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mike: o galo sem cabeça e julio cortazar

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  julio cortazar (1914-1986) , belga de pais argentinos, tem um conto, de nome " acefalia ", começa assim:  “ C ortaram a cabeça a um certo senhor, mas como depois estourou uma greve e não puderam enterrá-lo, esse senhor teve que continuar vivendo sem cabeça e arranjar-se bem ou mal.  Em seguida ele notou que quatro dos cinco sentidos tinham ido embora com a cabeça.  dotado somente de tato, mas cheio de boa vontade, sentou-se num banco da praça Lavalle e tocava uma por uma (...) tratando de distingui-las e dar os respectivos nomes . (...) ”   e studiosos com diploma dizem que cortázar passa pelo realismo fantástico ou mágico. é um tremendo paradoxo, convenhamos, dizer que algo é realista e mágico ao mesmo tempo, mas não vou discutir com doutor. aliás, nem vou contar o fim do conto por pirraça mesmo. você precisa ler. o quente vem agora: seu nome é mike. e a história é real. muita gente sabia, menos eu, que cortaram a cabeça de um galo, desde o pescoço, e o dito...

proibir celular em sala de aula sem debate é absurdo

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  ideia trazida de um dos países mais conservadores do ocidente -- os estados unidos -- uma bolsa que tranca telefones celulares de estudantes, nas escolas, está em vigor, por aqui. olhem, é tremendo erro proibir celulares sem educar. mas isso é coerente com o ritmo da nossa educação. ela sempre foi conservadora. questões como  bullying, violência contra mulher, respeito à comunidade lgbt ou mesmo o racismo, raramente entram em sala. no máximo, numas postagens em mídia eletrônica ou nas pífias reuniões com professores, antes do ano letivo começar. nossas escolas ainda respiram o ensino jesuítico do brasil colônia e império: professor é autoridade. pune. e ponto. olhem, vou insistir: não resolve proibir, porque a relação professor-estudante não irá mudar só com isso. é esta relação, aliás, que faz estudantes quererem escapulir daquele ambiente, daquela rotina. por quê? porque a maioria dos assuntos tratados em sala não corresponde à realidade de humanos jovens. há muita erudiçã...

jogador ruim ou sistema de jogo mal colado?

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  [ arte: carlos h carneiro via i. a. ] " (...) Precisamos desneymarizar nosso futebol e um bom começo seria refundando a CBF como um todo. Repensar o jogo a partir de nossas brasilidades, essas que o professor Luiz A Simas ensina que vivem nas frestas. Parar de imitar o que fazem na Europa e de importar a espetacularização que os Estados Unidos associam ao esporte. Resistir à força privatizadora que invade todas as áreas de nossas vidas. "                                    [ milly lacombe - portal uol - fevereiro 2024 ] concordo com essa teoria de milly porque a gente vê o futebol brasileiro mal gerido e só faz os fãs passarem vergonha. é uma tragédia. calendário estúpido, contendo torneios regionais que melhoram zero tanto espetáculo como técnica. são torneios semi-amadores e, claro, deveriam existir neste âmbito: dentro de segundas e terceiras divisões, em seus estados. não se trata, po...

arte tem preço ou valor?

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                                                            são francisco,   mestre expedito - foto lordello e g leiloes  - no começo do mês, na avenida "norte-sul", aqui em campinas, um garoto de pouco mais de um metro de altura equilibrava bolas de tênis -- era a parada do semáforo --, ele  fazia malabarismo com elas, na cabeça, pelo ombro, mãos pra cima e pra trás, às vezes uma escapulia, mas rapidamente se refazia e pronto, lá iam as quatro ou cinco bolas pra cima. alguns motoristas dão umas moedas. outros, um aceno. quanto valeu o show? um real? cinco reais? é pouco? é muito? no começo do mês de maio, lá de 2010, descobriram uma peça que teria sido pintada pelo renascentista raffael sanzio (1483-1520). uma cabeça de mulher, de uns 30 cm. estava num depósito de um museu, na itália. pelos informes, valia 30...

o caminho difícil

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[ rouseeau ] no livro " conto da ilha desconhecida " (saramago), um homem pede um barco ao rei mas, em princípio, não sabe aonde vai. quer chegar a uma ilha que ninguém conhece. será caminho difícil, pois terá de passar por si próprio. dante, na "divina comédia", acaba se perdendo, numa floresta e precisa de ajuda... ele também desconhece o caminho a percorrer... vai ser difícil, pois enfrentará só o inferno. um homem do campo, no conto "a terceira margem do rio" (rosa) expõe a mesma sensação de perda e desconstrução: ele faz um pequeno barco e, sozinho, sai, rio acima, abaixo, num ritmo só seu, adentro, para sempre. omais um caminho difícil... ou o que esse homem passava é que estava difícil, a gente só imagina. olhem, pouca gente sai do trilho da razão para seguir um instinto próprio. dizem que ser humano seria sociável, e rousseau, lá no século 18, ele... ah, esquece.   . . . . . . .  .  .  .  .  .   . conheça também publicações ...

