o escultor e a tarde - sophia m breyner - comentário
1. O escultor
e a tarde
No meio da tarde
Um homem caminha:
Tudo em suas mãos
Se multiplica e brilha.
O tempo
onde ele mora
É completo e denso
Semelhante ao fruto
Interiormente aceso.
No meio da
tarde
O escultor caminha:
Por trás de uma porta
Que se abre sozinha
O destino
espera.
E depois a porta
Se fecha gemendo
Sobre a Primavera.
este é o poema número 1 de "o cristo cigano".
importante: sophia breyner encontrou-se com joão cabral de melo neto, em sevilha, espanha, onde vivia o brasileiro que era também diplomata. lá, ela ouviu a lenda de que o escultor espanhol francisco gijón, no final do século 17, recebera uma encomenda de um cristo em agonia. para este fim, o tal artista buscou uma cena que pudesse ver alguém morrendo para conseguir inspiração e fazer seu trabalho. para isso, presenciou o esfaqueamento de um cigano e, assim, obteve material visual que precisava. depois de pronta a peça de madeira (foto acima), muita gente reconheceu o cigano -- apelidado "cachorro" -- no rosto da estátua e passaram então a chamar a capela onde a escultura está de "capela do cachorro". a obra é o "cristo de la expiración".
sabendo disso, reler o poema faz bem. o texto tem caráter narrativo. tudo o que se multiplica e brilha é a função do artista: construir obras. ironicamente, o cristo do novo testamento transformou água em vinho, multiplicou os pães... só não arrumou um bom lateral pro vasco.
enfim, este poema 1 vai se ligar aos dois últimos poemas do livro, respectivamente os de número 10 e 11. neles, o leitor fica sabendo que um cigano foi morto entre paredes... provavelmente aquelas que ficaram por trás desta porta, aqui no texto 1.
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