sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

rupestre moderno

 

                  [ rupestre moderno - versão engraçada feita por i. a. - fev 2025 ]

já fui um velho livro esquecido numa biblioteca subterrânea. ninguém sabia quem me escrevera, nem por que me haviam trancado ali. quem me folheou dizia que as páginas mudavam a cada leitura. o texto se embaralhava, era assombroso. às vezes, eu era um romance trágico; em outras, um tratado filosófico. houve quem jurasse ter encontrado fórmulas matemáticas nunca vistas antes, nas minhas páginas, enquanto outros diziam que eu contava segredos de borboletas extintas. vai vendo. todos que leram, morreram. se bem que é normal humanos morrerem.  até aí, as coisas.

por séculos, permaneci intocado, até que uma criança  -- chata, com certeza -- desobedecendo às placas de "cuidado" e "sopa de letrinhas fervendo", acabou me encontrando. a tal criança remelenta abriu minhas páginas e, pela primeira vez, eu soube o que era ter alguém que me lesse com curiosidade. e sem medo. será? 
a criança tinha uma camiseta azul e dourada, parecia uma caixa de cigarro vagabundo do século 20. uma testa curta. lia e ria sem abrir a boca. foi por pouco tempo. então, a criança foi diminuindo de tamanho, derretendo e se desfez junto com as remelas do nariz, saiu bamboelando pelo ladrilho como pudim fora do ponto, indo para o ralo cuja grade era o formato de um trevo de quatro folhas. que pena.  talvez nem criança fosse e sim uma aparição, um pesadelo, já que livros também sonham.

enfim, a biblioteca velhusca percebeu a movimentação e, mesmo depois da tal criança ter virado uma gosma geleca, estantes começaram a se mexer, os corredores foram rangendo e as prateleiras se moveram para tentar me esconder novamente.
antes que elas me engolissem, fiz o que nunca havia feito antes: deixei cair uma página solta, a primeira página, pedaço de mim. como mensagem na garrafa. 

no primeiro capítulo, dá pra ler o início: "já fui um velho livro esquecido..."

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 veja o que mais escrevi e publiquei na aba "meus livros", alto da página

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

a visão das plantas - djaimilia de almeida

 


romance - djaimilia almeida - angola, 2019

cenário é portugal  --  século 19, predominantemente

enredo base: celestino é um pirata idoso retornando a sua casa numa vila, na rua dos choupos. local estava abandonado e a casa vai sendo recuperada aos poucos, principalmente o jardim, com cravos, roseira, cameleira e outras plantas

o início é assim:

Noite abençoada. Acordou em casa, restaurado, após uma vida cheia. Mas a casa tinha mudado. Com as portadas trancadas, a mobília coberta com lençóis, a toalha manchada de vinho sobre a mesa, a arca da roupa fechada a um canto, os reposteiros de veludo negro, esgarçados pela traça, tudo era outro e, ainda, o mesmo. Na penumbra, o volume dos móveis insinuava fantasmas. O pó, tornado um ser, animava o espaço, iluminado pela claridade através das frestas das janelas.
(...)

segundo a narração -- 3a pessoa onisciente -- as plantas não davam a mínima importância às intenções e ações carinhosas, ali no jardim.

a comunidade da pequena cidade fica com receio quando da chegada de celestino, mesmo idoso, pois era era um reconhecido pirata: traficava escravizados, tinha matado gente, era temido.

há um jogo entre sonho e realidade, em que os pensamentos do capitão se misturam a devaneios e lembranças distorcidas. ao final, o delírio com a velha negra dentro de sua casa e que o acompaha pelas margens do ribeiro reforça essa ação do tempo sobre o raciocínio de celestino, trazendo à tona o delírio. 

um dos instantes de delírio do capitão:
A velha negra não aparecia há muito, mas a despensa ainda vivia durante a noite. Celestino despertou com o ruído de estalidos nas garrafas. Arrastou-se, seminu, entre as sombras. Ninguém o esperava, mas mal podia com o barulho vindo do interior das paredes. O silêncio e o que se seguiu a ele: o abrir do porão, o monte de cadáveres sufocados — ainda agora gente e já alimento de larvas —, o jogar dos corpos ao mar, um a um, sem direito a enterro.

