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canção - cecília meireles - comentário

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        CANÇÃO  Pus o meu sonho num navio  e o navio em cima do mar;  — depois, abri o mar com as mãos,   para meu sonho naufragar.  Minhas mãos ainda estão molhadas  do azul das ondas entreabertas,  e a cor que escorre dos meus dedos  colore as areias desertas.  O vento vem vindo de longe,  a noite se curva de frio;  debaixo da água vai morrendo  meu sonho, dentro de um navio...  Chorarei quanto for preciso,  para fazer com que o mar cresça,  e o meu navio chegue ao fundo  e o meu sonho desapareça.  Depois, tudo estará perfeito:  praia lisa, águas ordenadas,  meus olhos secos como pedras  e minhas duas mãos quebradas.      Cecília Meireles [ Viagem, 1939 ]   . . . . . . . . . .  .  .   .   .   .   .   . versos de oito sílabas poéticas, isso mesmo. octassílabos. ritmo regular com um pa...

silêncio de um cipreste - cartola - comentário

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       SILÊNCIO DE UM CIPRESTE              Cartola [ 1908 - 80 ]   Todo mundo tem o direito   De viver cantando   O meu único defeito   É viver pensando   Em que não realizei   E é difícil realizar   Se eu pudesse dar um jeito   Mudaria o meu pensar   O pensamento é uma folha desprendida   Do galho de nossas vidas   Que o vento leva e conduz   É uma luz vacilante e cega   É o silêncio do cipreste   Escoltado pela cruz . . . . . .   .   .   .   .   .   .   .   . canção expõe nota de arrependimento e busca de acolhimento. a tal da empatia, como se diz nesse nosso século. o eu lírico mostra que seu defeito é pensar no que não fez... parece mesmo que existe culpa, nessa letra de cartola. então, a solução para o defeito seria mudar o pensamento – ao invés de tentar fazer alguma coisa. o pensamento, segundo o texto, é fol...

recanto escuro das brechas da gente: gal, caetano e eu

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  até agora, nunca ouvi “recanto escuro” por inteiro,  mas só a voz de gal me fascina e dá ideia de que é a coisa que me diz de meu estado de ontem e de anteontem. não sei se diz do futuro, mas o que me incomoda é noção falsa de tempo noção certa de tempo falso, muito tudo confuso quando mergulha-se nessa fantasia de liberdade de estar em plenas ações do corpo -- o que me tem faltado há tempos -- e do corpo do outro pois oswald de andrade já disse que o que interessava era o outro e sei de alguns mais filósofos que disseram do inferno nos outros por isso essa quase cachoeira cascatinha verbal sem pontuação vai caindo como diversão marítima de onda que leva pra cá e pra lá um estado de álcool gel um estado de música e voz bonita de gal tropical fatal e é com um gel que sou passeado pela música – que é do caetano – então "recanto escuro" vira mar e escorrego pro fundo é bem onde queria estar nessas brechas da gente com sensações sem nome é bom não precisar dar nome às coisas ao...