terça-feira gorda - caio fernando abreu - comentário

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                                                        caio fernando abreu (1948 - 96) o texto se inicia com a descrição de uma dança sedutora de um homem para outro homem,  sendo este último, o narrador.  D e repente ele começou a sambar bonito e veio vindo para mim. Me olhava nos olhos quase sorrindo, uma ruga tensa entre as sobrancelhas, pedindo confirmação. Confirmei, quase sorrindo também, a boca gosmenta de tanta cerveja morna, vodca com coca-cola, uísque nacional, gostos que eu nem identificava mais, passando de mão em mão dentro dos copos de plástico. Usava uma tanga vermelha e branca, Xangô, pensei, lansã com purpurina na cara, Oxaguiã segurando a espada no braço levantado, Ogum Beira-Mar sambando bonito e bandido. Um movimento que descia feito onda dos quadris pelas coxas, até os pés, ondulado, então olhava para baixo e o movime...

vacas são bússolas vivas

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  neste século 21, cientistas alemães descobriram que as vacas pastam viradas para o norte. não todas, só as normais. é uma tendência, seguindo uma espécie de magnetismo. os estudiosos dessas picanhas vivas, h. burda e sabine begall, levaram anos observando as mimosas e o senso magnético parece mesmo fato consumado. pastam para o norte. de repente, estariam à espera da grande aurok, a vaca ancestral, que um dia voltaria para salvar as que mugem e mascam. o problema é que, pelo brasil, o número de vacas aumenta na mesma proporção que os territórios indigenas diminuem. culpa do homo sapiens. o ser humano, como você deve conhecer, também tem senso magnético, apesar de que poucos são os que pastam. muitos eu já mandei pastar. outros, nem precisei.  olhem, de certa forma, melhor é compreender a natureza das coisas, mesmo que você não saiba onde fica o norte.   . . . . . . .  .  .  .  .   .   .    .    .

uma estátua para arlette

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  [ arlette ] início do século 21. o rio de janeiro ganha mais uma estátua de notório valor: clarice lispector. chamo atenção para quatro figuras públicas e que não são cariocas: cristo, drummond, clarice e dorival caymmi. todos com estátua, na cidade maravilhosa. por outro lado, o carioca mais famoso do mundo, agenor oliveira   -- o cartola --, não ganhou o mesmo agrado. olhem, até romário tem estátua... vejam que cariocas ilustres como tom jobim, noel e machado de assis, ganharam o mimo também. e glória maria? para ela, nada de estátua... também estão na fila, pelo menos até a publicação desta crônica, fluminenses brilhantes: chiquinha gonzaga, dona ivone lara e arlette pinheiro. sim, arlette, mais conhecida pelo pseudônimo: fernanda montenegro.

além do ponto - caio fernado abreu - comentário

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                                                      caio fernando abreu (1948-1996) início da narrativa "além do ponto" -- caio f abreu: Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de cigarros molhados no bolso (...)  - [ m or ang os m ofad os ]   . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .   .    . o narrador caminha pela chuva com cigarro e garrafa, na cidade que parece não colaborar com a caminhada. carros espirram lama em seu corpo. mas, segundo a narração, é preciso ir ao encontro dele, de alguém que supostamente o espera e ...

ribeirão preto 1981 ensino médio

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  lembro desta foto, era novembro, últimos dias de aula. 1981,  segunda série "g", ensino médio. escola: curso oswaldo cruz, na rua américo brasiliense, ribeirão preto. falta mais gente aí, lembro fernando, katia, ligia... e outros tantos mais. na foto: da esquerda para direita, ao fundo, francisco, eu (camisa escura) e paulo sérgio (camisa branca); no segundo degrau: taís (blusa vermelha) -- fazendo chifrinho na coleguinha --, alessandra, ivana, maria e washington; sentadas: cristiane, agnes e miriam manini (in memorian). os nomes peguei no verso da fotografia porque, na ocasião, eu mesmo tive o cuidado de colocar. não sei o rumo de quase todos, com exceção de miriam (falecida, 2020) e eu mesmo, por aqui, campinas, com aulas de literatura. os demais, será que viram esta foto, na época? era tão difícil -- e caro -- fazer cópias... eu gostava de praticamente todo mundo, achava tudo lindo porque também era meu segundo ano em uma escola privada, começava a gostar mesmo de escrev...

o cais em pessoa : durban dentro dele

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  um dos primeiros portugueses que, oficialmente, deixou sua marca por durban, áfrica do sul, foi bartolomeu dias, em 1488. no mesmo lugar, viveu parte da adolescência, o poeta fernando pessoa. ele chegou em 1896, em função do trabalho do padrasto, o cônsul joão rosa. na cidade de durban, pessoa escolheu um heterônimo: c.r. anon (brincadeira com "anônimo"). em 1905, o português das múltiplas personalidades deixava a áfrica do sul. na cidade, há um relógio em sua memória e uma estátua para bartolomeu dias, a quem pessoa dedicou versos:       Jaz aqui, na pequena praia extrema    O Capitão do Fim     Dobrado o Assombro,     O mar é o mesmo:     Já ninguém o tema!                         (...)                  [in "M ensage m"]    . . . . . . .  .  .  .  .  ....