aqui, a imagem do passado, quando celestino e parte da tripulação jogam sacos de cal no porão do navio sufocand e natando negros que fariam uma rebelião. essa oscilação de tempos confere à obra um caráter fragmentado, reforçando ideia de um homem à deriva em sua própria mente. 
com o tempo, as pessoas que demonizaram o retorno do capitão à vila vão morrendo... e as histórias antigas de celestino se tornam lendas e ele chega a ser visto, já bem próximo à morte, como uma espécie de herói. 

trecho final:

Os rumores sobre o seu passado feroz eram já cantigas de pescadores quando, numa noite de  inverno, acabou os seus dias, sem uma dúvida na consciência tranquila. Trazido pelo médico, padre Alfredo veio benzer o corpo na manhã seguinte. O defunto estava lívido e sereno. A sua cor e as rugas confundiam-se com o lençol amarrotado. À saída de casa, a visão das plantas pareceu-lhe uma aleluia pela passagem da alma do capitão. As rosas, os cravos, os abetos, a ameixoeira ainda não sabiam que o seu amigo tinha morrido. Alfredo contemplou o raio de luz que, iluminando as folhas, reflectiu no orvalho sobre as flores, os frutos, os espinhos. Meu pequeno pirata”, gracejou entredentes. As palavras escondiam cobiça. Nas suas mãos pias, todas as plantas morriam.        [ fim ]

a narrativa sugere que, assim como a natureza, o tempo apagará seus crimes e sua existência, tornando-o apenas mais um fragmento de história.
este desfecho aponta para um sentido crítico aos feitos -- por exemplo -- de portugueses que, ao longo de séculos, escravizaram e assassinaram centenas de milhares de pessoas através de seu processo de escravização e colonoziação predatória, por exemplo na áfrica, como é o caso do país de djaimilia: angola.
e mais: padre alfredo representa o teocentrismo, o clero conivente com as ações terríveis do imperialismo luso e os abusos das lideranças locais, como no brasil, moçambique ou angola, pelos séculos 19 e os anteriores. 
a frase final "as palavras escondiam cobiça" merece atenção: alfredo queria a fama de celestino? alfredo cobiçava as plantas?... 
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saiba mais :

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

o escultor e a tarde - sophia m breyner - comentário

 


    1. O escultor e a tarde


  No meio da tarde
  Um homem caminha:
  Tudo em suas mãos
  Se multiplica e brilha.

  O tempo onde ele mora
  É completo e denso
  Semelhante ao fruto
  Interiormente aceso.

  No meio da tarde
  O escultor caminha:
  Por trás de uma porta
  Que se abre sozinha

  O destino espera.
  E depois a porta
  Se fecha gemendo
  Sobre a Primavera.

       [ O cristo cigano, 1961, Sophia de M B Andresen ]

este é o poema número 1 de "o cristo cigano".
importantesophia breyner encontrou-se com joão cabral de melo neto, em sevilha, espanha, onde vivia o brasileiro que era também diplomata. lá, ela ouviu a lenda de que o escultor espanhol francisco gijón, no final do século 17, recebera uma encomenda de um cristo em agonia. para este fim, o tal artista buscou uma cena que pudesse ver alguém morrendo para conseguir inspiração e fazer seu trabalho. para isso, presenciou o esfaqueamento de um cigano e, assim, obteve material visual que precisava. depois de pronta a peça de madeira (foto acima), muita gente reconheceu o cigano -- apelidado  "cachorro" -- no rosto da estátua e passaram então a chamar a capela onde a escultura está de "capela do cachorro". a obra é o "cristo de la expiración".
                                                     
[ cristo de la expiración ]

sabendo disso, reler o poema faz bem. o texto tem caráter narrativo. tudo o que se multiplica e brilha é a função do artista: construir obras. ironicamente, o cristo do novo testamento transformou água em vinho, multiplicou os pães... só não arrumou um bom lateral pro vasco.
enfim, este poema 1 vai se ligar aos dois últimos poemas do livro, respectivamente os de número 10 e 11. neles, o leitor fica sabendo que um cigano foi morto entre paredes... provavelmente aquelas que ficaram por trás desta porta, aqui no texto 1.
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domingo, 23 de fevereiro de 2025

o encontro - sophia de mello breyner - comentário

 

         O encontro

      Redonda era a tarde
      Sossegada e lisa
      Na margem do rio
      Alguém se despia.
      Sozinho o cigano
      Sozinho na tarde
      Na margem do rio
      Seu corpo surgia
      Brilhante da água
      Semelhante à lua
      Que se vê de dia
      Semelhante à lua
      E semelhante ao brilho
      De uma faca nua.
      Redonda era a tarde.

