terça-feira, 27 de julho de 2021

queimar monumento é igualar-se ao que se quer combater

 

são paulo. bairro de santo amaro. julho 2021.
o ataque a fogo contra a estátua de manuel de borba gato (1649-1718) é assustador.
borba gato era genro de fernão dias -- aquele das esmeraldas -- e foi bandeirante brabo. é necessário rever homenagens desse tipo sim, isso é fato. protestar ante esse símbolo de violência é legítimo. querer a remoção da peça do seu lugar também é.

agora, simplesmente vilipendiar o monumento como se fosse a solução para os supostos crimes que ele cometeu no passado é burrice. 
não é apagando a história que se vai compreendê-la e melhorá-la.
se assim fosse, era só mudar o nome das ruas e avenidas "floriano peixoto" brasil afora, queimar estátuas de getúlio vargas, alterar o nome da rodovia castelo branco que tudo ficaria harmônico e mais democrático.. não dá.
necessário é não mais registrar logradouros públicos com nome de gente que cometeu crimes. simples assim.
respeito quem tem se manifestado contra a existência de estátuas como as de borba gato. mas quem queima não respeito não.
existem inimigos maiores, hoje.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

educar é preciso: viver, mais ainda

                    

passar de ano é o grande barato de nossos estudantes, desde a criação do colégio de jesuítas, na bahia, do século 16.

o que se quer é ser aprovado, ter diplominha. o resto é conversa.
nunca a aprovação foi menos importante que o aprendizado. nunca.

professores dos mais variados matizes têm sido experts nessa postura de buscar suposto aprendizado pela ameaça da avaliação. "vai cair na prova" é expressão gasta e muito útil para 99,99% dos professores e professoras que vivem aqui. o restante? os outros 0,01%, estão de parabéns.

educar não é tarefa fácil, todo mundo sabe. assim como não é fácil fazer uma cirurgia, cozinhar feijão, trocar pneu de carro ou construir um computador portátil. tudo se aprende. tudo se ensina.
escolas que sustentam essa máxima de que a prova é o que importa estão fadadas a serem trocadas à primeira oferta de provas mais baratas. escolas que passam o ano letivo cobrando apenas conteúdo acadêmico em suas aulas vão sim perder credibilidade porque só conteúdo acadêmico e a insossa promessa de acesso à universidade não faz mais verão como antigamente.
daí, quando se fala em homeschooling,  professores, filósofos e donos de cantina clamam por coerência e os benefícios da vida em comunidade. certíssimos. também sou contra essa tal "escola-em-casa". contudo, precisava existir mais verdade e menos hipocrisia nos processos educativos, tanto na rede privada como na pública. 

saiba mais, assista, por favor!


sábado, 17 de julho de 2021

"luca" trata de aceitação e liberdade para existir como se é

                                                 

longa metragem de animação da pixar, "luca" estreou em 2021 e traz uma história divertida mas tensa, de descobertas, perdas, busca de aceitação e amizade.

luca e alberto são seres marinhos, vivem na região da riviera italiana. 
quando estão fora da água, transformam-se em seres humanos. quando são tocados por água, retomam forma de seres marinhos. 
descobrem rapidamente que ser um elemento ligado a água é ser odiado pela maioria da população. além de luca e alberto, há mais seres como eles na comunidade que nunca quiseram expor verdadeira identidade. apenas no fim do filme, quando do término da corrida de bicileta com chuva: há quem se deixe molhar para justamente mostrar quem é. 
alberto é o mais experiente da dupla e morre de ciúme da nova amiga de luca, a giulia. ela desperta o jovem luca para histórias do planeta e das estrelas. estudar é um dos temas da segunda metade do filme.
com uma sutileza arrasadora, fica claro que quando mergulhamos no estudo, é possível melhorar vida no planeta; é possível entender as diferenças no outro e respeitar. deveria ser simples.

dá pra utilizar o longa metragem na escola e discutir, sim, afetividade entre meninos, assim como entre meninas. recomendo fundamental 2, desde sétima série ou até antes.

o debate precisa existir. 
se acontecer na escola, melhor ainda.

