AS ÁRVORES
Na celagem vermelha, que se banha
Da rutilante imolação do dia,
As árvores, ao longe, na montanha,
Retorcem-se espectrais à ventania.
Árvores negras, que visão estranha
Vos aterra? que horror vos arrepia?
Que pesadelo os troncos vos assanha,
Descabelando a vossa ramaria?
Tendes alma também... Amais o seio
Da terra; mas sonhais, como sonhamos,
Bracejais, como nós, no mesmo anseio...
Infelizes, no píncaro do monte,
(Ah! não ter asas!...) estendeis os ramos
À esperança e ao mistério do horizonte...
[ Olavo Bilac - Tarde, 1919 ]
notas
celagem - aspecto do céu ao fim do dia ou no começo
espectrais - fantasmagóricas
bracejais - mexer, agitar galhos
. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
fica a pergunta: para mais liberdade é preciso mesmo asas?
saiba mais sobre bilac !
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