       [ O cristo cigano, 1961, Sophia de M B Andresen ]

poema número 4 do livro "o cristo cigano". o texto parece descrever um encontro entre a figura divina e a água do rio, como num batismo tradicional, à moda de joão batista. contudo, sabemos que se trata do cigano "cachorro", cuja lenda -- em sevilha -- inspirou a poetisa a escrever "o cristo cigano".

talvez seu último banho, pois sabe-se, até o fim do livro, ele será esfaqueado.

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sábado, 22 de fevereiro de 2025

a embaixada americana - chimamanda adichie



"a embaixada americana", conto do livro "no seu pescoço", chimamanda.
tempo da narrativa: final dos anos 1990 e início da década seguinte.

começa assim: 

Ela estava na fila diante da embaixada americana em Lagos, olhando fixamente para a frente, quase imóvel, com uma pasta azul cheia de documentos enfiada debaixo do braço. Era a quadragésima oitava pessoa numa fila de cerca de duzentas, (...) Ela ignorou os jornaleiros que usavam apitos e enfiavam exemplares do The Guardian, do The News e do The Vanguard na sua cara. E também os mendigos que andavam para cima e para baixo estendendo pratos esmaltados. E ainda as bicicletas dos sorveteiros, que buzinavam. (...) 

O conto "embaixada americana" se passa na nigéria, em lagos -- a maior cidade do país --, onde se vê uma mulher anônima na fila para solicitar um visto para os estados unidos. ela busca asilo político

Foi então que Ugonna começou a chorar, correndo até ela. O homem de camisa com capuz estava rindo, dizendo como o corpo dela era macio, brandindo a arma. Ugonna começou a gritar; ele nunca gritava quando chorava, não era esse tipo de criança. Então a arma disparou e o dendê surgiu no peito de Ugonna (...) 

enquanto está na fila, ela observa um homem ser espancado pela guarda da embaixada, assim como mendigos e ambulantes de toda ordem. também fica-se sabendo que por criticar -- no jornal "the new nigeria" -- a situação política do país, o marido da moça foge para o benin. mais tarde, três homens invandem a casa deles a procura do jornalista. lá estão apenas a moça e seu filho ugonna eles não encontram e por causa do choro da criança um deles atira e mata o menino. a moça então resolve pedir asilo na embaixada. lá, não consegue provoar que o assassinato de seu filho foi feito pelo governo, pelo estado. 

Duvidava que a funcionária soubesse dos jornais pró-democracia ou das longas filas de pessoas cansadas diante dos portões da embaixada, (...) “Senhora? Os Estados Unidos oferecem uma nova vida para vítimas de perseguição política, mas é necessário haver prova…” Uma nova vida. Foi Ugonna quem lhe deu uma nova vida, (...) ela aceitou essa nova identidade que ele fez surgir, a nova pessoa que se tornou por causa dele. “Eu sou a mãe do Ugonna”, dizia ela na creche, para os professores, para os pais das outras crianças. (...) 

detalhe: "ugonna" é variação fonética de "you gone" (você se foi).
vale lembrar que a imagem do filho morto em seus braços fez com que esta mãe fantasiasse que um tanto de azeite de dendê, bem vermelhado, tinha sido derrubado na roupa. mas era sangue: marca do tiro.

“Senhora? Senhora?” Será que ela estava imaginando, ou a simpatia estava desaparecendo do rosto da funcionária? Ela viu o gesto rápido com que a mulher jogou o cabelo castanho-avermelhado para trás, (...) O futuro dela dependia daquele rosto. O rosto de uma pessoa que não a compreendia, que não devia cozinhar com azeite de dendê, ou não devia saber que o azeite de dendê, quando estava fresco, tinha um tom muito, muito vermelho, (...) Ela se virou devagar e caminhou para a saída. “Senhora?”, disse a funcionária às suas costas. Ela não se virou. Saiu da embaixada americana, passou pelos mendigos que ainda faziam as rondas esticando seus pratos esmaltados e entrou no carro.        [ fim ]

por isso, chama atenção que a responsável, na embaixada, pela sua salvação tivesse cabelo avermelhado. ou seja, algo nada acolhedor, para aquele momento.
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  temas para debate:

  1. papel da imprensa na vida política de um país

  2. crianças vítimas de conflito político

  3. abusos à figura feminina

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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

canção de matar - sophia de mello bryener - comentário

 


   Canção de matar

   Do dia nada sei    O teu amor em mim    Está como o gume    De uma faca nua    Ele me atravessa    E atravessa os dias    Ele me divide

  Tudo o que em mim vive   Traz dentro uma faca   O teu amor em mim   Que por dentro me corta     Com uma faca limpa   Me libertarei   Do teu sangue que põe   Na minha alma nódoas

  O teu amor em mim   De tudo me separa   No gume de uma faca   O meu viver se corta   Do dia nada sei   E a própria noite azul   Me fecha a sua porta     Do dia nada sei   Com uma faca limpa   Me libertarei.

      [ O cristo cigano, 1961, Sophia de M B Andresen ]

aqui, a ideia da morte do cigano -- confirmada nos dois poemas finais do livro -- é ressaltada. a faca que mata acaba dividindo o eu lírico. traz à tona a dualidade: dor e purificação. a faca é elemento de cisão, dor. faca é metáfora de amor e símbolo da morte. há uma musicalidade melancólica nos versos, reforçada pela repetição de "do dia nada sei", sugerindo um estado de suspensão, de incerteza ou alienação diante da passagem do tempo.

parece a fala do escultor, desejando terminar sua busca. ele usará a faca e se libertará do fardo que é buscar um rosto em agonia.

a ideia de um amor que "corta por dentro" remete a uma relação que ao mesmo tempo fere e purifica. a faca pode simbolizar tanto o sofrimento quanto a ideia de libertação. a expressão "faca limpa", ao final traz um tom  ritualístico, como se o ato de cortar fosse necessário. é o corte assassino. 

importantesophia breyner encontrou-se com joão cabral de melo neto, em sevilha, onde vivia o brasileiro que era também diplomata. lá, ela ouviu do próprio joão a lenda de que o escultor espanhol francisco gijón, no final do século 17, recebera uma encomenda de uma estátua de um cristo em agonia. para este fim, o tal artista buscou uma cena que pudesse ver alguém morrendo para conseguir inspiração e fazer seu trabalho. para isso, presenciou o esfaqueamento de um cigano e, assim, obteve material visual de que precisava. depois de pronta a peça de madeira (foto acima), muita gente reconheceu o cigano -- apelidado  "cachorro" -- e passaram então a chamar a capela onde a escultura está de "capela do cachorro". a obra é o "cristo de la expiración" ou "el cachorro de triana". 

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terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

o baile - narcisa amália

 

          


    O BAILE

 

          Esta fingida alegria,

           Esta ventura que mente,

         Que será delas ao romper do dia?..

                               G Dias *

 

A noite desce lenta e cheia de magia;

A multidão febril do templo de alegria,

         Invade as vastas salas

O mármore, o cristal, a sede e os esplendores,

Do manacá despertam os mágicos olores,

         À languidez das falas.

 

Ao rutilar das luzes as dálias desfalecem..

Roçando o pó as vestes das virgens s'enegrecem.

           Enturva-se a brancura...

O ar vacila tépido... a música divina

Semelha o suspirar de uma harpa peregrina.

          E a hora da loucura!

 

Pela janela aberta por onde o baile entorna

No éter transparente a vaga tíbia e morna

           Do hálito ruidoso,

Da vida as amarguras espreitam convulsivas

O leve esvoaçar das frases fugitivas.

        O estremecer do gozo!...

 

E tudo se inebria: o lampejar de um riso

Acende n'alma a luz gentil do paraíso,

         Arranca a jura ardente!

E mariposa incauta, em súbita vertigem,

Arroja-se a mulher crestando o seio virgem

      Na pira incandescente!

 

Aqui, na nitidez de um colo, a coma escura

S'espraia em mil anéis, enlaça a fronte pura

          Auréola de rosas

Da valsa ao giro insano, volita pelo espaço

Do cinto estreito, aéreo, o delicado laço,

          As gases vaporosas.

 

Ali, na meiga sombra indiferente a tudo,

Imerso em doce cisma um colo de veludo

         Ondula deslumbrante:

Que fogo oculto, ignoto, em suas fibras vaza

Vivido ardor que faz tremer-Ihe a nívea asa

         De garça agonizante?!..