diálogo - caio f abreu - comentário

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                                                          caio fernando abreu [1948-96] " diálogo ", do livro "morangos mofados", texto em discurso direto, na estrutura de um drama, uma peça teatral. veja as primeiras linhas e o final: A: Você é meu companheiro.  B: Hein?  A: Você é meu companheiro, eu disse.  B: O quê?  A: Eu disse que você é meu companheiro.  B: O que é que você quer dizer com isso?  A: Eu quero dizer que você é meu companheiro. Só isso.  B: Tem alguma coisa atrás, eu sinto.  A: Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico.  (...) A: Eu quero que você seja meu companheiro, eu disse.  B: O quê?  A: Eu disse que eu quero que você seja meu companheiro.  B: Você disse?  A: Eu disse?  B: Não. Não foi assim: eu disse.  A: O quê?  B: Você é meu co...

além da fábula: toy story e frankenstein

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                                                           na televisão, passa um dos filmes "toy story" ( pixar ) . famosa fábula infantil e adulta ao mesmo tempo. num dado momento, um dos bonecos diz a seu parceiro de plástico: " você é um brinquedo !", tentando expor a realidade dura daquele instante. era necessário fazer com que o boneco de astronatuta reconhecesse que não tinha super poderes, era descartável... e também não voaria. sobra o  desespero de quem quer ser amado... os brinquedos são imagem e semelhança de seus criadores. tanto cebolinha quanto a barbie. é assim como mitos ou fábulas. impossível não lembrar a criatura de "frankenstein" ( séc 19 ), narrativa de mary shelley. tempo frio, a agonia das noites longas e ambientação gótica reforçam sensação de desespero e de muita coisa errada. num dado momento do livro, cria...

o dia que júpiter encontrou saturno - caio f abreu - comentário

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  o conto, do livro "morangos mofados" (caio f abreu) traz uma história provavelmente datada: dezembro de 1980. júpiter e saturno estão em conjunção a cada 20 anos, aos olhos dos viventes do planeta terra. este ano, 1980, foi momento do encontro visível desses corpos do céu.  narrador onisciente conta uma narrativa sob duas perspectivas diferentes.  começa assim: Foi a primeira pessoa que viu quando entrou. Tão bonito que ela baixou os olhos, sem querer querendo que ele também a tivesse visto.   (...) Com a movimentação dos outros, levantando o tempo todo para dançar rocks barulhentos ou afundar nos quartos onde rolavam carreiras e baseados, devagarinho conquistou a cadeira de junco junto à janela. A noite clara lá fora estendida sobre a Henrique Schaumann (...)   . . . . . . . .  .  .  .  .  .   .   .   . a narrativa tem como cenário a cidade de são paulo. história singela e simples: ela é tímida e e...

discutir literatura de homens ou mulheres no vestibular mascara o mais importante

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  figuras importantes da literatura, por aqui, não vêem com bons olhos a escolha de uma lista de leitura composta apenas por mulheres, para o vestibular da usp ( fuvest ), em 2026. de certa forma, uma lista só feminina pode mascarar o machismo inerente à cultura do país, principalmente nos século 19 e 20. concorda-se. direito reconhecido em criticar o que quer que seja, tudo certo também. agora, sinto que se dá importância demais a um exame que não pretende medir o grau de conhecimento de estudantes. se fuvest escolhe este ou aquele, esta ou aquela, não vai alterar o preço do feijão.  a literatura dos homens -- excluídos da lista -- não será excluída do mundo, eles continuarão aí.  vestibular é exame, não é prova. vestibular não premia o bom esudante, a boa estudante. quem passa no vestibular xis só prova que foi bem naquele tipo de exame. passar em vestibulares, por aqui, não é tarefa apenas para quem estuda muito, mas sim, quem treina aquele tipo de prova.    ...

hutukara - samba-enredo salgueiro 2024 - não vamos nos render

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  [ estatueta de omama enviada à organização do oscar 2023, eua ] _ arte: felipe corcione _  É Hutukara! O chão de Omama  O breu e a chama, Deus da criação  Xamã no transe de Yakoana  Evoca Xapiri, a missão  Hutukara, ê! Sonho e insônia  Grita a amazônia, antes que desabe  Caço de tacape, danço o ritual  Tenho o sangue que semeia a nação original  Eu aprendi português, a língua do opressor  Pra te provar que meu penar também é sua dor  Falar de amor enquanto a mata chora  É luta sem flecha, da boca pra fora!  Tirania na bateia, militando por quinhão  E teu povo na plateia, vendo a própria extinção  Yoasi que se julga: Família de bem  Ouça agora a verdade que não lhe convém  Você diz lembrar do povo Yanomami em 19 de abril  Mas nem sabe o meu nome e sorriu da minha fome  Quando o medo me partiu  Você quer me ouvir cantar em Yanomami  pra postar no seu perfil  Entre aspas e ...