sábado, 10 de julho de 2021

parnasianismo parece não ter fim

 

                                            gil vicente ( série "inimigos") - bienal 2010

falo com meus alunos sobre o parnasianismo, estilo literário muito do empolado, cheio de firulas em versos e que muitos rotulavam de "arte pela arte". merecido. deveria ser chamado "fazer por fazer", um estilo que não combina com temas sociais, nem propõe filosofias. perfumaria pura. já aviso: não desconsidero o apelo artístico. é arte. eu só não gosto.

vejam, o soneto famoso da época é mesmo "a um poeta", assinado por bilac (aquele do hino à bandeira). pois bem, lá notexto tem-se a receita do modus vivendi parnasiano: longe do "turbilhão da rua" (distante de questões sociais) o poeta deveria dedicar-se a uma obra que fosse bela. arte pura… como um templo grego. até aí, as coisas.

de novo: não creio que a condição para eu gostar da arte é ter ou não questões sociais. o que incomoda, aqui, é o mero joguinho de palavras para se exibir a - suposta - habilidade para montar versos metrificados.

ano de 2010. s paulo. bienal internacional de arte: gil vicente, artista plástico pernambucano tem causado desconforto à patuleia paulista, quando estes estão diante de seus desenhos, na bienal, no ano de 2010. neles o próprio vicente está matando líderes políticos, como fhc, o papa ou george bush, dentre outros. são desenhos. estão na moldura, presos à parede. não se moverão. obviamente a vetusta ordem dos advogados do brasil fez menção de repúdio ao artista. não fez o mesmo quanto ao palhaço candidato, com nome de mato rasteiro. mas isso é outra conversa.

por que juntei bilac e vicente, aqui, é simples: faz séculos que a classe média do nosso ocidente nos dita o que consumir, o que gostar e o que repudiar. é isso. se não for colorido, parecido com a mona lisa, não vale. odeio essa tortura. o que vicente fez foram apenas desenhos. arte. incomoda… ainda bem!

sexta-feira, 9 de julho de 2021

o oitavo pecado - olavo bilac - soneto

 

   O OITAVO PECADO

      [ Bilac ]

 Vivendo para a morte, alegre da tristeza,
 Temendo o fogo eterno e a danação sulfúrea, 
 Gelaste no cilício, em ascética fúria, 
 A alma ridente, o sangue em esto, a carne acesa.
 Foste mártir e herói da própria natureza. 
 Intacto de ambição, de desejo ou de injúria,
 Para ganhar o céu, venceste a ira, a luxúria,
 A gula, a inveja, o orgulho, a preguiça e a avareza.
 Mas não amaste! E, além do Inferno, um outro existe,
 Onde é mais alto o choro e o horror dos renegados: 
 Ali, penando, tu, que o amor nunca sentiste,
 Pagarás sem amor os dias dissipados! 
 Esqueceste o pecado oitavo: e era o mais triste,
 Mortal, entre os mortais, de todos os pecados! 

    [ in: Tarde, 1918 ]

notas:  esto  - calor; paixão
            ascética - a que defende abstenção ante prazeres físicos
            cilício veste ou faixa carregada de metal para ferir a pele

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soneto alexandrino : doze sílabas poéticas por verso e 14 versos ao todo

poema revela que existe quem teme o fogo eterno (inferno, segundo cristãos), daí a necessidade de penintância para buscar o céu (paraíso)
repare o paradoxo do verso 1: "alegre da tristeza", ou seja, saber da morte é uma tristeza, mas o penitente está justamente buscando isto, portanto, também alegre, já que poderá ir ao paraíso se sofrer

leia-se: é necessário gelar -- via penitência do cilício -- o desejo sexual, a "carne acesa" ...

o eu lírico lista os pecados capitais do universo cristão e faz crítica àquele que se penitenciou -- sem amar -- para conseguir o tal paraíso: eis o oitavo pecado.
diz o penúltimo verso: "esqueceste o pecado oitavo", ou seja, não amar.

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saber mais :



quinta-feira, 8 de julho de 2021

beleza ao alcance de todos é questão de prova

 

                                                               [ laerte ]

acima, a charge da cartunista laerte satiriza certo procedimento na comunicação humana. 

