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segunda-feira, 11 de abril de 2022

as árvores - olavo bilac - soneto comentado

 


   AS ÁRVORES

  Na celagem vermelha, que se banha
  Da rutilante imolação do dia,
  As árvores, ao longe, na montanha,
  Retorcem-se espectrais à ventania. 

  Árvores negras, que visão estranha
  Vos aterra? que horror vos arrepia?
  Que pesadelo os troncos vos assanha,
  Descabelando a vossa ramaria? 

  Tendes alma também... Amais o seio
  Da terra; mas sonhais, como sonhamos,
  Bracejais, como nós, no mesmo anseio... 

  Infelizes, no píncaro do monte,
  (Ah! não ter asas!...) estendeis os ramos
  À esperança e ao mistério do horizonte...

    [ Olavo Bilac - Tarde, 1919 ]

    notas
  celagem - aspecto do céu ao fim do dia ou no começo
  espectrais - fantasmagóricas
  bracejais - mexer, agitar galhos

. . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .   .   .

soneto do livro "tarde", traz descrição de um dia de ventania no crepúsculo. os galhos se mexendo lembrariam pessoas querendo se libertar de uma prisão, sair do chão. 
longe de ser filosófico, o livro de bilac, vez ou outra, mostra lampejos de  reflexão, como aqui: a contradição latente, numa árvore (querer voar), seria similar ao que ocorre com o ser humano, ou seja, vivendo preso à terra, sonha ter asas. tanto humanos como árvores, sabidamente, não voam, mas sofrem, querendo mais aventura e liberdade.
fica a pergunta: para mais liberdade é preciso mesmo asas?
. . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .   .   .

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