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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

encomenda - cecília meireles - comentário

 

           ENCOMENDA
                          Cecília Meireles [1901-64]

  Desejo uma fotografia
  como esta — o senhor vê? — como esta:
  em que para sempre me ria
  como um vestido de eterna festa.

  Como tenho a testa sombria,
  derrame luz na minha testa.
  Deixe esta ruga, que me empresta
  um certo ar de sabedoria.

  Não meta fundos de floresta
  nem de arbitrária fantasia...
  Não... Neste espaço que ainda resta,
  ponha uma cadeira vazia.
                           [ Vaga Música, 1942 ]

poema sobre passagem de tempo e a possibilidade de assumir a solidão. assumir ou constatar, simplesmente. eis aí uma doença que aflige dez entre dez pessoas sensíveis. sempre.
o eu do texto quer -- na fotografia --  imagem que seja alegre; quer uma foto como a que está mostrando ao fotógrafo: nela, há alegria.
com rimas de uma sonoridade ímpar, "encomenda" traz influência do simbolismo, à medida que o lirismo é a sua maior caracterítica, ou seja, a expressão em primeira pessoa, a exposição de emoção, aqui, sem exageros. pois se houvesse, seria romântico. a primeira estrofe beira a singeleza e o clichê. depois, vem o clima sombrio, a constatação de uma ausência. repare: versos de oito sílabas poéticas, octassílabos: raridade.
o eu lírico dispensa lugares comuns na fotografia, como cenários artificiais ou fantasia aleatória. o que se quer é imagem que expõe o invisível através da cadeira. sobra, ao final, a saudade, representada por essa cadeira vazia. pode ser a saudade de alguém distante ou -- como já se disse -- a constatação da solidão do próprio eu lírico. ia escrever "constatação da depressão", mas desisti. 

  . . . . . .  .  .   .    .

cânticos - cecília meireles

obra completa - cecília meireles

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

elza é filha de virgília e mãe de helena

 


elza é fräulein. a senhorita. 35 anos, cultura alemã.
o livro: "amar, verbo intransitivo" (mário de andrade).
elza é professora de piano e vai, nesta história, ter a função de ser a iniciadora amorosa do jovem carlos alberto, 15 anos. é o romance de mário é de 1927.

virgília é a não menos famosa amante de cubas, lá em machado de assis. e helena vem do século 20, no livro "três mulheres de três pppês", do paulo emílio, um dos melhores que já li. 
ambas carregam um protagonismo ímpar, dado o contexto de suas aparições: virgília em fins do século 19 e helena pela década de 1930. 
 
saber mais? veja o vídeo abaixo.



terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

nota social - carlos drummond

 


NOTA SOCIAL

O poeta chega na estação.
O poeta desembarca.
O poeta toma um auto.
O poeta vai para o hotel.
E enquanto ele faz isso
como qualquer homem da terra,
uma ovação o persegue
feito vaia.
Bandeirolas
abrem alas.
Bandas de música. Foguetes.
Discursos. Povo de chapéu de palha.
Máquinas fotográficas assestadas.
Automóveis imóveis.
Bravos…
O poeta está melancólico.
Numa árvore do passeio público
(melhoramento da atual administração)
árvore gorda, prisioneira
de anúncios coloridos,
árvore banal, árvore que ninguém vê
canta uma cigarra.
Canta uma cigarra que ninguém ouve
um hino que ninguém aplaude.
Canta, no sol danado.
O poeta entra no elevador
o poeta sobe
o poeta fecha-se no quarto.
O poeta está melancólico.

    [ drummond, alguma poesia, 1930 ]
. . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   .

* "assestadas" - - apontadas
. . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .

"nota social" faz referência a uma parte do jornal dedicada a personalidades tidas como importantes, na cidade, algo muito comum no século 20

aqui, no poema, o eu lírico expõe que não há espaço para suavidades. 
a árvore e a cigarra são desprezadas pelo progresso (anúncios). no cotidiano, há os automóveis, barulho de câmeras fotográficas. o poeta está melancólico. mesmo a agitação das pessoas com sua chegada parece vaia, ou seja, quem exercita o simples, a subjetividade, a poesia, não teria espaço.
o mundo está agitado. lembre-se: a obra foi feita no final dos anos 1920 e publicada em 1930. a melancolia do poeta se deve às crises, tanto na política brasileira, como nas consequências do "crack" da bolsa de nova iorque, em 1929.

sábado, 4 de dezembro de 2021

moça e soldado - carlos drummond - comentário

 

   MOÇA E SOLDADO

 Meus olhos espiam
 a rua que passa.

