Mostrando postagens com marcador claro enigma. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador claro enigma. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

sonho de um sonho - aula carlos drummond de andrade





"claro enigma", 1951, é o livro mais sério da vasta carreira do poeta carlos drummond de andrade. poderia ter sido mais altiva se não publicasse tanto rascunho. enfim, ainda bem que há poetas melhores como gonçalves dias, joão cabral ou mário faustino, só pra ficar em três.
vamos a mais uma proposta de exercício para sua aula, professor, professora.
pensei em em dois textos com o nome "sonho de um sonho". segue um trecho do primeiro, dentro de "claro enigma":


SONHO DE UM SONHO​

​Sonhei que estava sonhando
e que no meu sonho havia
um outro sonho esculpido
Os três sonhos superpostos
Dir-se-ia apenas elos
de uma infindável cadeia
de mitos organizados
em derredor de um pobre eu
Eu, que mal de mim, sonhava!

Sonhava que no meu sonho
retinha uma zona lúcida
para concretar o fluido
como abstrair o maciço
Sonhava que estava alerta
e mais do que alerta, lúdico
e receptivo e magnético
(...)
e em torno de mim se dispunham
possibilidades claras 
(...)
Ai de mim! que mal sonhava
(...)
Sonhei que o sonho existia
não dentro, fora de nós
E era tocá-lo e colhê-lo
E sem demora sorvê-lo
(...)

neste trecho, existe a chance de se ter algum controle sobre o sonho. mas isso, como se vê, não passa de um sonho. mitos. se se tem controle sobre o sonho, ele deixa de ser sonho para ser pensamento? ação real?
bacana isso do jogo de palavras. meio cultista, eu sei.
já em 1980, a unidos de vila isabel, no rio de janeiro, resolveu compôr samba-enredo para o carnaval e usaram parte do texto do mineiro drummond. autoria é dada a martinho da vila, beto sem braço, aluísio machado e graúna. 
olhem "sonho de um sonho", 1980:

“Sonhei
Que estava sonhando um sonho sonhado
O sonho de um sonho
Magnetizado
As mentes abertas
Sem bicos calados
Juventude alerta
Os seres alados 
Sonho meu
Eu sonhava que sonhava 
Sonhei
Que eu era o rei que reinava como um ser comum
Era um por milhares, milhares por um
Como livres raios riscando os espaços
Transando o universo
Limpando os mormaços 

Ai de mim
Ai de mim que mal sonhava 

Na limpidez do espelho só vi coisas limpas
Como uma lua redonda brilhando nas grimpas
Um sorriso sem fúria, entre réu e juiz
A clemência e a ternura por amor da clausura
A prisão sem tortura, inocência feliz 
Ai meu Deus
Falso sonho que eu sonhava 
Ai de mim
Eu sonhei que não sonhava
Mas sonhei”

nota - "grimpas" - partes altas de alguma coisa; crista

o contexto do samba, claramente, é a ditadura militar. o sonho era o fim dos bicos calados, uma juventude alerta.a tristeza prevalece, ao fim, porque  se tem noção de que justiça e inocência feliz seriam apenas sonhos. "mas sonhei", reafirma o último verso. seria ele, o sonho, uma possibilidade? uma previsão? profecia? claro está, que naquele momento, 1980, difícil sair da situação de exceção em que vivia o país.



. . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   .    .     .      .

segunda-feira, 29 de maio de 2017

claro enigma - carlos drummond







claro enigma é um conjunto de poemas de carlos drummond. mais um, dentro de sua vastísisma produção. aqui, por vezes verborrágico, insiste no tema da angústia, o que o torna um tanto repetitivo, já que o livro é curto. pretensioso até o talo, um de seus poemas se chama "a máquina do mundo", uma clara referência ao evento de mesmo nome, em "os lusíadas". vai vendo.
são seis partes: "entre lobo e cão", "o menino e os homens, "selo de minas", "notícias amorosas", "lábios cerrados" e "a máquina do mundo".
prevalecem versos livres, mas há um e outro soneto, além dos 96 versos decassílabos deste "...máquina..."
verso livre predomina, embora haja sonetos -- é a tal pretensão clássica. ficar atento a "oficina irritada", poema que traz a expressão "claro enigma". veja vídeo abaixo.
solidão, renúncia, saudade de um tempo que não viveu, contrastes soltos como art nouveau mal espalhados... não sei... são temas vagos para assuntos cotidianos. drummond de sempre. mas está no vestibular, aqui em são paulo, creiam (e fernando pessoa de fora).
mas dois poemas se salvam : "sonetilho falso a fernando pessoa" e "III - mercês de cima".
mais que isso, só me assistindo.






quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

o rapto - carlos drummond de andrade



"claro enigma" não é livro fácil de se digerir, quando comparado a "rosa do povo" ou "sentimento do mundo". aqui, repleto de referências clássicas, o livro soa como uma espécie de pedido de renovação da poesia que deveria dar uma guinada mais à via acadêmica, como faria mário faustino com raro rigor ou mesmo haroldo de campos.
aqui, nota-se a referência ao rapto de ganimedes por zeus. este, rei do olimpo, transforma-se em águia e captura ganimedes, jovem de extrema beleza. zeus faz de ganimedes seu amante e serviçal.
a homossexualidade, no poema, é exposta mas com ressalva... tratada como típica de boates com porta de pérolas falsas e com beijos estéreis. o último verso cita "acerbo amor", ou seja, azedo.
enfim, leia, reflita e veja se é culpa, medo ou incompreensão o que move o discurso do mineiro a respeito do amor homoafetivo, coisa tão comum, diga-se de passagem.

