terça-feira, 27 de julho de 2021
queimar monumento é igualar-se ao que se quer combater
quinta-feira, 22 de julho de 2021
educar é preciso: viver, mais ainda
passar de ano é o grande barato de nossos estudantes, desde a criação do colégio de jesuítas, na bahia, do século 16.
professores dos mais variados matizes têm sido experts nessa postura de buscar suposto aprendizado pela ameaça da avaliação. "vai cair na prova" é expressão gasta e muito útil para 99,99% dos professores e professoras que vivem aqui. o restante? os outros 0,01%, estão de parabéns.
sábado, 17 de julho de 2021
"luca" trata de aceitação e liberdade para existir como se é
descobrem rapidamente que ser um elemento ligado a água é ser odiado pela maioria da população. além de luca e alberto, há mais seres como eles na comunidade que nunca quiseram expor verdadeira identidade. apenas no fim do filme, quando do término da corrida de bicileta com chuva: há quem se deixe molhar para justamente mostrar quem é.
alberto é o mais experiente da dupla e morre de ciúme da nova amiga de luca, a giulia. ela desperta o jovem luca para histórias do planeta e das estrelas. estudar é um dos temas da segunda metade do filme.
dá pra utilizar o longa metragem na escola e discutir, sim, afetividade entre meninos, assim como entre meninas. recomendo fundamental 2, desde sétima série ou até antes.
o debate precisa existir.
se acontecer na escola, melhor ainda.
sábado, 10 de julho de 2021
parnasianismo parece não ter fim
gil vicente ( série "inimigos") - bienal 2010
falo com meus alunos sobre o parnasianismo, estilo literário muito do empolado, cheio de firulas em versos e que muitos rotulavam de "arte pela arte". merecido. deveria ser chamado "fazer por fazer", um estilo que não combina com temas sociais, nem propõe filosofias. perfumaria pura. já aviso: não desconsidero o apelo artístico. é arte. eu só não gosto.
vejam, o soneto famoso da época é mesmo "a um poeta", assinado por bilac (aquele do hino à bandeira). pois bem, lá notexto tem-se a receita do modus vivendi parnasiano: longe do "turbilhão da rua" (distante de questões sociais) o poeta deveria dedicar-se a uma obra que fosse bela. arte pura… como um templo grego. até aí, as coisas.
de novo: não creio que a condição para eu gostar da arte é ter ou não questões sociais. o que incomoda, aqui, é o mero joguinho de palavras para se exibir a - suposta - habilidade para montar versos metrificados.
ano de 2010. s paulo. bienal internacional de arte: gil vicente, artista plástico pernambucano tem causado desconforto à patuleia paulista, quando estes estão diante de seus desenhos, na bienal, no ano de 2010. neles o próprio vicente está matando líderes políticos, como fhc, o papa ou george bush, dentre outros. são desenhos. estão na moldura, presos à parede. não se moverão. obviamente a vetusta ordem dos advogados do brasil fez menção de repúdio ao artista. não fez o mesmo quanto ao palhaço candidato, com nome de mato rasteiro. mas isso é outra conversa.
sexta-feira, 9 de julho de 2021
o oitavo pecado - olavo bilac - soneto
O OITAVO PECADO
[ Bilac ]
Vivendo para a morte, alegre da tristeza,
Temendo o fogo eterno e a danação sulfúrea,
Gelaste no cilício, em ascética fúria,
A alma ridente, o sangue em esto, a carne acesa.
Foste mártir e herói da própria natureza.
Intacto de ambição, de desejo ou de injúria,
Para ganhar o céu, venceste a ira, a luxúria,
A gula, a inveja, o orgulho, a preguiça e a avareza.
Mas não amaste! E, além do Inferno, um outro existe,
Onde é mais alto o choro e o horror dos renegados:
Ali, penando, tu, que o amor nunca sentiste,
Pagarás sem amor os dias dissipados!
Esqueceste o pecado oitavo: e era o mais triste,
Mortal, entre os mortais, de todos os pecados!
[ in: Tarde, 1918 ]
notas: esto - calor; paixão
ascética - a que defende abstenção ante prazeres físicos
cilício - veste ou faixa carregada de metal para ferir a pele
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soneto alexandrino : doze sílabas poéticas por verso e 14 versos ao todo
poema revela que existe quem teme o fogo eterno (inferno, segundo cristãos), daí a necessidade de penintância para buscar o céu (paraíso)
repare o paradoxo do verso 1: "alegre da tristeza", ou seja, saber da morte é uma tristeza, mas o penitente está justamente buscando isto, portanto, também alegre, já que poderá ir ao paraíso se sofrer
leia-se: é necessário gelar -- via penitência do cilício -- o desejo sexual, a "carne acesa" ...
o eu lírico lista os pecados capitais do universo cristão e faz crítica àquele que se penitenciou -- sem amar -- para conseguir o tal paraíso: eis o oitavo pecado.
diz o penúltimo verso: "esqueceste o pecado oitavo", ou seja, não amar.
