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Mostrando postagens com o rótulo tarde

o encontro - sophia de mello breyner - comentário

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             O encontro       Redonda era a tarde       Sossegada e lisa       Na margem do rio       Alguém se despia.       Sozinho o cigano       Sozinho na tarde       Na margem do rio       Seu corpo surgia       Brilhante da água       Semelhante à lua       Que se vê de dia       Semelhante à lua       E semelhante ao brilho       De uma faca nua.       Redonda era a tarde.         [ O cristo cigano, 1961 , Sophia de M B Andresen ] poema número 4 do livro "o cristo cigano". o texto parece descrever um encontro entre a figura divina e a água do rio, como num batismo tradicional, à moda de joão batista.  contudo, sabemos que se trata do cigano "cachorro", cuja lenda -- em sevilha -- inspirou a poetisa...

último carnaval - olavo bilac - comentário

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            ÚLTIMO CARNAVAL     Íncola de Suburra ou de Síbaris,    Nasceste em saturnal; viveste, estulto,    Na folia das feiras, no tumulto    Dos caravançarás e dos bazares;     Morreste, em plena orgia, entre os esgares    Dos arlequins, no delirante culto;    E a saudade terás, depois sepulto,    Heróis folião, dos carnavais hílares...     Talvez, quem sabe? a cova, que te esconda,    Uma noite, entre fogos-fátuos, se abra,    Como uma boca escancarada em risos:    E saltarás, pinchando, numa ronda    De espectros aos tantãs, dança macabra    De esqueletos e lêmures aos guizos...                            [ T ard e, Bilac, 1919 ]     n ota  íncola  -  morador de algum local  suburra  -  região ...

as árvores - olavo bilac - soneto comentado

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     AS ÁRVORES    Na celagem vermelha, que se banha   Da rutilante imolação do dia,   As árvores, ao longe, na montanha,   Retorcem-se espectrais à ventania.    Árvores negras, que visão estranha   Vos aterra? que horror vos arrepia?   Que pesadelo os troncos vos assanha,   Descabelando a vossa ramaria?    Tendes alma também... Amais o seio   Da terra; mas sonhais, como sonhamos,   Bracejais, como nós, no mesmo anseio...    Infelizes, no píncaro do monte,   (Ah! não ter asas!...) estendeis os ramos   À esperança e ao mistério do horizonte...     [ Olavo Bilac - Tarde , 1919 ]     notas   celagem - aspecto do céu ao fim do dia ou no começo   espectrais - fantasmagóricas   bracejais - mexer, agitar galhos . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .   .   . soneto do livro " tarde ", traz...

sinfonia - olavo bilac - tarde

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      SINFONIA  Meu coração, na incerta adolescência, outrora,  Delirava e sorria aos raios matutinos,  Num prelúdio incolor, como o alegro da aurora,  Em sistros e clarins, em pífanos e sinos.   Meu coração, depois, pela estrada sonora  Colhia a cada passo os amores e os hinos,  E ia de beijo a beijo, em lasciva demora,  Num voluptuoso adágio em harpas e violinos.   Hoje, meu coração, num scherzo de ânsias, arde  Em flautas e oboés, na inquietação da tarde,  E entre esperanças foge e entre saudades erra...   E, heróico, estalará num final, nos clamores  Dos arcos, dos metais, das cordas, dos tambores,  Para glorificar tudo que amou na terra!       [BILAC, Olavo. Tarde , 1919]    nota      scherzo - peça musical ligeira, alegre   . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  ...

o oitavo pecado - olavo bilac - soneto

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     O OITAVO PECADO       [ B ilac ]  Vivendo para a morte, alegre da tristeza,  Temendo o fogo eterno e a danação sulfúrea,   Gelaste no cilício, em ascética fúria,   A alma ridente, o sangue em esto, a carne acesa.  Foste mártir e herói da própria natureza.   Intacto de ambição, de desejo ou de injúria,  Para ganhar o céu, venceste a ira, a luxúria,  A gula, a inveja, o orgulho, a preguiça e a avareza.  Mas não amaste! E, além do Inferno, um outro existe,  Onde é mais alto o choro e o horror dos renegados:   Ali, penando, tu, que o amor nunca sentiste,  Pagarás sem amor os dias dissipados!   Esqueceste o pecado oitavo: e era o mais triste,  Mortal, entre os mortais, de todos os pecados!      [ in: Tarde , 1918 ] notas :   esto   - calor; paixão              ascética - a que defende abstençã...

