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Mostrando postagens com o rótulo cristo

aparição - sophia de mello bryener andresen - comentário

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                                             Aparição   Devagar devagar um homem morre   Escura no jardim a noite se abre   A noite com miríades de estrelas   Cintilantes límpidas sem mácula   Veloz veloz o sangue foge   Já não ouve cantar o moribundo   Sua interior exaltação antiga   Uma ferida no seu flanco o mata   Somente em sua frente vê paredes   Paredes onde o branco se retrata   Seus olhos devagar ficam de vidro   Uma ferida no seu flanco o mata     Já não tem esplendor nem tem beleza   Já não é semelhante ao sol e à lua   Seu corpo já não lembra uma coluna   É feito de suor o seu vestido   A sua face é dor e morte crua   E devagar devagar o rosto surge   O rosto onde outro rosto se retrata   O rosto desde sempre pressentido   Por aquele que ao viver o ...

trevas - sophia de mello bryener - comentário

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                                                [ francisco gijón, cristo em agonia, séc 17 ]             7.  Trevas         O que foi antigamente manhã limpa        Sereno amor das coisas e da vida        É hoje busca desesperada busca        De um corpo cuja face me é oculta.                 [ O cristo cigano,  1961 , Sophia de M B Andresen ]      . . . . . .  .  .  .   .   .    . este é o sétimo poema de "o cristo cigano".   aqui, pode ser a voz do escultor -- que aparece no poema 1 -- que está buscando uma imagem de um cristo em agonia para construir sua estátua.  agora, se liga nessa história :   sophia breyner encontrou-se com...

o encontro - sophia de mello breyner - comentário

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             O encontro       Redonda era a tarde       Sossegada e lisa       Na margem do rio       Alguém se despia.       Sozinho o cigano       Sozinho na tarde       Na margem do rio       Seu corpo surgia       Brilhante da água       Semelhante à lua       Que se vê de dia       Semelhante à lua       E semelhante ao brilho       De uma faca nua.       Redonda era a tarde.         [ O cristo cigano, 1961 , Sophia de M B Andresen ] poema número 4 do livro "o cristo cigano". o texto parece descrever um encontro entre a figura divina e a água do rio, como num batismo tradicional, à moda de joão batista.  contudo, sabemos que se trata do cigano "cachorro", cuja lenda -- em sevilha -- inspirou a poetisa...

canção de matar - sophia de mello bryener - comentário

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      Canção de matar    Do dia nada sei    O teu amor em mim    Está como o gume    De uma faca nua    Ele me atravessa    E atravessa os dias    Ele me divide   Tudo o que em mim vive   Traz dentro uma faca   O teu amor em mim   Que por dentro me corta     Com uma faca limpa   Me libertarei   Do teu sangue que põe   Na minha alma nódoas   O teu amor em mim   De tudo me separa   No gume de uma faca   O meu viver se corta   Do dia nada sei   E a própria noite azul   Me fecha a sua porta     Do dia nada sei   Com uma faca limpa   Me libertarei.         [ O cristo cigano,  1961 , Sophia de M B Andresen ] aqui, a ideia da morte do cigano -- confirmada nos dois poemas finais do livro -- é ressaltada. a faca que mata acaba dividindo o eu lírico. traz à tona a dualidade: dor e purifica...

ceia - josé paulo paes

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                                                              José P Paes  1926-98        C E I A    Pesca no fundo de ti mesmo o peixe mais luzente.    Raspa-lhe as escamas com cuidado: ainda sangram.    Põe-lhe uns grãos do sal que trouxeste das viagens    e umas gotas de todo o vinagre que tiveste de beber                                                                           na vida    Assa-o depois nas brasas que restem em meio    a tanta cinza   Serve-os aos teus convivas, mas com pão e vinho   do trigo que não segaste, da uva que não colheste   ...

pecador contrito aos pés de cristo crucificado - gregório de matos

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  PECADOR CONTRITO AOS PÉS DE CRISTO CRUCIFICADO Ofendi-vos , meu Deus, é bem verdade, Verdade é, meu Senhor, que hei delinquido, delinquido vos tenho, e ofendido, ofendido vos tem minha maldade. Maldade, que encaminha a vaidade, Vaidade, que todo me há vencido, Vencido quero ver-me e arrependido, Arrependido a tanta enormidade. Arrependido estou de coração, De coração vos busco, dai-me abraços, Abraços, que me rendem vossa luz. Luz, que claro me mostra a salvação, A salvação pretendo em tais braços, Misericórdia, amor, Jesus, Jesus! GREGÓRIO DE MATOS E GUERRA - séc 17 poeta assume pecados perante cristo e busca salvação pelo arrependimento. ele -- o eu lírico -- deseja ser acolhido e trata a divindade como uma figura próxima, daí o que se costuma ler dos críticos é que o estilo barroco costuma ser uma espécie de mistura de antropocentrismo e teocentrismo. trata-se de um soneto: 14 versos e com métrica (dez sílabas poéticas por verso) ao inciar verso com o final do anterior, temos ...