a embaixada americana - chimamanda adichie



"a embaixada americana", conto do livro "no seu pescoço", chimamanda.
tempo da narrativa: final dos anos 1990 e início da década seguinte.

começa assim: 

Ela estava na fila diante da embaixada americana em Lagos, olhando fixamente para a frente, quase imóvel, com uma pasta azul cheia de documentos enfiada debaixo do braço. Era a quadragésima oitava pessoa numa fila de cerca de duzentas, (...) Ela ignorou os jornaleiros que usavam apitos e enfiavam exemplares do The Guardian, do The News e do The Vanguard na sua cara. E também os mendigos que andavam para cima e para baixo estendendo pratos esmaltados. E ainda as bicicletas dos sorveteiros, que buzinavam. (...) 

O conto "embaixada americana" se passa na nigéria, em lagos -- a maior cidade do país --, onde se vê uma mulher anônima na fila para solicitar um visto para os estados unidos. ela busca asilo político

Foi então que Ugonna começou a chorar, correndo até ela. O homem de camisa com capuz estava rindo, dizendo como o corpo dela era macio, brandindo a arma. Ugonna começou a gritar; ele nunca gritava quando chorava, não era esse tipo de criança. Então a arma disparou e o dendê surgiu no peito de Ugonna (...) 

enquanto está na fila, ela observa um homem ser espancado pela guarda da embaixada, assim como mendigos e ambulantes de toda ordem. também fica-se sabendo que por criticar -- no jornal "the new nigeria" -- a situação política do país, o marido da moça foge para o benin. mais tarde, três homens invandem a casa deles a procura do jornalista. lá estão apenas a moça e seu filho ugonna eles não encontram e por causa do choro da criança um deles atira e mata o menino. a moça então resolve pedir asilo na embaixada. lá, não consegue provoar que o assassinato de seu filho foi feito pelo governo, pelo estado. 

Duvidava que a funcionária soubesse dos jornais pró-democracia ou das longas filas de pessoas cansadas diante dos portões da embaixada, (...) “Senhora? Os Estados Unidos oferecem uma nova vida para vítimas de perseguição política, mas é necessário haver prova…” Uma nova vida. Foi Ugonna quem lhe deu uma nova vida, (...) ela aceitou essa nova identidade que ele fez surgir, a nova pessoa que se tornou por causa dele. “Eu sou a mãe do Ugonna”, dizia ela na creche, para os professores, para os pais das outras crianças. (...) 

detalhe: "ugonna" é variação fonética de "you gone" (você se foi).
vale lembrar que a imagem do filho morto em seus braços fez com que esta mãe fantasiasse que um tanto de azeite de dendê, bem vermelhado, tinha sido derrubado na roupa. mas era sangue: marca do tiro.

“Senhora? Senhora?” Será que ela estava imaginando, ou a simpatia estava desaparecendo do rosto da funcionária? Ela viu o gesto rápido com que a mulher jogou o cabelo castanho-avermelhado para trás, (...) O futuro dela dependia daquele rosto. O rosto de uma pessoa que não a compreendia, que não devia cozinhar com azeite de dendê, ou não devia saber que o azeite de dendê, quando estava fresco, tinha um tom muito, muito vermelho, (...) Ela se virou devagar e caminhou para a saída. “Senhora?”, disse a funcionária às suas costas. Ela não se virou. Saiu da embaixada americana, passou pelos mendigos que ainda faziam as rondas esticando seus pratos esmaltados e entrou no carro.        [ fim ]

por isso, chama atenção que a responsável, na embaixada, pela sua salvação tivesse cabelo avermelhado. ou seja, algo nada acolhedor, para aquele momento.
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  temas para debate:

  1. papel da imprensa na vida política de um país

  2. crianças vítimas de conflito político

  3. abusos à figura feminina

   . . . .  .  .   .    .

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