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Mostrando postagens com o rótulo bilac

último carnaval - olavo bilac - comentário

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            ÚLTIMO CARNAVAL     Íncola de Suburra ou de Síbaris,    Nasceste em saturnal; viveste, estulto,    Na folia das feiras, no tumulto    Dos caravançarás e dos bazares;     Morreste, em plena orgia, entre os esgares    Dos arlequins, no delirante culto;    E a saudade terás, depois sepulto,    Heróis folião, dos carnavais hílares...     Talvez, quem sabe? a cova, que te esconda,    Uma noite, entre fogos-fátuos, se abra,    Como uma boca escancarada em risos:    E saltarás, pinchando, numa ronda    De espectros aos tantãs, dança macabra    De esqueletos e lêmures aos guizos...                            [ T ard e, Bilac, 1919 ]     n ota  íncola  -  morador de algum local  suburra  -  região ...

as árvores - olavo bilac - soneto comentado

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     AS ÁRVORES    Na celagem vermelha, que se banha   Da rutilante imolação do dia,   As árvores, ao longe, na montanha,   Retorcem-se espectrais à ventania.    Árvores negras, que visão estranha   Vos aterra? que horror vos arrepia?   Que pesadelo os troncos vos assanha,   Descabelando a vossa ramaria?    Tendes alma também... Amais o seio   Da terra; mas sonhais, como sonhamos,   Bracejais, como nós, no mesmo anseio...    Infelizes, no píncaro do monte,   (Ah! não ter asas!...) estendeis os ramos   À esperança e ao mistério do horizonte...     [ Olavo Bilac - Tarde , 1919 ]     notas   celagem - aspecto do céu ao fim do dia ou no começo   espectrais - fantasmagóricas   bracejais - mexer, agitar galhos . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .   .   . soneto do livro " tarde ", traz...

sinfonia - olavo bilac - tarde

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      SINFONIA  Meu coração, na incerta adolescência, outrora,  Delirava e sorria aos raios matutinos,  Num prelúdio incolor, como o alegro da aurora,  Em sistros e clarins, em pífanos e sinos.   Meu coração, depois, pela estrada sonora  Colhia a cada passo os amores e os hinos,  E ia de beijo a beijo, em lasciva demora,  Num voluptuoso adágio em harpas e violinos.   Hoje, meu coração, num scherzo de ânsias, arde  Em flautas e oboés, na inquietação da tarde,  E entre esperanças foge e entre saudades erra...   E, heróico, estalará num final, nos clamores  Dos arcos, dos metais, das cordas, dos tambores,  Para glorificar tudo que amou na terra!       [BILAC, Olavo. Tarde , 1919]    nota      scherzo - peça musical ligeira, alegre   . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  ...

parnasianismo parece não ter fim

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                                              gil vicente ( série " inimigos ") - bienal 2010 falo com meus alunos sobre o parnasianismo, estilo literário muito do empolado, cheio de firulas em versos e que muitos rotulavam de "arte pela arte". merecido. deveria ser chamado "fazer por fazer", um estilo que não combina com temas sociais, nem propõe filosofias. perfumaria pura. já aviso: não desconsidero o apelo artístico. é arte. eu só não gosto. vejam, o soneto famoso da época é mesmo " a um poeta " , assinado por bilac ( aquele do hino à bandeira ). pois bem, lá notexto tem-se a receita do modus vivendi parnasiano: longe do " turbilhão da rua " ( distante de questões sociais ) o poeta deveria dedicar-se a uma obra que fosse bela. arte pura… como um templo grego. até aí, as coisas. de novo: não creio que a condição para eu gostar da arte é ter ou não qu...

o oitavo pecado - olavo bilac - soneto

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     O OITAVO PECADO       [ B ilac ]  Vivendo para a morte, alegre da tristeza,  Temendo o fogo eterno e a danação sulfúrea,   Gelaste no cilício, em ascética fúria,   A alma ridente, o sangue em esto, a carne acesa.  Foste mártir e herói da própria natureza.   Intacto de ambição, de desejo ou de injúria,  Para ganhar o céu, venceste a ira, a luxúria,  A gula, a inveja, o orgulho, a preguiça e a avareza.  Mas não amaste! E, além do Inferno, um outro existe,  Onde é mais alto o choro e o horror dos renegados:   Ali, penando, tu, que o amor nunca sentiste,  Pagarás sem amor os dias dissipados!   Esqueceste o pecado oitavo: e era o mais triste,  Mortal, entre os mortais, de todos os pecados!      [ in: Tarde , 1918 ] notas :   esto   - calor; paixão              ascética - a que defende abstençã...

a iara - olavo bilac - soneto comentado

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                                                           A  I A R A       [ Olavo Bilac ]  Vive dentro de mim, como num rio,   Uma linda mulher, esquiva e rara,   Num borbulhar de argênteos flocos, Iara   De cabeleira de ouro e corpo frio.   Entre as ninfeias a namoro e espio:  E ela, do espelho móbil da onda clara,  Com os verdes olhos úmidos me encara,  E oferece-me o seio alvo e macio.   Precipito-me, no ímpeto de esposo,   Na desesperação da glória suma,   Para a estreitar, louco de orgulho e gozo...   Mas nos meus braços a ilusão se esfuma:  E a mãe-d’água, exalando um ai piedoso,  Desfaz-se em mortas pérolas de espuma.         [ in: Tarde , 1919 ] notas - - - iara:  ser mito...

