domingo, 31 de maio de 2020

samaritana - olavo bilac - soneto


soneto decassílabo.
poeta faz paródia de uma passagem bíblica, em que jesus cristo, perto de um poço, pede água para uma moça de samaria, a samaritana. 

aqui, o apelo erótico toma a frente, na mensagem que é lírica.

repare que a mulher é marcada como diferente da original bíblica: ela é um contraste, diz o verso 9
o poeta, depois de beber da "fonte eterna" (eufemismo! metáfora boa!) se diz envenenado... e até arrependido... de tão bom que deve ter sido.
certeza.

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SAMARITANA

Numa volta de estrada, em sede insana,
Vi-te. Ao lado, a frescura da cisterna.
E tinhas a expressão piedosa e terna,
Como na Bíblia, da Samaritana.
Deste-me de beber. Mas quanto engana,
Às vezes, a piedade, e a esmola inferna!
Deste-me de beber da fonte eterna,
De onde a torrente dos remorsos mana.
Com a água que me deste (que contraste
De ti para a mulher de Samaria!)
A boca e o coração me envenenaste:
Maior do que o da sede, este tormento,
Esta ânsia singular, esta agonia
Que é de saudade e de arrependimento!

Olavo Bilac

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