QUE É FEITO DE VOCÊ
Cartola (1908-80)
O que é feito de você ó minha mocidade?
Ó minha força, a minha vivacidade?
O que é feito dos meus versos e do meu violão?
Troquei-os sem sentir por um simples bastão
Ó minha força, a minha vivacidade?
O que é feito dos meus versos e do meu violão?
Troquei-os sem sentir por um simples bastão
E hoje quando passo a gurizada pasma
Horrorizada como quem vê um fantasma
E um esqueleto humano assim vai
Cambaleando quase cai, não cai
Pés inchados, passos em falso
O olhar embaçado
Nenhum amigo ao meu lado
Não há por mim compaixão
A tudo vou assistindo
A ingratidão resistindo
Só sinto falta dos meus versos
Da mocidade e do meu violão
Horrorizada como quem vê um fantasma
E um esqueleto humano assim vai
Cambaleando quase cai, não cai
Pés inchados, passos em falso
O olhar embaçado
Nenhum amigo ao meu lado
Não há por mim compaixão
A tudo vou assistindo
A ingratidão resistindo
Só sinto falta dos meus versos
Da mocidade e do meu violão
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neste samba, o eu lírico vê que sua mocidade não mais existe. a vivacidade não é mais a mesma. ele demonstra a tristeza pela passagem do tempo. o que se lê, aqui, é o poeta ressentido. no momento da vida relatado no texto, está sem os amigos, sem os versos, sem o violão e "quase cai, não cai".
o "bastão" pode ser uma simples bengala, como pode ser o cigarro. o texto pode ser também uma alegoria aos novos tempos que chegavam à música brasileira, meados dos anos 1950: a bossa nova e uma "gurizada" que preferia lugares refinados: gente que não era do subúrbio, nem do morro, nesta época. a bossa nova deu outra roupagem ao samba. embranqueceu, por assim dizer, a música típica dos pretos, no rio de janeiro, naquele tempo.
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