no meio do caminho é poema sóbrio e inquietante

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  NO MEIO DO CAMINHO No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. [ carlos drummond de andrade ] poema saiu em 1928, pela primeira vez, na revista de antropofagia ( oswald de andrade ). em 1930, passa a integrar o livro "alguma poesia".  o texto se liga a "nel mezzo del camin", soneto parnasiano de bilac, mas que também acena para dante alighieri e o início de sua divina comédia: "nel mezzo del camin di nostra vita...", séc 14. no caso de bilac, soa como crítica ao artificialismo sem sal do estilo parnasiano. o poema de drummond revela uma característica de um eu lírico tomado de certa covardia. é um eu poético que se apequena e isso se dá em outros livros, como "claro...

curiosidades mundo literário - divirta-se e aprenda

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  clarice lispector e a bruxaria? onde ? e o prêmio nobel a bob dylan? merecido? futebol na copa do mundo e literatura?  virginia woolf zoando a marinha inglesa ? oi? bilac e coelho neto fazem pose para reproduzir "aula de anatomia" do rembrandt? heim? saiba sobre essas e outras curiosidades aqui!

morte de orfeu - olavo bilac

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A MORTE DE ORFEU Houve gemidos no Ebro e no arvoredo, Horror nas feras, pranto no rochedo; E fugiram as Mênadas, de medo, Espantadas da própria maldição. Luz da Grécia, pontífice de Apolo, Orfeu, despedaçada a lira ao colo, A carne rota ensanguentando o solo, Tombou... E abriu-se em músicas o chão... A boca ansiosa um nome disse, um grito, Rolando em beijos pelo nome dito: “Eurídice”, e expirou... Assim Orfeu, No último canto, no supremo brado, Pelo ódio das mulheres trucidado, Chorando o amor de uma mulher, morreu...                                                                   [ T ARDE - O Bilac ] . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   .   .   . orfeu - mito ligado à música: b uscou recuperar sua amada morta...

tarde - sonetos de olavo bilac - resenha

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99 sonetos estilo burocrático parnasiano temas ligados à mitologia e alguma virtude humana confira, neste vídeo abaixo

samaritana - olavo bilac - soneto

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soneto decassílabo. poeta faz paródia de uma passagem bíblica, em que jesus cristo, perto de um poço, pede água para uma moça de samaria, a samaritana.  aqui, o apelo erótico toma a frente, na mensagem que é lírica. repare que a mulher é marcada como diferente da original bíblica: ela é um contraste, diz o verso 9 o poeta, depois de beber da "fonte eterna" ( eufemismo! metáfora boa! ) se diz envenenado... e até arrependido... de tão bom que deve ter sido. certeza.                      .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   . SAMARITANA Numa volta de estrada, em sede insana, Vi-te. Ao lado, a frescura da cisterna. E tinhas a expressão piedosa e terna, Como na Bíblia, da Samaritana. Deste-me de beber. Mas quanto engana, Às vezes, a piedade, e a esmola inferna! Deste-me de beber da fonte eterna, De ond...

anchieta - olavo bilac

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outro soneto do livro "tarde", bilac, 1919. josé de anchieta (1534 - 97) foi, segundo história oficial, o primeiro a fazer poesia, no país, ficção.  também publicou estudos sobre a língua tupi. o padre -- nascido nas ilhas canárias (espanha) -- é comparado a um santo: francisco e  também a um mito grego: orfeu    ANCHIETA Cavaleiro da mística aventura, Herói cristão! nas provações atrozes Sonhas, casando a tua voz às vozes Dos ventos e dos rios na espessura: Entrando as brenhas, teu amor procura Os índios, ora filhos, ora algozes, Aves pela inocência, e onças ferozes Pela bruteza, na floresta escura. Semeador de esperanças e quimeras,  Bandeirante de “entradas” mais suaves, Nos espinhos a carne dilaceras: E, porque as almas e os sertões desbraves,  Cantas: Orfeu humanizando as feras, São Francisco de Assis pregando às aves . . . . . . . . . . . .  .  .  .  .   .   ....

língua portuguesa - olavo bilac

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mais um poema do livro "tarde", 1919, bilac "última flor do lácio" o que é? o latim, base da língua portuguesa, nasceu na região do lácio, próximo a roma dele, latim, vieram o romeno, francês, espanhol e, por fim, o português logo, a língua é a última flor, um eufemismo para o latim que termina sua jornada no idioma de camões aqui, homenageia a língua portuguesa mas faz ressalva, afirmando que ela ainda é um tanto rude, barulhenta... não é do estilo do poeta expor a vida em sociedade, a realidade. bilac escrevia para os próximos, para um grupo elitizado que via no vocabulário raro, nas tramas de uma sintaxe mais complexa um certo engrandecimento do idioma ainda bem que gente como guimarães rosa, oswald de andrade, carolina de jesus, patativa do assaré -- e tantos outros -- trataram de valorizar nosso idioma sem pedantismo . . . . . . . .  .  .   .  .  .  .  .  .   .   . LÍNGUA PORTUGUESA Última...

hino à tarde - olavo bilac

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primeiro poema do livro "tarde", 1919. publicado postumamente, pois olavo bilac faleceu em 1918.   HINO À TARDE  Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas,  Alva! Natal da luz, primavera do dia,  Não te amo! Nem a ti, canícula bravia,  Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas!    Amo-te, hora hesitante em que se preludia  O adágio vesperal, - tumba que te recamas  De luto e de esplendor, de crepes e auriflamas,  Moribunda que ris sobre a própria agonia!  Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre  Os primeiros clarões das estrelas, no ventre,  Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada,  Trazes a palpitar, como um fruto do outono,  A noite, alma nutriz da volúpia e do sono,  Perpetuação da vida e iniciação do nada... . . . . . . . . . .  .  .  .  .    . nota estruis  - estraga adágio - sentença, ditad...