sexta-feira, 9 de julho de 2021

o oitavo pecado - olavo bilac - soneto

 

   O OITAVO PECADO

      [ Bilac ]

 Vivendo para a morte, alegre da tristeza,
 Temendo o fogo eterno e a danação sulfúrea, 
 Gelaste no cilício, em ascética fúria, 
 A alma ridente, o sangue em esto, a carne acesa.
 Foste mártir e herói da própria natureza. 
 Intacto de ambição, de desejo ou de injúria,
 Para ganhar o céu, venceste a ira, a luxúria,
 A gula, a inveja, o orgulho, a preguiça e a avareza.
 Mas não amaste! E, além do Inferno, um outro existe,
 Onde é mais alto o choro e o horror dos renegados: 
 Ali, penando, tu, que o amor nunca sentiste,
 Pagarás sem amor os dias dissipados! 
 Esqueceste o pecado oitavo: e era o mais triste,
 Mortal, entre os mortais, de todos os pecados! 

    [ in: Tarde, 1918 ]

notas:  esto  - calor; paixão
            ascética - a que defende abstenção ante prazeres físicos
            cilício veste ou faixa carregada de metal para ferir a pele

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soneto alexandrino : doze sílabas poéticas por verso e 14 versos ao todo

poema revela que existe quem teme o fogo eterno (inferno, segundo cristãos), daí a necessidade de penintância para buscar o céu (paraíso)
repare o paradoxo do verso 1: "alegre da tristeza", ou seja, saber da morte é uma tristeza, mas o penitente está justamente buscando isto, portanto, também alegre, já que poderá ir ao paraíso se sofrer

leia-se: é necessário gelar -- via penitência do cilício -- o desejo sexual, a "carne acesa" ...

o eu lírico lista os pecados capitais do universo cristão e faz crítica àquele que se penitenciou -- sem amar -- para conseguir o tal paraíso: eis o oitavo pecado.
diz o penúltimo verso: "esqueceste o pecado oitavo", ou seja, não amar.

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