ébrio - que é tomado de sentimento intenso; bêbado
ditosa - de boa sorte; bom destino
báratro - local com grande profundidade
junquilho - planta aromática
embalde - em vão; inutilmente
olor - cheiro; odor
almo - bom; venerável
. . . . . . . . . .
eu lírico está melancólico. procurou no tempo da juventude alguma comepensação a esta tristeza do momento. mas encontrou uma flor morrendo. a conclusão, ao final, é que só resta ao crente aceitar o fim e ir ao céu. é uma esperança, na verdade. esta flor que morre é a representação da transitoriedade da juventude. apesar do viço, da beleza, ela acabará logo. é triste. é o romantismo.
o mistério e a solidão despertam na alma
verdejante
da esplêndida primavera.
Luís Guimarães Júnior
Esquiva
aos lábios lúbricos
Da louca
borboleta,
Na
sombra da campina olente,
formosíssima
Vivia a
violeta.
Mas uma
virgem cândida
Um dia
ante ela passa,
E vai
colher mais longe
uma
faceira hortênsia
Que à
loura trança enlaça.
"Ai!" geme a flor ignota:
"Se pela
cor brilhante
Que
tinge a linda rosa,
a tinta
melancólica
Trocasse
um só instante;
Como
sentira, ébria
De amor,
de mágoa enleio,
Do
coração virgíneo
as pulsações precipites.
Unida ao
casto seio!"
Doudeja
a criança pálida
Na relva
perfumosa,
E a meiga
violeta
ao pé
mimoso e célere
Esmaga
caprichosa.
Curvando
a fronte exânime
Soluça a
flor singela:
"Ah!
como sou feliz!
Perfumo a planta ebúrnea
Da minha
virgem bela!"
notas_
doudeja –
age como louco esquiva - isolada
ebúrnea - feita de marfim lúbricos - com desejo físico; sensualidade olente - que possui odor exânime –
desfalecido(a); desmaiado(a) célere - rápido
uma flor vivia isolada. era a violeta. de repente, uma virgem moça passa por ela e escolhe uma hortênsia para colocar no cabelo. a violeta se entristece e revela que por pelo menos um instante, pudesse ter cor diferente (de uma linda rosa, por exemplo) saindo assim do anonimato, podendo pertencer ao mundo da virgem que passeia.
reparem que a tal violeta sonha em ficar perto do coração da moça para sentir os batimentos dele...
de repente, a tal virgem passa doudejando pela relva, pisa na flor, esmagando a violeta. para surpresa de zero pessoas, a romântica flor agradece e mostra que que conseguiu, pelo menos, na hora da morte trágica exalar seu odor, perfumando a planta que vai com a virgem. ou seja, é muito platonismo! é muita resignação! gente, como assim? a violeta além de desejar ser arrancada da terra para se emaranhar por alguns minutos nas tranças da moça, ainda fica feliz por ser pisoteada.
com a profundidade de um pires, o texto expõe que a humildade e aceitação podem, num golpe do destino, construir um sonho. no caso, aqui, a pisada da virgem a fez acreditar que seu perfume chegou até onde está a outra flor. é inveja que fala?
ah, importante: personificação da natureza é ação típica do romantismo.
um
arquiteto italiano, lá no século 18, dirigiu e organizou a construção da famosa
fonte de água, em roma. a tal fontana de trevi. muitos arquitetos trabalharam
ali por trinta anos, até ficar tudo pronto. a fonte não só refresca a vida de
quem passa por ali, como inspira as pessoas a pensar a respeito dos símbolos
erguidos: cavalos, mitos, colunatas de inspiração grega... ah, o nome do
italiano: nicola salvi. foi quem começou a coisa.
pois
é, aqui, no país tropical, o calor castiga. não há muito o que salvar, nem reclamar
porque, lá atrás, avisaram. queimadas, especulação imobiliária, ganância,
combustíveis fósseis etc, tudo traria problemas graves. é o que estamos
vivendo. no conto "a terceira margem do rio", do rosa, um homem sobe num
barquinho reles e parte para o meio da água para nunca mais voltar. dizem que foi
o cansaço da vida em terra. outros falam do calor... alguns citam loucura. outros afirmam que era cruzeirense. não
importa. eu queria mesmo é a fonte.