 Passam mulheres,
 passam soldados.
 Moça bonita foi feita para
 namorar.
 Soldado barbudo foi feito para
 brigar.
 Meus olhos espiam
 as pernas que passam.
 Nem todas são grossas...
 Meus olhos espiam.
 Passam soldados.
 ... mas todas são pernas.
 Meus olhos espiam.
 Tambores, clarins
 e pernas que passam.
 Meus olhos espiam
 espiam espiam
 soldados que marcham
 moças bonitas
 soldados barbudos
 …para namorar,
 para brigar.
 
 Só eu não brigo.
 Só eu não namoro.

    [carlos drummond - alguma poesia, 1930]

poema de versos brancos, à moda do primeiro modernismo. segundo a crítica, o livro "alguma poesia" (1930) abre a segunda fase desse modernismo. uma honra para o mineiro de muitos livros.
o eu lírico, em "moça e soldado" é figura pacata que só observa o cotidiano. 
repare que é a rua quem passa e não ele, nessa perspectiva do tímido.

"moça e soldado" explicita uma antítese, uma contradição entre o prazer e o dever; entre a beleza (moça) e a chatice -- o incômodo (confrontos, brigas).
essa contradição acaba trazendo, no fim, algo em comum que é justamente o fato de que o poeta não tem a moça muito menos poder de briga. eu ia escrever "poder de fogo", desisti.
e mais: a repetição da palavra "pernas" vai ao encontro do que se lê em "no meio do caminho", poema do mesmo livro. explicando: as pernas passam e o eu lírico não muda de postura. não reage, apenas olha. as pernas passam, tanto a das moças como a dos soldados. o poeta nada faz. apenas contempla. ele continua menor, importente, diminuído. é a tônica dos primeiros livros do poeta, esse "eu menor que o mundo". em "no meio do caminho" o poeta não usa as pernas, porque, diante da pedra, nada faz.
há o machismo inerente à cultura das nossas gentes, principalmente, século 20 pra trás: "moça bonita foi feita pra namorar". reparem, não é qualquer moça... precisa ser bonita. é chato. é drummond.

. . . . . . 

saiba mais



sexta-feira, 10 de setembro de 2021

itabira - drummond e o buraco do cauê

 

      ITABIRA

     Carlos Drummond de Andrade

 Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê.
 Na cidade toda de ferro
 as ferraduras batem como sinos.
 Os meninos seguem para a escola.
 Os homens olham para o chão.
 Os ingleses compram a mina.
 Só, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota incomparável.

           [ Alguma poesia, 1930 ]

parece premonição, este poema publicado em 1930. por volta da década de 1940, o pico do cauê -- mais de mil metros de altitude -- foi destruído pela companhia vale do rio doce, para extração de minério, em itabira. 

o poema -- versos brancos e livres -- contrasta as figuras da cidade à dos ingleses e reafirma a vitória do ferro sobre a simplicidade natural.
texto com caráter de crônica, revela a dor da cidade personificada em tutu, sabedor da derrota. qual derrota?... a da natureza.
"ferraduras batem como sinos" é verso dos mais emblemáticos deste livro. minério, burrice, natureza e essa pobreza que é machucada...

lembra bem o que a mesma "vale" causou em brumadinho, no século 21. que fase de nossa natureza.

saiba mais:


terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

amarElo é plantação de humanidade

 


amarElo - é tudo pra ontem documentário - emicida.
onde: netflix

com o mote "plantar - regar - colher" o ativista e compositor emicida (leandro oliveira) organiza documentário em que revisita história da negritude pelo brasil.
o documentário cita a escravidão, homenageia o samba, o hip hop, figuras importantes como tebas, ruth de souza, donga, lelia gonzalez, racionais, marielle franco, wilson das neves e tantos outros para reforçar ideia de que a união deveria nortear a luta da comunidade preta, no país.

