Mostrando postagens com marcador pedra. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador pedra. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

pedras e albert camus

 

tiziano - séc 16

leio em camus que ser árvore ou galinha é algo mais lógico pois, nesses casos, seríamos o próprio mundo, tal como a árvore, uma galinha ou um riacho besta, perto da rodoviária. próximo disto, somos um estorvo. olhem, não somos o mundo, estamos nele. devia ser uma ttragédia essa constatação, mas o humano faz questãode descolar-se desta equação e querer parecer mais do que o óbvio...
daí, por que deveríamos manter a própria vida, se ela, em si, parece esquisita, num mundo de aves, borboletas ou pedras? não há nada que se pareça a um humano, nem mesmo saguis, do parque aqui ao lado. camus é um alberto caeiro sem ressaca. o livro, alguns conhecem, "o mito de sísifo", um ensaio sobre o absurdo. coloco aqui um nervo exposto porque esta é a razão de minha existência. certeza. ouça: "(...)
toda a ciência desta terra não me dará nada que possa certificar-me de que este mundo é meu".
no mesmo capítulo, o existencialista e passional camus vai dizer que, com um pouco de inteligência, sabe-se que o mundo é um absurdo. ou seja, abre aspas : "o absurdo é uma paixão, a mais lancinante de todas. mas o problema está em saber se podemos viver com nossas paixões, se podemos aceitar sua lei profunda, que é a de queimar o coração que elas ao mesmo tempo exalam".
o que é a liberdade? leia o poema 5 (cinco) de "o guardador de rebanhos", alberto caeiro. e o  resto em raduan nassar.

  . . . . . . .  .  .   .   .    .

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

tempos

 


ultimamente, figuras próximas perguntam como estou. pra uns digo que estável, pra outros não. depende da hora, depende do lugar.
há antidepressivos, remédios para pressão, umas iguarias mais específicas para alimentação. e pedras. sim, pedras. neste ano, detectaram várias, na vesícula, e devem ser retirada ainda em 2022.
uma canseira essa expectativa porque, apesar da distância de 4 anos, ainda lembro direitinho da cirurgia para retirar câncer de próstata. lembro bem porque o pós-operatório parece não querer sair da cabeça. nem do corpo. impotência, algum desânimo, sensação de solidão, desmotivação... 
parece que a decisão sobre o que fazer da vida já foi tomada, aqui dentro. só falta pôr em prática. parece simples. não é. 

sábado, 27 de março de 2021

no meio do caminho é poema sóbrio e inquietante

 


NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

[ carlos drummond de andrade ]

poema saiu em 1928, pela primeira vez, na revista de antropofagia (oswald de andrade). em 1930, passa a integrar o livro "alguma poesia". 

o texto se liga a "nel mezzo del camin", soneto parnasiano de bilac, mas que também acena para dante alighieri e o início de sua divina comédia: "nel mezzo del camin di nostra vita...", séc 14. no caso de bilac, soa como crítica ao artificialismo sem sal do estilo parnasiano.

o poema de drummond revela uma característica de um eu lírico tomado de certa covardia. é um eu poético que se apequena e isso se dá em outros livros, como "claro enigma" ou "rosa do povo", não cem por cento, mas está presente nesses livros um tanto desse "eu-menor-que-o-mundo".

o que fazer diante de um dilema, diante de uma pedra? a repetição dos versos sugere esse questionamento. o que fazer? o eu do texto, em princípio, nada faz. parece vítima do destino e não agente.

texto inquietante porque cada leitor terá seu ponto de covardia exposto, quando da leitura. todo ser humano tem seus medos, seu limites, penso eu. é uma provocação. 

saber mais? assista-me!