O RAPTO

Se uma águia fende os ares e arrebata
esse que é forma pura e que é suspiro
de terrenas delícias combinadas;
e se essa forma pura, degradando-se,
mais perfeita se eleva, pois atinge
a tortura do embate, no arremate
de uma exaustão suavíssima, tributo
com que se paga o vôo mais cortante; 
se, por amor de uma ave, ei-la recusa
o pasto natural aberto aos homens,
e pela via hermética e defesa
vai demandando o cândido alimento
que a alma faminta implora até o extremo;
se esses raptos terríveis se repetem
já nos campos e já pelas noturnas
portas de pérola dúbia das boates;
e se há no beijo estéril um soluço
esquivo e refolhado, cinza em núpcias,
e tudo é triste sob o céu flamante
(que o pecado cristão, ora jungido
ao mistério pagão, mais o alanceia),
baixemos nossos olhos ao desígnio
da natureza ambígua e reticente:
ela tece, dobrando-lhe o amargor,
outra forma de amar no acerbo amor.



. . . . . .  .  .  .  .  .   .   .   .   .    .    .     .     .





clique e leia matéria da "folha de s paulo" sobre o tema




quarta-feira, 9 de novembro de 2016

leituras no vestibular agora!



preparando-se para as provas de fuvest e unicamp ?
veja esta lista de aulas sobre as principais leituras deste mês de novembro.
as provas estão chegando!
preparem-se!
boa sorte!






quinta-feira, 11 de agosto de 2016

oficina irritada (claro enigma)




"oficina irritada" é o mais emblemático poema do livro "claro enigma", embora muita gente eleja "a máquina do mundo" como destaque maior. não tem problema. vou ficar com este e explico o motivo.
o poema está em forma fixa, é um soneto decassílabo, fato que vai se repetir mais vezes, no livro, não só com o soneto mas com quartetos e versos de métrica regular. aqui o poeta parece fazer um pedido de mais responsabilidade para com o uso do verso. na metalinguagem explícita (tratar do texto enquanto o faz). leia. vai te fazer bem, e olhe que é drummond heim.

OFICINA IRRITADA

Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever
Eu quero pintar um soneto escuro
seco, abafado, difícil

Quero que meu soneto, no futuro
não desperte em ninguém nenhum prazer
E que, no seu maligno ar imaturo
saiba ser, não ser

Esse meu verbo antipático
há de pungir, há de fazer sofrer
tendão de Vênus sob o pedicuro

Ninguém o lembrará: tiro no muro
cão mijando no caos, enquanto Arturo,
claro enigma, se deixa surpreender




primeira metade do soneto: poeta quer causar impacto, deixa recado claro. quer soneto duro, difícil de ler, que seja doído até pra reler, no futuro. e esse futuro bem pode ser hoje. segue.
"oficina irritada" lembra "profissão de fé", do parnasiano bilac e também "poética", do bandeira, dois metalinguísticos poemas que se pretendem indicadores de caminho a novos poetas. o primeiro direcionado aos antirromânticos,  o segundo aos modernistas iniciantes. 
aqui, o eu lírico brinca com shakespeare, pura ironia abaixo da média dos escritores de seu tempo (drummond) mas serve para causar um distanciamento necessário da poesia mundana que, a meu ver, ele quer criticar. shakespeare é um clássico, vale lembrar.
os tercetos: poeta insiste que os versos não têm pretensão de agradar. como se o poeta fosse a manicure que vai machucar a deusa ao invés de cuidar. e ninguém vai lembrar... como um tiro no muro -- barulhento, mas sem ser letal; ou cão mijando no caos, uma constatação de desordem. o poema não se pretende clichê, não se pretende lugar comum. vejam, arcturo é uma estrela de primeira grandeza, na constelação de boieiro, uma extensão de ursa maior. então, o soneto vai ser impactante e quer instalar uma ordem nova, mais série, mais cuidadosa da linguagem. divina, portanto, porque lavada pela imagem de arcturo, ao final. 

quer mais do livro do mineiro de copacabana? (ironia, ironia)









quinta-feira, 7 de julho de 2016

claro enigma - drummond






claro enigma é um conjunto de poemas de carlos drummond. mais um, dentro de sua vastísisma produção. aqui, por vezes verborrágico, insiste no tema da angústia, o que o torna um tanto repetitivo, já que o livro é curto. pretensioso até o talo, um de seus poemas se chama "a máquina do mundo", uma clara referência ao evento de mesmo nome, em "os lusíadas". vai vendo.
são seis partes: "entre lobo e cão", "o menino e os homens, "selo de minas", "notícias amorosas", "lábios cerrados" e "a máquina do mundo".
prevalecem versos livres, mas há um e outro soneto, além dos 96 versos decassílabos deste "...máquina..."
verso livre predomina, embora haja sonetos -- é a tal pretensão clássica. ficar atento a "oficina irritada", poema que traz a expressão "claro enigma". veja vídeo abaixo.
solidão, renúncia, saudade de um tempo que não viveu, contrastes soltos como art nouveau mal espalhados... não sei... são temas vagos para assuntos cotidianos. drummond de sempre. mas está no vestibular, aqui em são paulo, creiam (e fernando pessoa de fora).
mas dois poemas se salvam : "sonetilho falso a fernando pessoa" e "III - mercês de cima".
mais que isso, só me assistindo.