o trabalho base está no teatro municipal, com música de emicida.
convidados bem ilustres, majur e pablo vittar dão o tom da diversidade dentro discurso do documentário que sinaliza que não se luta pela metade. se a ideia é falar de excluídos, como os pretos, então havia espaço para comunidade lgbt e trans. 
poesia, história, memória, arte plástica e, principalmente, gente unida, fazem deste  documentário uma necessidade urgente.

temas como gentrificação e ressignificar trajetória dos pretos, no brasil, transcedem o caráter artístico do documentário.

trabalho de emicida precisaria estar na escola. há muito o que fazer quando se está só. mas o lugar comum da união continua rei. 

como já disse poeta belchior : "o ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro"

sábado, 5 de setembro de 2020

quarta-feira, 1 de julho de 2020

jogo de cartas marcadas - clarice #3





unanimidade entre críticos e leitores -- um perigo, isso -- clarice é ginástica para o cérebro.

imperdível.

saiber mais? clica e assiste


sábado, 2 de maio de 2020

macunaíma - herói sem caráter - comentário





romance

1928
mário de andrade

modernista e antropofágico

chamado "romance rapsódia"

narrativa expressionista, surrealista, divertida e sarcástica

qual a importância?

o que é antropofagia?

e rapsódia?...

o que acontece com macunaíma, ao final?

. . . . . . .  .  .  .  .  .  .   .   .

clica para descobrir tudo!



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

romanceiro da inconfidência - cecília meireles






ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA  - -  -
narrativa que revê, no século 20, as atrocidades e frustrações do movimento libertário do século 18, em minas gerais.

prevalece o tom evocativo e espiritualista, estilo da poetisa.

há clima de ansiedade e mistério

apesar da subjetividade inerente ao estilo da autora, há marcas do gênero épico, que se percebem no caráter nacionalista e histórico. além, claro, de certo teor heroico na caracterização dos chamados "inconfidentes".

já escrevi, mas repito: "inconfidente" é designação que portugueses deram aos brasileiros que reclamavam das cobranças injustas de impostos sobre o ouro -- dentre outras questões. "confidente"é quem confia. "inconfidente" é traidor. logo, brasileiros chamarem outros brasileiros de "traidores" é incoerente. 
contudo, esse nome -- título do livro de cecília -- está absorvido pela cultura brasileira, parece difícil mudar. prefiro usar "conjura".

. . . . . . . . .  .  .  .  .  .   .
SAIBA MAIS
- assista !

quinta-feira, 7 de março de 2019

lá fora - ana cristina césar





lá fora

há um amor
que entra de férias.
Há um embaçamento
de minhas agulhas
nítidas diante
dessa boa bisca
de mulher.
Há um placar
visível em altas horas,
pela persiana deste hotel fatal
que diz:
fiado, só depois de amanhã
e olhe lá, onde a minha lâmina
cortante,
sofrendo de súbita
cegueira noturna,
pendura a conta e não corta mais, suspendendo seu pêndulo
de Nietzsche ou Poe
por um nada que pisca e tira folga
e sai afiado para a rua
como um ato falho deixando as chaves soltas em cima do balcão

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importante - -

“lá fora” - mundo distante; sonho; desejo de liberdade

 “bisca” - mulher libertina, liberta de conceitos…
                   geralmente sua imagem estava ligada

                   a hotéis baratos, motéis...


"lâmina cortante" - vontade fatal; ira; corte

"nietzsche & edgar a poe" -  (ambos séc 19)  filosofia crítica, existencialista e a poesia  

                                                gótica, narrativas de terror

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  • verso livre, dinâmico
  • voz do texto se aproxima de escritores tidos como radicais para a época (nietzsche e poe)
  • a expressão "fiado só depois de amanhã" reforça o clichê popular do comércio brasileiro ao mesmo tempo que sugere o local onde está o eu lírico, provavelmente um motel ("hotel fatal")

saber mais ??
assista-nos !