- assinale alternativa que melhor define esse prcedimento

a) paradoxo

b) metalinguagem

c) clichê

d) personificação

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resposta

C

terça-feira, 6 de julho de 2021

a iara - olavo bilac - soneto comentado

                                                    

     A  I A R A     [ Olavo Bilac ]

 Vive dentro de mim, como num rio, 
 Uma linda mulher, esquiva e rara, 
 Num borbulhar de argênteos flocos, Iara 
 De cabeleira de ouro e corpo frio. 
 Entre as ninfeias a namoro e espio:
 E ela, do espelho móbil da onda clara,
 Com os verdes olhos úmidos me encara,
 E oferece-me o seio alvo e macio. 
 Precipito-me, no ímpeto de esposo, 
 Na desesperação da glória suma, 
 Para a estreitar, louco de orgulho e gozo... 
 Mas nos meus braços a ilusão se esfuma:
 E a mãe-d’água, exalando um ai piedoso,
 Desfaz-se em mortas pérolas de espuma.

        [ in: Tarde, 1919 ]

notas - -
- iara: ser mitológico metade peixe, metade mulher, com feições indígenas é também conhecida no folclore brasileiro como mãe-d'água e, segundo lenda, atrai homens para o fundo do rio... quem consegue espcapar acaba ficando louco

- ninfeia: espécie de planta aquática

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- poeta, feito um narciso tupiniquim, vê na água o reflexo da deusa iara... na verdade, pode estar olhando para si mesmo, como se vê no verso 1

- ela parece oferecer seu corpo a ele
- ou eu lírico precipita-se então para agarrá-la com "ímpetos de esposo", ou seja, desejo sexual.
- iara o engana, deixando o poeta apenas molhado das águas do rio 

- cheia de ironia -- talvez pena -- a mãe d´água solta um "ai", no final

- texto metrificado, segundo a lógica do parnasianismo: verso decassílabo
- há indício de loucura no poeta, logo no verso 1, quando afirma que a deusa do rio vive dentro de si, ou seja, o que ele vê, na água, seria seu próprio reflexo
- na verdade, versão tradicional do mito indígena é esquecida: iara, aqui no texto, é loira (cabelos "de ouro") -- poeta deve estar maluco mesmo...

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saiba mais sobre o poetastro :



quinta-feira, 1 de julho de 2021

o ateneu: romance que infelizmente ainda combina com século 21

 

converso com meus alunos, esta semana, sobre o livro de raul pompeia e, infelizmente, não me assusto mais com os depoimentos a respeito da vivência deles na escola. tenho ouvido basicamente a mesma coisa desde que comecei a trabalhar, em 1986. a turma a que me refiro é a de alunos que já terminaram o ensino médio, estão no modo pré-vestibular. 
o que a maioria confessa: reclama deste ou daquele autoritarismo; relembram com mágoa de situações ligadas à avaliação; não gostam de participar da aula -- sentem-se acuados ou intimidados, têm vergonha mesmo --, é muito triste. não os culpo. eles são resultado de quinhentos anos de ensino com viés jesuítico, ou seja: sala em silêncio sempre; aula no modo palestra; professor exerce autoridade sem empatia e quase não interage com alunos; problema no aprendizado vai se resolvendo com aula particular, remédio ou abandono da escola; regras pra tudo; hipocrisia; método de avaliação sempre desatualizado; censura a temas como sexualidade, política local ou religiosidade. é de chorar.

romance "o ateneu" saiu em 1888.
tema : crítica ao sistema educacional de internatos.
quem narra: sérgio, adulto, relembrando dois anos de sua infância dentro do colégio "ateneu", sob a autoridade despótica de aristarco, o diretor.


estilo
apresenta marcas realistas, como a linguagem culta e análise psicológoica de personagem. é evidente o caráter simbolista, pela subjetividade nas descrições e traz com influências do naturalismo, como destaque ao coletivo, assim como o determinismo e a sexualidade exposta como algo chocante (homossexualidade)

SAIBA MAIS


POR UMA ESCOLA ACOLHEDORA