Bate outra vez Com esperanças o meu coração Pois já vai terminando o verão Enfim Volto ao jardim Com a certeza que devo chorar Pois bem sei que não queres voltar Para mim Queixo-me às rosas Que bobagem as rosas não falam Simplesmente as rosas exalam O perfume que roubam de ti, ai Devias vir Para ver os meus olhos tristonhos E, quem sabe, sonhavas meus sonhos Por fim . . . . . . . . . .
. . . .
saudade é o tema
deste samba de cartola. qual a queixa do poeta? resposta: desilusão amorosa. o eu lírico divide com as rosas a tristeza que sente pela ausência da pessoa amada. o coração dá o tom -- vermelho -- à sensação, ou seja, ele vê, na rosa, o seu coração ferido e tenta falar com a pessoa amada, mas é inútil. as rosas -- cor avermelhada -- acentuam o estado emotivo do poeta que sonha com a volta de seu amor. para compensar a solidão e a tristeza, as rosas exalam o perfume que lembra a
pessoa querida. ao final, a voz poética deixa recado a ela, pedindo que
venha vê-lo outra vez para, de repente, sonhar com ele.
agenor de oliveira, nascido em cantagalo, rio de janeiro, 1908. falecido na mesma cidade, em 1980. torcedor do fluminense. um dos fundadores da escola de samba estação primeira de mangueira. o apelido "cartola" veio dos tempos em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu.
coloco aqui, trecho do artigo de ana rosa, na folha de s paulo 2021:
"Algoritmos têm se mostrado ferramentas de reprodução de preconceito,
injustiça e discriminação. Num ambiente automatizado, questões de gênero
e de raça podem resultar em exclusão ou perpetuação de desvantagens (...) Algoritmos são códigos com instruções para execução de uma tarefa ou
solução de um problema e, na atualidade, representam a forma mais
eficiente para identificar, organizar e atingir um mercado. Assim como
podem ser inclusivos, está comprovado que são também absurdamente
excludentes.
Por isso, uma questão relevante é quem os programa, como e com que
motivação. Conscientemente ou não, preconceitos são embutidos nos
algoritmos e reproduzidas pelas máquinas”. [ folha de s paulo, 23 maio 2021 ]
olhem, o assunto é mais do que grave. falei, em 2020, sobre o tema -- ver vídeo abaixo -- e resvalei nessa questão. já adianto: não vale a pena demonizar redes sociais e os tais esquemas de algoritmos. hoje, não dá pra simplesmente deletá-los do planeta. o que se deve pensar é na melhoria deles. eu ja deixei o twitter por não ver utilidade naquilo e, mais recentemente, saí do facebook por puro cansaço. os incomodados que se mudem. agora, o que faz do ser humano médio figura tão dependente desse cordão umbilical tecnológico? como utilizar vias digitais para melhorar cotidiano da humanidade e da natureza? parece que boa parte ddessa história, hoje, passa pelo consumismo. daí pergunto: como discutir o consumismo dentro de um universo capitalista? o mesmo que debater técnicas de mergulho com quem não sabe nadar. ou uma plenária de maioria masculina, no brasil, tratando do aborto. não resolve. com a palavra, educadores e tecnólogos.
Num círculo, o centro é naturalmente imóvel; mas, se a
circunferência também o fosse, não seria ela senão um centro imenso.
[ epígrafe ]
"manuelzão e miguilim" são duas narrativas que fazer parte do conjunto de textos que rosa chamou "corpo de baile".
para história de miguilim, uma narrativa chamada "campo geral"
na última história (rosa escreve "estória") de "corpo de baile", chamada "buriti", miguilim -- agora miguel -- ressurge, adulto, se casa com glória.
de modo bem resumido, o ciclo que se inicia em "campo geral", com miguel menino, vai se fechar em "buriti".
no meio dessas duas narrativas, há vários outros contos, como "cara de bronze", "recado do morro", "a história de lélio e lina", dentre outras.
"campo geral" - - história que se desenvolve em torno de uma família patriarcal que se desintegra, se desfaz tragicamente.
narração em terceira pessoa, mas o ponto de vista é o de miguilim.
cenário: sertão do mutum (repare que é possível ler o nome de trás pra diante)
três relações são importantes: dito e miguilim; bernardo e nhanina; terêz e nhanina.
pela família, ainda vó izidra, os irmãos liovaldo, tomezim, drelina e chica, além do dito, o preferido de miguilim.
vó izidra contrasta com mãitina, pela religiosidade. a avó é católica e mãitina diziam, ter sido escrava fugida, falava por vezes língua estranha, acreditava em misticismos e, por vezes, se embebedava. é ela quem ajuda miguilim a superar o sofrimento pela morte do dito.