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

perguntas & respostas #2 - vidas secas


VIDAS SECAS
graciliano ramos


por que as crianças, filha de vitória e fabiano, não têm nome?
como identificar a necessidade de reforma agrária, no país, pela história de fabiano?

essas e outras perguntas, no vídeo abaixo!

assista-me!


terça-feira, 29 de maio de 2018

o bem-amado - resumo - dias gomes





peça teatral de dias gomes 
1962
modernismo brasileiro

sucupira
bahia

no enterro de mestre leonel fixa-se a ideia de que a cidade de sucupira precisa de um cemitério... estão levando o velho pescador morto para outra cidade.

prefeito : odorico paraguaçu
secretário : dirceu borboleta

amante do prefeito : dulcinea
esposa de dirceu : dulcinea
coveiro : chico moleza
jornalista : neco pedreira
primo : ernesto
irmãs de dulcinea : judicea e dorotea

jagunço : zeca diabo

depois de pronto o cemitério era necessário inaugurá-lo e, com isso, expor a imagem de um prefeito trabalhador. contudo, necessário um defunto.
nesse meio, dirceu desconfia que sua mulher tem um amante. o secretário de odorico fez voto de castidade. passa o tempo caçando borboleta. sem metáfora.

quer saber como termina essa história ?

assista-me!






terça-feira, 22 de maio de 2018

vinícius de moraes - poesia



                                                     [ vinícius - - por cândido portinari ]

textos líricos, prosas poéticas, muitos poemas chamados "sonetos", outros tantos com adjetivos, figuras femininas que causam desespero... e a subjetividade latente

saber mais?

assista-me!



sexta-feira, 13 de abril de 2018

aula intertextualidade - castro alves e mário de andrade





"boa noite, maria, eu vou-me embora" é verso do jovem castro alves, falecido aos 24 anos de idade, mas tempo suficiente para ser o mais contundente dos românticos, no brasil.
o poema chama-se "boa noite". e o que isso tem a ver com mário? o conto "vestida de preto", do livro "contos novos", cita esse verso. no texto de mário, o narrador é juca. apaixonado platonicamente por maria, uma prima com quem brincava, na infância. 
vale a pena ver como essas duas obras se ligam : assista-me!


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

quarto de despejo - carolina de jesus - resumo unicamp 2019 e ufrgs 2018




diário de uma favelada.
obra escrita na década de 1950. são paulo, favela canindé.
descoberta pelo repórter da "folha da manhã", audálio dantas, carolina se mostra uma das figuras mais marcantes da literatura brasileira.
saída de minas gerais, trabalhou como empregada na casa do médico zerbini. apesar de pouco tempo, envolveu-se com a biblioteca do doutor e ampliou seu leque de vocabulário e referências.
grávida, perdeu a chance de continuar na casa. foi para o local dos despejados pelo governo, a favela canindé, próximo ao rio tietê. seu livro foi traduzido para vários idiomas, depois de publicado, no início da década de 1960.

saber mais?
assista-me!



terça-feira, 14 de novembro de 2017

terra sonâmbula - mia couto





terra sonâmbula é narrativa poética, folclórica, histórica e mágica. o livro de mia couto desperta sensações novas, isso é fato.

"um velho e um miúdo vão seguindo pela estrada" ... logo no início do livro.
basicamente, duas narrativas, aqui:

I - Tuhair e Muidinga saem de um campo de refugiados.

Estão numa estrada e se abrigam em um machimbombo queimado (ônibus). É o final do século 20

II - Kindzu parte de sua aldeia em busca do títiulo de “naparama”,
guerreiro defensor do povo moçambicano, contra os desmandos,
na guerra civil (cadernos).

a história II está em cadernos que a dupla da história I encontra no ônibus. veículo chave para entender o que há de comum entre I e II.

saiba mais! assista!



saiba mais sobre história recente do país africano -clica

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

joão cabral de melo neto - o urubu mobilizado



hoje, a ideia é discutir com seus alunos(as) um texto do modernista joão cabral de melo neto. segundo a crítica literária, pertnce ao terceiro tempo modernista, décadas de 1950 e 60, junto com clarice e guimarães rosa, dentre outros.

joão foi um regionalista, porém, elevou a discussão sobre diferença de classe, nos sertões do nordeste, a um patamar mais universal, tratando do homem e a questão da existencia


    O urubu mobilizado

Durante as secas do Sertão, o urubu 
de urubu livre, passa a funcionário.
O urubu não retira, pois prevendo cedo 
que lhe mobilizarão a técnica e o tacto, 
cala os serviços prestados e diplomas,
que o enquadrariam num melhor salário,
e vai acolitar os empreiteiros da seca,
veterano, mas ainda com zelos de novato:
aviando com eutanásia o morto incerto,
ele, que no civil que o morto claro. 

