filme de fernando meirelles -- baseado no livro de paulo lins, "cidade de deus" (2002) --, é obra impactante também em função do modo como se resolve contar a história, através de dois narradores: terceira pessoa e o personagem buscapé.
a trama toda acontece entre as décadas de mil novencentos e sessenta até o final da
década de setenta e inícios da seguinte, num rio de janeiro do subúrbio.
cidade de deus é complexo habitacional, no rio de janeiro, criado para abrigar
quem sofria com as enchentes, mas também resolvia, de modo cruel, a questão do
inchaço do grande centro.
buscapé e zé pequeno (dadinho) sempre se esbarraram em cidade de deus. ironicamente, um precisou do outro para maior reconhecimento
público, via fotografia.
mais
triste que violento, filme usa de cenas com tomadas em plano infinito,
mostrando muitas pessoas, dando um caráter turbulento às cenas o que combina com a personalidade do perssonagem zé pequeno. com direção impecável, o filme
mostra a comunidade à mercê dos grupos rivais que ascendem ao poder, no local,
pela violência.
mané galinha (seu jorge) é um exemplo típico do determinismo social, uma vez que sai
de um trabalho e pula para vida de criminoso no tráfico, por ser vítima da
crueldade de zé pequeno, consequentemente, do tráfico.
gosto
do filme porque não se presta a dividir o mundo entre "bem" e "mal",
bandido e mocinho ou propor uma nesga de esperança dentro do enredo, isolando
algum personagem mais simpático ou menos malvado. pelas personalidades dos personagens e suas origens sociais, filme de meirelles se aproxima de "bacurau" (dornelles/mendonça). em ambos existe a visão da exploração vertical da elite branca sobre pardos e pretos de subúrbio. a fotgrafia, inclusive, está presente em ambos: nas mãos e olhares de buscapé e, no caso de "bacurau", nas paredes do museu, no desfecho da trama.
o caráter documental da
história de "cidade de deus", além da movimentação de câmera e a violência dão o tom dinâmico ao filme que, parcialmente narrado por buscapé quase o deixa lírico, mas
sei que pode ser exagero.
NOTAS - -
Recebeu 4
indicações ao Oscar, nas categorias: Melhor Diretor, Melhor Roteiro
Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Fotografia.
- Recebeu uma indicação ao Globo de Ouro, categoria de Melhor Filme
Estrangeiro.
- Ganhou o BAFTA
de Melhor Edição, além de ter sido indicado na categoria de Melhor Filme
Estrangeiro.
- Recebeu uma
indicação ao Independent Spirit Awards, na categoria de Melhor Filme
Estrangeiro.
- Ganhou 9
prêmios no Festival de Havana, nas seguintes categorias: Melhor Filme, Melhor
Ator (dividido entre Matheus Nachtergaele, Seu Jorge, Alexandre Rodrigues,
Leandro Firmino da Hora, Philippe Haagensen, Johnathan Haagensen e Douglas
Silva), Prêmio da Universidade de Havana, Melhor Fotografia, Melhor Edição,
Prêmio FIPRESCI, Prêmio OCIC, Prêmio da Associação de Imprensa Cubana e Prêmio
Grand Coral.
- Ganhou 6
prêmios no Grande Prêmio Cinema Brasil, nas categorias: Melhor Filme,
Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem, Melhor Som e Melhor
Fotografia. Recebeu ainda outras 10 indicações, nas seguintes categorias: Melhor
Ator (Leandro Firmino da Hora), Melhor Atriz (Roberta Rodrigues), Melhor Ator
Coadjuvante (Douglas Silva e Jonathan Haagensen), Melhor Atriz Coadjuvante
(Alice Braga e Graziella Moretto), Melhor Figurino, Melhor Maquiagem, Melhor
Trilha Sonora e Melhor Direção de Arte.
- Grande parte do
elenco de Cidade de Deus foi escolhido entre garotos que vivem em
diversas comunidades e favelas do Rio de Janeiro e que não tinham tido até
aquele momento nenhum contato com a arte de atuar. Para fazer esta seleção
foram realizadas mais de 2000 entrevistas.