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saber mais :
quinta-feira, 8 de julho de 2021
beleza ao alcance de todos é questão de prova
[ laerte ]
a) paradoxo
b) metalinguagem
c) clichê
d) personificação
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resposta
C
terça-feira, 6 de julho de 2021
a iara - olavo bilac - soneto comentado
A I A R A [ Olavo Bilac ]
Vive dentro de mim, como num rio,
Uma linda mulher, esquiva e rara,
Num borbulhar de argênteos flocos, Iara
De cabeleira de ouro e corpo frio.
Entre as ninfeias a namoro e espio:
E ela, do espelho móbil da onda clara,
Com os verdes olhos úmidos me encara,
E oferece-me o seio alvo e macio.
Precipito-me, no ímpeto de esposo,
Na desesperação da glória suma,
Para a estreitar, louco de orgulho e gozo...
Mas nos meus braços a ilusão se esfuma:
E a mãe-d’água, exalando um ai piedoso,
Desfaz-se em mortas pérolas de espuma.
[ in: Tarde, 1919 ]
notas - -
- iara: ser mitológico metade peixe, metade mulher, com feições indígenas é também conhecida no folclore brasileiro como mãe-d'água e, segundo lenda, atrai homens para o fundo do rio... quem consegue espcapar acaba ficando louco
- ninfeia: espécie de planta aquática
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- poeta, feito um narciso tupiniquim, vê na água o reflexo da deusa iara... na verdade, pode estar olhando para si mesmo, como se vê no verso 1
- ela parece oferecer seu corpo a ele
- ou eu lírico precipita-se então para agarrá-la com "ímpetos de esposo", ou seja, desejo sexual.
- iara o engana, deixando o poeta apenas molhado das águas do rio
- cheia de ironia -- talvez pena -- a mãe d´água solta um "ai", no final
- texto metrificado, segundo a lógica do parnasianismo: verso decassílabo
- há indício de loucura no poeta, logo no verso 1, quando afirma que a deusa do rio vive dentro de si, ou seja, o que ele vê, na água, seria seu próprio reflexo
- na verdade, versão tradicional do mito indígena é esquecida: iara, aqui no texto, é loira (cabelos "de ouro") -- poeta deve estar maluco mesmo...
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saiba mais sobre o poetastro :
quinta-feira, 1 de julho de 2021
o ateneu: romance que infelizmente ainda combina com século 21
converso com meus alunos, esta semana, sobre o livro de raul pompeia e, infelizmente, não me assusto mais com os depoimentos a respeito da vivência deles na escola. tenho ouvido basicamente a mesma coisa desde que comecei a trabalhar, em 1986. a turma a que me refiro é a de alunos que já terminaram o ensino médio, estão no modo pré-vestibular.
o que a maioria confessa: reclama deste ou daquele autoritarismo; relembram com mágoa de situações ligadas à avaliação; não gostam de participar da aula -- sentem-se acuados ou intimidados, têm vergonha mesmo --, é muito triste. não os culpo. eles são resultado de quinhentos anos de ensino com viés jesuítico, ou seja: sala em silêncio sempre; aula no modo palestra; professor exerce autoridade sem empatia e quase não interage com alunos; problema no aprendizado vai se resolvendo com aula particular, remédio ou abandono da escola; regras pra tudo; hipocrisia; método de avaliação sempre desatualizado; censura a temas como sexualidade, política local ou religiosidade. é de chorar.
romance "o ateneu" saiu em 1888.
tema : crítica ao sistema educacional de internatos.
quem narra: sérgio, adulto, relembrando dois anos de sua infância dentro do colégio "ateneu", sob a autoridade despótica de aristarco, o diretor.
estilo: apresenta marcas realistas, como a linguagem culta e análise psicológoica de personagem. é evidente o caráter simbolista, pela subjetividade nas descrições e traz com influências do naturalismo, como destaque ao coletivo, assim como o determinismo e a sexualidade exposta como algo chocante (homossexualidade)
SAIBA MAIS
POR UMA ESCOLA ACOLHEDORA