                                 2
Embora mobilizado, nesse urubu em ação 
reponta logo o perfeito profissional.
No ar compenetrado, curvo e conselheiro,
no todo de guarda-chuva, na unção clerical,
Com que age, embora em posto subalterno:
ele, um convicto profissional liberal.

MELO NETO, João Cabral de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Ed Nova Aguilar

nota
acolitar ; prestar serviço; ajuda


pergunte a seus alunos o que se entende por "indústria da seca", no século 20.
o que seriam esses diplomas do urubu?
em que medida este texto se aproxima do que se lê em "vidas secas", de graciliano?


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professor(a),  
a ideia, aqui no blog, nesta série, não é ser definitivo, com algo muito extenso, em cada post... mas sim deixar material suficiente para uns 50 ou 40 minutos


algo para, de repente, um exercício, depois do seu debate, uma avaliação, uma tarefa de casa... use este material como lhe convier!

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

aula - análise de texto - joão cabral de melo neto







O urubu mobilizado

Durante as secas do Sertão, o urubu 
de urubu livre, passa a funcionário.
O urubu não retira, pois prevendo cedo 
que lhe mobilizarão a técnica e o tacto, 
cala os serviços prestados e diplomas,
que o enquadrariam num melhor salário,
e vai acolitar os empreiteiros da seca,
veterano, mas ainda com zelos de novato:
aviando com eutanásia o morto incerto,
ele, que no civil que o morto claro. 

                                           2
Embora mobilizado, nesse urubu em ação 
reponta logo o perfeito profissional.
No ar compenetrado, curvo e conselheiro,
no todo de guarda-chuva, na unção clerical,
Com que age, embora em posto subalterno:
ele, um convicto profissional liberal.


MELO NETO, João Cabral de. Obra Completa. R de Janeiro: Nova Aguilar, 1994

joão cabral, o melhor dos poetas brasileiros, de longe. é do nordeste sua raiz e também graças à sua experiência diplomática na espanha, agregou em seu estilo um modo modernista tido como de caráter universal, mesmo quando se trata de um tema específico d brasil, como o nordeste.
as imagens que descrevem a ave carniceira são de uma crueldade doce. "guarda-chuva" ; "funcionário"; "curvo"; "conselheiro"; "clerical" . este último, aliás, remete ao termo "acolitar" em cujos significados mora o caráter religioso de uma ajuda, de um auxílio. 

professor(a) questione seus alunos sobre qual seria a função desse urubu. na primeira estrofe se diz que ele passa a "funcionário". mas de quem? 
o que significa "aviando com eutanásia" ?


compare a situação vivida no poema, pelas pessoas do sertão, com a vida de fabiano, em vidas secas. logo no início do livro, o pai pensa em deixar o menino mais novo no chão, porque ele estaria atrasando a viagem com sua fraqueza. ao olhar atentamente o lugar, fabiano vê ossos pelo chão. desiste de abandonar o filho.

com certeza, a leitura do poema aliada a estas questões tomarão o tempo de uma aula.

é comum a crítica literária colocar a obra de joão no terceiro tempo modernista, algo em torno da década de 1960.
é pouco. escritor regionalista, poeta cerebral, econômico nos adjetivos -- quando usa! -- joão traz influência de euclides da cunha e também de graciliano, em que pese este último seja seu contemporâneo.

bom trabalho!

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mais aulas como esta ? clica !

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professor(a),  
a ideia, aqui no blog, nesta série, não é ser definitivo, com algo muito extenso, em cada post... mas sim deixar material suficiente para uns 50 ou 40 minutos

algo para, de repente, um exercício, depois do seu debate, uma avaliação, uma tarefa de casa... use este material como lhe convier!

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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

minha gente - resumo conto sagarana




narrado em primeira pessoa, o personagem-narrador se vê envolvido em história de amor, política e até assassinato.

o livro "sagarana" contém nove (9) narrativas. são contos que, segundo a crítica, compõem a terceira fase do modernismo brasileiro.

saber mais ?

assista-me!



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