CORDAS DE AÇO
Cartola [1908 - 80]
Ah, essas cordas de
aço
Este minúsculo braço
Do violão que os dedos meus acariciam
Ah, este bojo perfeito
Que trago junto ao meu peito
Só você violão
Compreende porque perdi toda alegria
E no entanto meu pinho
Pode crer, eu adivinho
Aquela mulher
Até hoje está nos esperando
Solte o teu som da madeira
Eu você e a companheira
Na madrugada iremos pra casa
Cantando
* pinho: violão (madeira usada para o instrumento)
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muito comum, no século 20, referir-se ao corpo das mulheres como "violão", por conta de sua forma ondulada, lembrando a cintura de uma figura feminina. o texto de "cordas de aço" traz a relação de um músico e seu violão. o instrumento pegado ao peito indica intimidade e cumplicidade. o poeta está sem "aquela mulher" (verso 10). num determinado momento se lê: "perdi toda a alegria". restou a ele, poeta, a companhia do instrumento que expressa emoção. contudo, ela deve estar esperando e, assim que o violão soltar seu som, ela irá juntar-se aos dois. repare que a expressão "cordas de aço" também pode fazer referência à prisão; àquilo que prende; uma ligação muito forte: o amor. mais do que isso, pode também ser a ligação com o samba que, além de acalmar sofrimento, o aproxima da mulher amada.
cartola: agenor de oliveira, nascido no rio de janeiro, 1908. falecido na mesma cidade, 1980. o apelido "cartola" veio dos tempos em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu.
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