  

Além, meus olhos tímidos contemplam 

                                                      [ com tristeza

As penas da mulher dessa –  ave de beleza –

             Calcadas sem piedade!..

Esparsas pelo solo as laceradas rendas

As flores já sem viço.. abandonadas lendas

            Da louca mocidade!

 

A festa chega ao termo; a harmonia expira:

A luz na convulsão final langue se estira

            Pelo salão deserto

Há pouco o doudejar da multidão festante,

Agora – o empalidecer da chama vacilante,

           Ao rosicler incerto!

 

Depois a razão fria contando instantes ledos

De castos devaneios, de juramentos tredos

           Ouvidos sem receio...

Num corpo languescido o espírito agitado.

Ea febre da vigília ao doloroso estado

           Ligando vago anseio..

  

A vida é isto: hoje cruel grilhão de ferro;

Talvez d'ouro amanhã, mas sempre a dor, o erro,

            Aniquilando o gênio!

Passado – áureo friso num mar de indiferença:

Presente – eterna farsa universal, suspensa

            Do mundo no proscênio!

 

epígrafe: trecho de "o baile" -- em “últimos cantos", gonçalves dias 

    notas_

  olores  -  cheiros

  incausa  -  sem cuidado

  inebria  -  embriaga

  ledos  -  alegres

  proscênio  -  parte do palco de um teatro

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"o baile", poema de narcisa amália, retrata uma festa luxuosa, com beleza e sedução, mas também permeado por atmosfera de desencanto.
a noite é descrita como mágica: perfumes, luzes e música, envolvendo os participantes em um êxtase quase hipnótico. contudo, por trás do esplendor, nota-se a presença da ilusão: flores murcham, vestes se mancham, a música se dissipa e a festa chega ao fim. 
a metáfora da mulher como mariposa é marcante: ela vê o brilho da festa e dos prazeres e se atira, mas é uma pira encandescente. deu ruim.

aqui, há contraste entre deslumbramento momentâneo e a realidade amarga da vida, marcada por erros, dor e desilusões. poema sugere que os momentos de alegria e paixão são passageiros e que a existência é um palco onde se encena uma farsa. 
novidade? é o romantismo.
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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

no seu pescoço - conto - chimamanda adichie

              

"no seu pescoço", é um dos 12 contos do livro com o mesmo nome.
aqui, trata da experiência de akunna-- jovem nigeriana, 22 anos -- que se muda para os estados unidos após ganhar o
green card

o tema geral, aqui, é adaptação cultural dificílima de uma africana nos estados unidos. também se nota a questão do racismo. 

akunna chega aos estados unidos com a expectativa de encontrar oportunidade de trabalho e algum conforto, conforme idealizado por sua família... mas não acontece. no início da jornada, no novo país,  foi assediada por um tio: acaba fugindo,vai parar em connecticut

"(...)na verdade, ele era irmão do marido da irmã de seu pai, não parente de sangue. Depois que você o empurrou para longe, ele se sentou na sua cama — a casa era dele, afinal de contas —, sorriu e disse que você não era mais criança, já tinha vinte e dois anos. Se você deixasse, ele faria muitas coisas por você (...) Você se trancou no banheiro até que ele voltasse para cima e, na manhã seguinte, você foi embora, caminhando pela longa estrada tortuosa, (...) Perguntou-se o que diria para a mulher para explicar sua partida. E lembrou do que ele dissera sobre o fato de que, nos Estados Unidos, é dando que se recebe. Você foi parar em Connecticut, em outra cidadezinha, pois ela era a última parada do ônibus Greyhound que pegou. Entrou no restaurante com o toldo limpo e brilhante e disse que trabalharia por dois dólares a menos por hora do que as outras garçonetes.(...)"

enfrenta dificuldades para se adaptar à cultura americana: são valores diferentes dos seus; o racismo se manifesta de formas sutis e explícitas, desde os olhares e comentários de estranhos até as perguntas invasivas sobre sua origem. a relação de akunna com o namorado americano é ponto central aqui. ele a apresenta a um novo mundo, mas também a expõe a situações desconfortáveis com sua família e algumas contradições, como o fato de ter viajado para alguns países na áfrica, ma não demonstra acolhimento, e sim certa superioridade.  este namorado de akunna é personalidade complexa, uma vez que apresenta carinho pela nigeriana, ao mesmo tempo que não reconhece totalmente o sofrimento dela diante dos preconceitos que ela vivencia. akunna se sente atraída por ele, mas ao mesmo tempo percebe as diferenças culturais e de valores que os separam.

