no divertido "guia do turista brasileiro" (ed conteúdo), lúcio rodrigues e bebel enge alertam quem vai à fontana de trevi, em roma, e se entusiasma com o arremesso de moedinhas : "quem joga duas realiza um desejo qualquer (e quem joga três ou mais fica sem trocado para o ônibus)"
eu não sei quantas moedinhas você já perdeu, na vida, quer seja na fontana de trevi ou no riacho doce que corta sua cidade, não importa. jogar moedas pra cima ainda é tradição segura para tomada de decisões, por aqui, como numa aposta ou no começo do futebol. agora jogá-las pra perdê-las no fundo de uma fonte, já me parece bobagem, mas brasileiro é supersticioso até para escolher lugar na mesa pra almoçar, que remédio... será que alguém joga outra coisa, nas fontes, no lugar de moedas?
Íncola de Suburra ou de Síbaris, Nasceste em saturnal; viveste, estulto, Na folia das feiras, no tumulto Dos caravançarás e dos bazares;
Morreste, em plena orgia, entre os esgares Dos arlequins, no delirante culto; E a saudade terás, depois sepulto, Heróis folião, dos carnavais hílares...
Talvez, quem sabe? a cova, que te esconda, Uma noite, entre fogos-fátuos, se abra, Como uma boca escancarada em risos:
E saltarás, pinchando, numa ronda De espectros aos tantãs, dança macabra De esqueletos e lêmures aos guizos...
[ Tarde, Bilac, 1919 ]
nota íncola - morador de algum local suburra - região de roma antiga habitada predominantemente por pessoas pobres síbaris - cidade grega fundada por aqueus antes de cristo saturnal - relativo às festas de saturno estulto - estúpido; insensato hílare - alegre fogo-fátuo - fenônemo que se dá em função de corpos em decomposição (gases) caravançará - hospedaria gratuita para caravanas no deserto pinchando - pulando; saltando
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soneto de estilo parnasiano, por conta da métrica regular, vocabulário raro e aversão à emotividade dos românticos.
aqui, sobra um caráter moralizante, uma vez que o vivente das orgias e festas morreu fazendo o que mais gostava: orgia e festa. acrescente-se a isso o fato do personagem ser figura bem pobre. na visão do poeta, esse folião depois de morto voltaria em forma de espírito fanfarrão, dançando e fazendo barulho em meio a esqueletos.
"último carnaval" é um eufemismo para dia da morte.
em suma: os foliões, mesmo depois de morrer, continuam festejando.
agora, o que a netflix tem a ver com isso? não sei. coloquei o cartaz aqui para chamar atenção.
esta semana, conversei com alunos e alunas do curso pré-vestibular sobre gil vicente, dramaturgo português, lá do século 16. num determinado momento, chegamos a "auto da barca do inferno", peça popular, teatro de rua dos mais famosos em língua portugesa. nessa peça, pessoas que morrem, acabam na frente de duas barcas: uma que vai pro céu, outra para o inferno. comandadas pelo anjo e pelo diabo, respectivamente. um dos personagens que chega é o judeu. ele carrega uma cabra consigo. pausa: na grécia antiga, o termo "tragédia" pode ter se originado da expressão "canção do bode". ele seria sacrificado em honra a dioniso -- assim mesmo, sem o "i" -- dioniso. o que isso significa? após a invasão romana sobre região grega, encontramos a captura desse item da tragédia pelo cristianismo. desta forma, de modo bem maniqueísta, temos a figura do mal -- para os cristãos -- centrada no demônio, cuja representação é um bode. até hoje. voltando a vicente, século 16. o judeu é caracterizado como figura desprezível, à medida que carrega consigo o tal bode, símbolo do mal para os cristãos. resultado: o anjo não o recebe, sequer responde os apelos do judeu. e o diabo não quer levá-lo em sua barca! no fim das contas, o diabo acaba tendo pena do judeu e o leva ao inferno, numa prancha atada ao barco, porque, no limite, ele nem poderia entrar na embarcação. daí, na aula, pensamos sobre racismo, sobre intolerância. ficamos ainda pasmados com tanto caso de violência sobre o outro simplesmente porque esse "outro" é diferente da gente na cor da pele, no modo como se conecta a seus deuses, na maneira como se veste ou como se comporta sexualmente. é bem doloroso. a escola é sim um lugar de debate sobre esse tema tão caro a história das nossas gentes. mas não só de escola vive o ser humano. é preciso denunciar casos de intolerância; educar nossas crianças e, aí, sim, na sala de aula, debater com estudantes de qualquer idade essa questão das diferenças. dá pra usar a literatura, a arte plástica, o cinema, a ciência, até o próprio pensamento dá pra usar. e denunciar sem medo casos de racismo. não ficar neutro. só detergente é neutro. você não.
como era a arte em roma, antes de cristo? o que são os arcos? e o coliseu ? o que é e que para que serve o panteon? e o cimento dos romanos ? e o arco de tito ? saiba tudo isso aqui! assista-me!
sétimo vídeo da série "histórias da arte" - a minissérie de 2018 roma antiga arcos aquedutos panteão coliseu tito cimento romano e eu na capital assista-me!
sermão pregado em roma, século 17, é uma extensão daquele de 1672, na mesma celebração do início da quaresma a questão, aqui, é morrer duas vezes. morrer bem é antencipar-se à morte. "Os que morrem já mortos têm o céu" // "Os que morrem vivos vão inferno" outro trecho fundamental : "Como diz logo a voz do céu a S. João:
Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor? Mortos que morrem? Que mortos
são estes? São aqueles mortos que acabam a vida antes de morrer. Os que acabam a vida com a morte, são vivos que morrem, porque os tomou a morte
vivos; os que acabam a vida antes de morrer, são mortos que morrem, porque os
achou a morte já mortos. Estes são os mortos que morrem; (...); estes são os
que a voz do céu canoniza por bem-aventurados: Beati
mortui. E se os que morrem mortos são
bem-aventurados, os que morrem vivos, que serão? Sem dúvida mal-aventurados." morrer duas vezes? como ? assista-me!