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segunda-feira, 21 de abril de 2025

uma historiadora obstinada - chimamanda adichie

 


" uma historiadora obstinada"  -  conto do livro "no seu pescoço" de chimamanda adichie

"Muitos anos depois que seu marido morreu, Nwamgba ainda fechava os olhos de vez em quando para reviver suas visitas noturnas à cabana dela e as manhãs seguintes, quando ela caminhava até o riacho cantando uma melodia, pensando no cheiro de fumo dele, na firmeza de seu peso, (...) Outras lembranças de Obierika continuavam claras — seus dedos grossos envolvendo a flauta quando ele tocava à noite, seu deleite quando ela servia suas tigelas de comida, suas costas suadas quando ele voltava com cestos cheios de argila fresca  (...) Okafo e Okoye, os primos de Obierika, faziam visitas demais. Eles ficavam maravilhados com a habilidade de Anikwenwa para tocar flauta (...) mas Nwamgba via a malevolência incandescente que seus sorrisos não conseguiam esconder. Ela temia pelo filho e pelo marido e, quando Obierika morreu — um homem que estava saudável, rindo (...) — ela soube que eles o tinham matado com feitiçaria. (...) A morte de Obierika a deixou num desespero interminável. (...)

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o conto narra trajetória de nwamgba, mulher determinada da etnia igbo, na nigéria colonial. ela se casa com obierika, apesar da desaprovação de sua família, e enfrenta desafios como abortos espontâneos e a inveja dos primos do marido. quando obierika morre subitamente, nwamgba se vê sozinha para proteger seu filho anikwenwa dos tais parentes gananciosos. temendo que ele fosse vendido como escravizado, nwamgba decide enviá-lo para uma escola missionária católica. lá, recebe o nome cristão de michael. com o tempo, ele (anikwenwa/michael) se afasta das tradições da mãe, tornando-se um cristão rígido. ele rejeita os costumes igbo e até mesmo a comida de sua mãe. o tempo da narrativa se dá entre as décadas de 1940 e 70. século 20.

(...) Seus companheiros eram homens normais, mas também pareciam estrangeiros, e apenas um falava igbo, mas com um sotaque estranho. Ele disse que era de Elele; os outros homens normais eram de Serra Leoa, (...) Eram todos da Congregação do Espírito Santo; (...) estavam construindo sua escola e sua igreja lá. Nwamgba foi a primeira a fazer uma pergunta: Eles por acaso haviam trazido suas armas, aquelas que tinham usado para destruir o povo de Agueke, e ela podia ver uma? O homem disse que infelizmente eram os soldados do governo britânico e os mercadores da Royal Niger Company que destruíam aldeias; já eles traziam boas novas. Ele falou de seu deus, que viera ao mundo para morrer, e que tinha um filho, mas não tinha esposa, e que era três, mas também era um. Muitas das pessoas que estavam perto de Nwamgba riram alto. (...)

michael tem uma filha. a neta de nwamgba se chamava afamefuna -- batizada grace, nos costumes católicos --; ela herda o espírito questionador da avó. educada na cultura britânica, ela, mais tarde, percebe a importância de sua própria história e decide estudá-la. divorcia-se do marido que demonstrava não ter interesse nas raízes históricas da nigéria. tornando-se historiadora, grace investiga o passado de seu povo e escreve um livro desafiando a visão colonial. no final da vida, ela resgata suas raízes ao mudar legalmente seu nome para afamefuna, reafirmando sua identidade e homenageando a avó.

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sábado, 22 de fevereiro de 2025

a embaixada americana - chimamanda adichie



"a embaixada americana", conto do livro "no seu pescoço", chimamanda.
tempo da narrativa: final dos anos 1990 e início da década seguinte.

começa assim: 

Ela estava na fila diante da embaixada americana em Lagos, olhando fixamente para a frente, quase imóvel, com uma pasta azul cheia de documentos enfiada debaixo do braço. Era a quadragésima oitava pessoa numa fila de cerca de duzentas, (...) Ela ignorou os jornaleiros que usavam apitos e enfiavam exemplares do The Guardian, do The News e do The Vanguard na sua cara. E também os mendigos que andavam para cima e para baixo estendendo pratos esmaltados. E ainda as bicicletas dos sorveteiros, que buzinavam. (...) 

O conto "embaixada americana" se passa na nigéria, em lagos -- a maior cidade do país --, onde se vê uma mulher anônima na fila para solicitar um visto para os estados unidos. ela busca asilo político

Foi então que Ugonna começou a chorar, correndo até ela. O homem de camisa com capuz estava rindo, dizendo como o corpo dela era macio, brandindo a arma. Ugonna começou a gritar; ele nunca gritava quando chorava, não era esse tipo de criança. Então a arma disparou e o dendê surgiu no peito de Ugonna (...) 

enquanto está na fila, ela observa um homem ser espancado pela guarda da embaixada, assim como mendigos e ambulantes de toda ordem. também fica-se sabendo que por criticar -- no jornal "the new nigeria" -- a situação política do país, o marido da moça foge para o benin. mais tarde, três homens invandem a casa deles a procura do jornalista. lá estão apenas a moça e seu filho ugonna eles não encontram e por causa do choro da criança um deles atira e mata o menino. a moça então resolve pedir asilo na embaixada. lá, não consegue provoar que o assassinato de seu filho foi feito pelo governo, pelo estado. 

Duvidava que a funcionária soubesse dos jornais pró-democracia ou das longas filas de pessoas cansadas diante dos portões da embaixada, (...) “Senhora? Os Estados Unidos oferecem uma nova vida para vítimas de perseguição política, mas é necessário haver prova…” Uma nova vida. Foi Ugonna quem lhe deu uma nova vida, (...) ela aceitou essa nova identidade que ele fez surgir, a nova pessoa que se tornou por causa dele. “Eu sou a mãe do Ugonna”, dizia ela na creche, para os professores, para os pais das outras crianças. (...) 

detalhe: "ugonna" é variação fonética de "you gone" (você se foi).
vale lembrar que a imagem do filho morto em seus braços fez com que esta mãe fantasiasse que um tanto de azeite de dendê, bem vermelhado, tinha sido derrubado na roupa. mas era sangue: marca do tiro.

“Senhora? Senhora?” Será que ela estava imaginando, ou a simpatia estava desaparecendo do rosto da funcionária? Ela viu o gesto rápido com que a mulher jogou o cabelo castanho-avermelhado para trás, (...) O futuro dela dependia daquele rosto. O rosto de uma pessoa que não a compreendia, que não devia cozinhar com azeite de dendê, ou não devia saber que o azeite de dendê, quando estava fresco, tinha um tom muito, muito vermelho, (...) Ela se virou devagar e caminhou para a saída. “Senhora?”, disse a funcionária às suas costas. Ela não se virou. Saiu da embaixada americana, passou pelos mendigos que ainda faziam as rondas esticando seus pratos esmaltados e entrou no carro.        [ fim ]

por isso, chama atenção que a responsável, na embaixada, pela sua salvação tivesse cabelo avermelhado. ou seja, algo nada acolhedor, para aquele momento.
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  temas para debate:

  1. papel da imprensa na vida política de um país

  2. crianças vítimas de conflito político

  3. abusos à figura feminina

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