mãitina, pelo perfil, lembra sancha, personagem negra de "a falência", julia lopes.
em meio a pássaros e cães, havia o gato sossõe, cachorra pingo-de-ouro e o papagaio papaco-o-paco, na família.
miguilim era apegado ao irmão dito, mais novo, que morreu de tétano, deixando o irmão triste demais.
o menino alimenta raiva monstruosa do pai. sua mãe o afasta, enviando para morar um tempo com vaqueiro salúz. na volta, está mais carrancudo, nem toma bênção.
pai de miguilim é violento, mata luisaltino e, depois, se enforca.
nesta narrativa, um elemento diferente do meio surge: lourenço, médico, de curvelo, que estava de passagem por causa de uma caçada, na vereda do tipá. ele reparou que miguilim espremia os olhos, então, lhe deu uns óculos e o menino ficou deslumbrado, achando tudo mais claro e bonito.
a frase emblemática, deste final da narrativa é, com posse dos óculos, miguilim diz: "tio terez parece pai".
a lista de livros para a prova deste domingo, 26 de novembro, 2017, fuvest:
iracema - alencar mem p de b cubas - machado o cortiço - azevedo a cidade e as serras - eça vidas secas - graciliano claro enigma - drummond minha vida de menina - morley sagarana - rosa mayombe - pepetela
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . resumo em vídeo de todos os livros - fuvest 2018 - clica anote aí: iracema - romantismo nacionalista; licor verde; tatuagem de martim, colonização da américa mem p de b cubas - realismo; metalinguagem; prepotência; arrogância; rio de janeiro; adultério; emplasto o cortiço - naturalismo; portugal versus brasil; adultério; homossexualismo; exploração humana a cidade e as serras - realismo; nacionalismo; sebastianismo; paris; dom miguel; felicidade é progresso; felicidade é a o campo vidas secas - modernismo; indústria da seca; cachorra baleia; patrão versus vaqueiro; soldado amarelo e o jogo de cartas; era vargas claro enigma - modernismo; poesia; introspecção; linguagem culta e erudita; "oficina irritada"; "dissolução"; "a máquina do mundo" minha vida de menina - modernismo; diário; diamantina; aula de redação; esperteza; magistério sagarana - modernismo; filosofia; neologismo; folclore do sertão; fábula; as epígrafes de cada conto e a do livro como um todo mayombe - modernismo; livro com caráter histórico; guerra de independência de angola; século 20; colônia versus metrópole; mayombe é o prometeu africano; zeus vergado a prometeu
a seguir, as 10 epígrafes do livro "sagarana". são nove contos, uma para cada narrativa e mais outra que abre o livro.
esta:
"Lá em cima daquela serra,
passa boi , passa boiada,
passa gente ruim e boa
passa a minha namorada".
[ quadra de desafio ]
“For a walk and back again”, said the fox. “Will you come with me? I’ll take you on my back. For a walk and back again.”
(Grey Fox, estória para meninos)
[ passear e voltar, disse a raposa / você vem comigo? levo você nas minhas costas / para passear e voltar ]
as histórias, basicamente, se passam no cenário da quadra de desafio... a chamada de grey remete ao caráter de fábula que norteia boa parte do livro, como em "conversa de "bois", "burrinho pedrês" ou mesmo "são marcos" e "corpo fechado" com suas magias.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
“E, ao meu macho rosado,
carregado de algodão,
preguntei: p’ra donde ia?
P’ra rodar no mutirão.” (Velha cantiga, solene, da roça)
burrinho pedrês -
o animal que, em princípio era mais fraco e feioso do que os cavalos, acaba salvando a vida humana, carregado de gente, passando o rio
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
“Negra danada, siô, é Maria:
ela dá no coice, ela dá na guia,
lavando roupa na ventania.
Negro danado, siô, é Heitô:
de calça branca, de paletó,
foi no inferno, mas não entrou!”
(Cantiga de batuque, a grande velocidade)
“— Ó seu Bicho-Cabaça!?
Viu uma velhinha passar por aí?...
— Não vi velha, nem velhinha,
corre, corre, cabacinha...
Não vi velha nem velhinha!
Corre! corre! cabacinha...”