a iara - olavo bilac - soneto comentado

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                                                           A  I A R A       [ Olavo Bilac ]  Vive dentro de mim, como num rio,   Uma linda mulher, esquiva e rara,   Num borbulhar de argênteos flocos, Iara   De cabeleira de ouro e corpo frio.   Entre as ninfeias a namoro e espio:  E ela, do espelho móbil da onda clara,  Com os verdes olhos úmidos me encara,  E oferece-me o seio alvo e macio.   Precipito-me, no ímpeto de esposo,   Na desesperação da glória suma,   Para a estreitar, louco de orgulho e gozo...   Mas nos meus braços a ilusão se esfuma:  E a mãe-d’água, exalando um ai piedoso,  Desfaz-se em mortas pérolas de espuma.         [ in: Tarde , 1919 ] notas - - - iara:  ser mito...

diziam que - olavo bilac - tarde

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  “ Diziam que, entre as nações sobreditas, moravam algumas monstruosas. Uma é de anãos, de estatura tão pequena, que parecem afronta dos homens chamados Goiasis. Outra é de casta de gente, que nasce com os pés às avessas, de maneira que quem houver de seguir seu caminho Há de andar ao revés do que vão mostrando as pisadas; chamam-se Matuiús. Outra é de homens gigantes, de dezesseis palmos de alto, adornados de pedaços de ouro por beiços e narizes, e aos quais todos os outros pagam respeito; têm por nome Curinqueãs. Finalmente que há outra nação de mulheres, também monstruosas no modo do viver (são as que hoje chamamos Amazonas, e de que tomou o nome o rio) porque são guerreiras, que vivem por si só sem comércio de homens; vivem entre grandes montanhas; são mulheres de valor conhecido ... ”     Pe. Simão de Vasconcelos (Crônica da Cia. de Jesus no Est. do Brasil  1663 )          -- in: TARDE -- Olavo Bilac  1919 a partir deste ralato...

tarde - sonetos de olavo bilac - resenha

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99 sonetos estilo burocrático parnasiano temas ligados à mitologia e alguma virtude humana confira, neste vídeo abaixo

anchieta - olavo bilac

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outro soneto do livro "tarde", bilac, 1919. josé de anchieta (1534 - 97) foi, segundo história oficial, o primeiro a fazer poesia, no país, ficção.  também publicou estudos sobre a língua tupi. o padre -- nascido nas ilhas canárias (espanha) -- é comparado a um santo: francisco e  também a um mito grego: orfeu    ANCHIETA Cavaleiro da mística aventura, Herói cristão! nas provações atrozes Sonhas, casando a tua voz às vozes Dos ventos e dos rios na espessura: Entrando as brenhas, teu amor procura Os índios, ora filhos, ora algozes, Aves pela inocência, e onças ferozes Pela bruteza, na floresta escura. Semeador de esperanças e quimeras,  Bandeirante de “entradas” mais suaves, Nos espinhos a carne dilaceras: E, porque as almas e os sertões desbraves,  Cantas: Orfeu humanizando as feras, São Francisco de Assis pregando às aves . . . . . . . . . . . .  .  .  .  .   .   ....

língua portuguesa - olavo bilac

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mais um poema do livro "tarde", 1919, bilac "última flor do lácio" o que é? o latim, base da língua portuguesa, nasceu na região do lácio, próximo a roma dele, latim, vieram o romeno, francês, espanhol e, por fim, o português logo, a língua é a última flor, um eufemismo para o latim que termina sua jornada no idioma de camões aqui, homenageia a língua portuguesa mas faz ressalva, afirmando que ela ainda é um tanto rude, barulhenta... não é do estilo do poeta expor a vida em sociedade, a realidade. bilac escrevia para os próximos, para um grupo elitizado que via no vocabulário raro, nas tramas de uma sintaxe mais complexa um certo engrandecimento do idioma ainda bem que gente como guimarães rosa, oswald de andrade, carolina de jesus, patativa do assaré -- e tantos outros -- trataram de valorizar nosso idioma sem pedantismo . . . . . . . .  .  .   .  .  .  .  .  .   .   . LÍNGUA PORTUGUESA Última...

hino à tarde - olavo bilac

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primeiro poema do livro "tarde", 1919. publicado postumamente, pois olavo bilac faleceu em 1918.   HINO À TARDE  Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas,  Alva! Natal da luz, primavera do dia,  Não te amo! Nem a ti, canícula bravia,  Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas!    Amo-te, hora hesitante em que se preludia  O adágio vesperal, - tumba que te recamas  De luto e de esplendor, de crepes e auriflamas,  Moribunda que ris sobre a própria agonia!  Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre  Os primeiros clarões das estrelas, no ventre,  Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada,  Trazes a palpitar, como um fruto do outono,  A noite, alma nutriz da volúpia e do sono,  Perpetuação da vida e iniciação do nada... . . . . . . . . . .  .  .  .  .    . nota estruis  - estraga adágio - sentença, ditad...