canção de matar - sophia de mello bryener - comentário

Canção de matar Do dia nada sei O teu amor em mim Está como o gume De uma faca nua Ele me atravessa E atravessa os dias Ele me divide Tudo o que em mim vive Traz dentro uma faca O teu amor em mim Que por dentro me corta Com uma faca limpa Me libertarei Do teu sangue que põe Na minha alma nódoas O teu amor em mim De tudo me separa No gume de uma faca O meu viver se corta Do dia nada sei E a própria noite azul Me fecha a sua porta Do dia nada sei Com uma faca limpa Me libertarei. [ O cristo cigano, 1961 , Sophia de M B Andresen ] aqui, a ideia da morte do cigano -- confirmada nos dois poemas finais do livro -- é ressaltada. a faca que mata acaba dividindo o eu lírico. traz à tona a dualidade: dor e purifica...