(De uma estória)
a volta do marido pródigo (lalino) -
"negro danado" que evita o inferno, se afasta de problemas pode ser referência ao personagem central, o lalino, por ser ladino, sim, o malandro
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
"E grita a piranha cor de palha, irritadíssima:
– Tenho dentes de navalha, e com um pulo de ida‐e‐volta resolvo a questão!...
– Exagero... – diz a arraia – eu durmo na areia, de ferrão a prumo, e sempre há um descuidoso que vem se espetar.
– Pois, amigas, – murmura o gimnoto*, mole, carregando a bateria – nem quero pensar no assunto: se eu soltar três pensamentos elétricos, bate‐poço, poço em volta, até vocês duas boiarão mortas..."
[ conversa a dois metros de profundidade ]
duelo -
turíbio todo e cassiano gomes travam perseguição, por vingança
contudo, timpim-vinte-e-um é quem consegue assassinar turíbio, simbolizado, na cantiga, pelo peixe elétrico
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"Canta, canta, canarinho, ai, ai, ai...
Não cantes fora de hora, ai, ai, ai…
A barra do dia aí vem, ai, ai, ai...
Coitado de quem namora!...”
(O trecho mais alegre, da cantiga mais alegre, de um capiau beira-rio)
sarapalha -
contradizendo a legenda da cantiga, a história é bem triste... argemiro e ribeiro, primos, ambos com malária, acabam se separando... um expulsa o outro, por ciúme... argemiro, num gesto de humildade e coragem, confessa a ribeiro que gostava da mulher do primo... por isso é expulso do lugar... ele, argemiro, cantou fora de hora
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
“Tira a barca da barreira,
deixa Maria passar:
Maria é feiticeira,
ela passa sem molhar”
(Cantiga de treinar papagaios)
minha gente -
maria irma é objeto de desejo do protagonista mas acaba se casando com ramiro... o leitor sabe que ela, maria, é tida como feiticeira; não por acaso, foi ela quem arrumou armanda (assim, "r" mesmo) para o protagonista que logo se apaixona e se casa com a moça... por que será?
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
“Eu vi um homem lá na grimpa do coqueiro,
ai-ai
não era homem, era um coco bem maduro,
oi-oi
Não era coco, era a creca de um macaco,
ai-ai
não era a creca era o macaco todo inteiro
oi-oi”
(Cantiga de espantar males)
são marcos -
a cantiga repete, como ladainha, que o que se vê, na verdade, era outra coisa. o conto trata também da oração de s marcos ligada a poderes além da humanidade... como diz a legenda, "espantar males". o preconceito de josé (izé) por mangolô é nítido. além da feitiçaria, há a questão da negritude... o que torna a figura de josé mais desprezível. no fim da história, o protagonista será salvo da cegueira pelo tal mangolô feiticeiro que, então, não era o que parecia
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“A barata diz que tem
sete saias de filó...
É mentira da barata:
ela tem é uma só”
(Cantiga de roda)
corpo fechado
narrativa em que manuel fulô consegue matar o valentão targino - que está armado e atira - usando apenas uma pequena faca, sem se ferir. o autor da mágica é tonico das pedras... e parece, ao final do confronto, que manuel fulô tinha sete vidas, sete escudos, muitas proteções... mas o que ele demonstra é ter confiança... uma vida só... a cantiga de roda, nesse contexto, bem se justifica
narrativa com caráter fabuloso. oito bois, dentre eles "namorado", "brabagato" e "dançador", traçam plano de melhorar a vida de tiãozinho e matam o carreiro, agenor, que estava em cima do carro de bois e, segundo consta, já estava interessado na mãe de tiãozinho, recém-viúva. o corpo do pai de tiãozinho estava no carro, no momento do desfecho da trama (morte de agenor). eles realmente fizeram a terra tremer
Eu sou rica, rica, rica, vou-me embora, daqui!...”
(Cantiga antiga)
“Sapo não pula por boniteza,
mas porém por precisão.”
(Provérbio capiau)
a hora e vez de augusto matraga -
o primeiro texto pode fazer referência à partida de dionora, esposa de matraga, que o abandona para ficar com ovídio moura. os termos "eu sou pobre" e "sou rica" também podem ser lidos como "sofrimento", "dor" -- para "pobreza" -- e "aconchego" e "conforto" (com ovídio) -- para "riqueza".
o provérbio capiau pode fazer referência à atitude final de matraga que, rejeitando seus novos hábitos de recluso e religioso, acaba assassinando um jagunço, joãzinho bem-bem. ou seja, se é sapo, vai pular. se é matraga, irá cometer alguma violência.