de cada um... navegar é preciso, diz um ditado luso... por isso, unir música, história e física pode tornar a leitura de saramago (item 5) algo surpreendente.  é possível sim, juntar as áreas de matemática, arte e língua portuguesa para discutir economia, poluição, mundo digital, espírito colaborativo, reciclagem... ideia não falta.
olhe, se você acha que não dá pra salvar o mundo todo agora,  a gente pode tentar salvar uma pessoa de cada vez, mês a mês, ano a ano.


domingo, 2 de outubro de 2022

luta contra barbárie continua!

 


sensacionalismo em parte da imprensa; o racismo institucional e instalações pelo país ligadas a pseudo-religiosos -- somem-se aí canais de tv que vendem reza -- colaboraram sim para expressiva votação de jair, neste primeiro turno, 2022. o atual presidente teve 43% dos votos contra 48% de lula.
olhem, figuras conservadoras e distantes de questões -- por exemplo -- ambientais, como ronaldo caiado (mato grosso), castro (rio de janeiro) ou ratinho júnior (paraná) dão o tom de como a influência dessas insituições (uma boa parte da imprensa; pseudo igrejas) atrapalha desenvolvimento de questões substantivas como natureza, fome, desemprego, democracia, ciência, arte, não-violência etc... acrescente-se a enxurrada de mentiras sobre humanidade, desde terra plana, cloroquina contra covid, comunismo no brasil e outras bizarrices nessa linha. barbárie. são as fake news a todo vapor. 
é assustador que mesmo depois das mais de 600 mil mortes na pandemia, crise dos combustíveis, as "rachadinhas" e discurso de ódio de políticos como jair não fizeram o brasileiro médio se render à realidade... e acabaram elegendo, hoje, o pazzuello, a damares, zema, o astroanauta, o eduardo bolsonaro, mourão, além de outros tantos conservadores e vendilhões para cargos no senado, congresso e governo. estarrecedor. 
volto a insistir: escolas têm chance de manter viva ideia de humanidade.
como: debatendo questões sociais, em sala de aula, desde voluntariado, horta comunitária, transporte público, poluição, orientação sexual (sim!) e acesso a informação decente ou acesso decente a informação. debatendo política nacional, lógico! também discutir respeito às diferenças; racismo; mais leitura. é a civilização com alguma chance. 

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sábado, 1 de outubro de 2022

política não é entretenimento

                               

fernanda magnota deu a letra e publicou texto de respeito: por um brasil que não trate política como entretenimento.

coloco aqui um trecho : 
"Chegamos às vésperas da eleição presidencial no Brasil, todos de ressaca, exaustos pela exposição à tanta baixaria. (...) A culpa disso é de todos aqueles que estimulam os próprios líderes a se comportarem como apresentadores de programa de auditório. Presidente não é feito para 'mitar', é feito para conceber, negociar e implementar políticas públicas que beneficiem o interesse coletivo.(...)"
                      F. Magnotta, setembro 2022

 texto está no site uol.
política não é entretenimento - fernanda [clica]
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olhem, brasileiro, em geral, encara política com negligência, com descaso. um tanto da culpa é a postura de muitos políticos que, quando candidatos, se mostram midiáticos, palhaços, verborrágicos. não dá. mas o brasieiro já votou na xuxa (sem que fosse candidata), já votou no cacareco (rinoceronte), no tiririca, bolsonaro, pastores em geral e uma infinidade de outras figuras desprezíveis, que mereciam distância do poder público. muitos eleitores fazem isso por pura farra ou falta de estudo mesmo; e são incentivados por parcela da política que procura capturar justamente esses eleitores iletrados.
escolas brasileiras perdem excelente oportunidade de começar a resolver o problema quando fingem que nada acontece para além dos muros da sala de aula. uma pena. as públicas levam ligeira vantagem sobre as privadas, via de regra, porque podem trabalhar sobre projetos, já as privadas estão assentadas em conteúdos teóricos. em geral, estudantes saem das escolas  sabendo o que é barroco, as leis de newton, a fotossíntese e a economia na roma antiga... mas depois, elegem políticos anti-povo; elegem políticos que desmatam amazônia, que se vangloriam da corrupção. é quase um meme. é o caos.
simular eleição, explicar como funciona o congresso, mostrar do que o país necessita e qual seu papel na onu, por exemplo, são ações tão básicas quanto existência de bebedouro no corredor ou banheiro no fim dele. tratar de temas da política local, do bairro onde a escola se insere também deveriam nortear os princípios da boa educação. 
passou da hora das escolas tratarem de questões substantivas assim como tratam da vida no egito antigo ou como se forma a palavra sambódromo.