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terça-feira gorda - caio fernando abreu - comentário

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                                                        caio fernando abreu (1948 - 96) o texto se inicia com a descrição de uma dança sedutora de um homem para outro homem,  sendo este último, o narrador.  D e repente ele começou a sambar bonito e veio vindo para mim. Me olhava nos olhos quase sorrindo, uma ruga tensa entre as sobrancelhas, pedindo confirmação. Confirmei, quase sorrindo também, a boca gosmenta de tanta cerveja morna, vodca com coca-cola, uísque nacional, gostos que eu nem identificava mais, passando de mão em mão dentro dos copos de plástico. Usava uma tanga vermelha e branca, Xangô, pensei, lansã com purpurina na cara, Oxaguiã segurando a espada no braço levantado, Ogum Beira-Mar sambando bonito e bandido. Um movimento que descia feito onda dos quadris pelas coxas, até os pés, ondulado, então olhava para baixo e o movime...

diálogo - caio f abreu - comentário

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                                                          caio fernando abreu [1948-96] " diálogo ", do livro "morangos mofados", texto em discurso direto, na estrutura de um drama, uma peça teatral. veja as primeiras linhas e o final: A: Você é meu companheiro.  B: Hein?  A: Você é meu companheiro, eu disse.  B: O quê?  A: Eu disse que você é meu companheiro.  B: O que é que você quer dizer com isso?  A: Eu quero dizer que você é meu companheiro. Só isso.  B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto.  A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico.  (...) A: Eu quero que você seja meu companheiro, eu disse.  B: O quê?  A: Eu disse que eu quero que você seja meu companheiro.  B: Você disse?  A: Eu disse?  B: Não. Não foi assim: eu disse.  A: O quê?  B: Você é meu co...

o dia que júpiter encontrou saturno - caio f abreu - comentário

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  o conto, do livro "morangos mofados" (caio f abreu) traz uma história provavelmente datada: dezembro de 1980. júpiter e saturno estão em conjunção a cada 20 anos, aos olhos dos viventes do planeta terra. este ano, 1980, foi momento do encontro visível desses corpos do céu.  narrador onisciente conta uma narrativa sob duas perspectivas diferentes.  começa assim: Foi a primeira pessoa que viu quando entrou. Tão bonito que ela baixou os olhos, sem querer querendo que ele também a tivesse visto.   (...) Com a movimentação dos outros, levantando o tempo todo para dançar rocks barulhentos ou afundar nos quartos onde rolavam carreiras e baseados, devagarinho conquistou a cadeira de junco junto à janela. A noite clara lá fora estendida sobre a Henrique Schaumann (...)   . . . . . . . .  .  .  .  .  .   .   .   . a narrativa tem como cenário a cidade de são paulo. história singela e simples: ela é tímida e e...

pera, uva ou maçã - caio f abreu - comentário

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  conto do livro "morangos mofados" do caio f abreu. aqui, a relação entre psicanalista e paciente. o tempo da narrativa é o da sessão, desde a chegada da paciente, até o término e a a vinda de outro, quando o texto se encerra. o começo é assim: Rói as unhas no momento em que abro a porta, a bolsa comprimida contra os seios. Como sempre, penso, ao deixá-la passar, cabeça baixa, para sentar-se no mesmo lugar, segundas e quintas, dezessete horas: como sempre. Fecho a porta, caminho até a poltrona à sua frente  (...)  . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .   .   . a paciente conta um episódio que antecede sua chegada ao consultório, que é o tropeço em um caixão de defunto. ela estava entretida com suas ameixas, comendo com vontade, dobra uma esquina e topa com o caixão saindo da casa. a paciente e o psicanalista fumam vários cigarros, durante a sessão.    .  . . . . .  .  .  .  .  ....

aqueles dois - caio fernando abreu - comentário

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  " aqueles dois ", conto do livro "morangos mofados", caio f abreu (1948-96) raul e saul trabalham numa mesma firma. um é do norte do país, outro do sul. gostam de van gogh, de dalva de oliveira, carlos gardel e bebidas. trabalham num lugar que, segundo um deles era um "deserto de almas também desertas". a aproximação deles é algo lento, natural, sem barulhos ou dilemas. não há, explicitamente, ao longo da narrativa, uma relação sexual entre eles, mas são bastante íntimos. raul perde a mãe, passa uma semana fora. saul sente falta. raul volta, eles bebem, se abraçam longamente. dormem no mesmo quarto, nus. saul vai embora logo cedo. logo depois, em janeiro, o chefe da repartição comunica a ambos que recebeu cartas de "um atento guardião da moral". nelas, falava-se em "psicologia deformada" e outras acusações. o chefe, temendo pela imagem da empresa, demite os dois. termina assim: Demoraram alguns minutos na frente do edifício. Depois ap...