(...) Ele abraçou-a enquanto você chorava, fez carinho no seu cabelo e se ofereceu para pagar sua passagem, para ir com você ver sua família. Você disse que não, que precisava ir sozinha. Ele perguntou se você ia voltar, e você lembrou a ele que tinha um green card e que ia perdê-lo se não voltasse em menos de um ano. Ele disse que você sabia o que ele queria dizer, você ia voltar, voltar mesmo? Você virou de costas e não disse nada e, quando ele a levou de carro ao aeroporto, você abraçou-o apertado por um longo, longo momento, e depois soltou.
                                               
            [ fim ]

 o desfecho mostra akunna recebendo carta de sua mãe relatando que seu pai falcera cinco meses atrás. ela decide ir para nigéria ver a família. o namorado oferece dinheiro para passagem, ela recusa. no aerporto, ela o abraça e parte.

a narração está em 3a pessoa, na perspectiva de alguém que fala diretamente com ela. a dinâmica da narração parece ao de um julgamento, quando um juiz ou juíza faz relato das ações de um réu.

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o título "no seu pescoço" reforça o modo de narrar: referência ao outro, à 2a pessoa, logo, a narração está em 3a pessoa. 

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terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

amor de violeta - narcisa amália

 


AMOR DE VIOLETA

 

    As violetas são os serenos pensamentos que

   o mistério e a solidão despertam na alma verdejante

   da esplêndida primavera.

                             Luís Guimarães Júnior

 

Esquiva aos lábios lúbricos

Da louca borboleta,

Na sombra da campina olente,

formosíssima

Vivia a violeta.

Mas uma virgem cândida

Um dia ante ela passa,

E vai colher mais longe

uma faceira hortênsia

Que à loura trança enlaça.

"Ai!" geme a flor ignota:

"Se pela cor brilhante

Que tinge a linda rosa,

a tinta melancólica

Trocasse um só instante;

Como sentira, ébria

De amor, de mágoa enleio,

Do coração virgíneo 

as pulsações precipites.

Unida ao casto seio!"

Doudeja a criança pálida

Na relva perfumosa,

E a meiga violeta

ao pé mimoso e célere

Esmaga caprichosa.

Curvando a fronte exânime

Soluça a flor singela:

"Ah! como sou feliz! 

Perfumo a planta ebúrnea

Da minha virgem bela!"

 

       notas_

   doudeja – age como louco
   esquiva  -  isolada  

   ebúrnea  -  feita de marfim
   lúbricos  -  com desejo físico; sensualidade
   olente  -  que possui odor
   exânime – desfalecido(a); desmaiado(a)
   célere - rápido

uma flor vivia isolada. era a violeta. de repente, uma virgem moça passa por ela e escolhe uma hortênsia para colocar no cabelo. a violeta se entristece e revela que por pelo menos um instante, pudesse ter cor diferente (de uma linda rosa, por exemplo) saindo assim do anonimato, podendo pertencer ao mundo da virgem que passeia. 

reparem que a tal violeta sonha em ficar perto do coração da moça para sentir os batimentos dele...

de repente, a tal virgem passa doudejando pela relva, pisa na flor, esmagando a violeta. para surpresa de zero pessoas, a romântica flor agradece e mostra que que conseguiu, pelo menos, na hora da morte trágica exalar seu odor, perfumando a planta que vai com a virgem. ou seja, é muito platonismo! é muita resignação! gente, como assim? a violeta além de desejar ser arrancada da terra para se emaranhar por alguns minutos nas tranças da moça, ainda fica feliz por ser pisoteada. 

com a profundidade de um pires, o texto expõe que a humildade e aceitação podem, num golpe do destino, construir um sonho. no caso, aqui, a pisada da virgem a fez acreditar que seu perfume chegou até onde está a outra flor. é inveja que fala?

ah, importante: personificação da natureza é ação típica do romantismo.

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domingo, 9 de fevereiro de 2025

será que pode colar ? jogo do conhecimento

 


você já imaginou um livro que transforma o aprendizado em uma aventura interativa e divertida? 

SERÁ QUE PODE COLAR ? não é apenas um livro de testes – é convite para explorar história, ciência, arte e muito mais de forma envolvente!

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