Mostrando postagens com marcador verso livre. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador verso livre. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 7 de março de 2019

lá fora - ana cristina césar





lá fora

há um amor
que entra de férias.
Há um embaçamento
de minhas agulhas
nítidas diante
dessa boa bisca
de mulher.
Há um placar
visível em altas horas,
pela persiana deste hotel fatal
que diz:
fiado, só depois de amanhã
e olhe lá, onde a minha lâmina
cortante,
sofrendo de súbita
cegueira noturna,
pendura a conta e não corta mais, suspendendo seu pêndulo
de Nietzsche ou Poe
por um nada que pisca e tira folga
e sai afiado para a rua
como um ato falho deixando as chaves soltas em cima do balcão

. . . . . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   .   .
importante - -

“lá fora” - mundo distante; sonho; desejo de liberdade

 “bisca” - mulher libertina, liberta de conceitos…
                   geralmente sua imagem estava ligada

                   a hotéis baratos, motéis...


"lâmina cortante" - vontade fatal; ira; corte

"nietzsche & edgar a poe" -  (ambos séc 19)  filosofia crítica, existencialista e a poesia  

                                                gótica, narrativas de terror

. . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   .   .
  • verso livre, dinâmico
  • voz do texto se aproxima de escritores tidos como radicais para a época (nietzsche e poe)
  • a expressão "fiado só depois de amanhã" reforça o clichê popular do comércio brasileiro ao mesmo tempo que sugere o local onde está o eu lírico, provavelmente um motel ("hotel fatal")

saber mais ??
assista-nos !


terça-feira, 25 de julho de 2017

o impossível carinho





                 O IMPOSSÍVEL CARINHO

 Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
          Quero apenas contar-te a minha ternura
         Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
         Eu te pudesse repor
          - Eu soubesse repor -
        No coração despedaçado
        As mais puras alegrias de tua infância!


Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu em 1886, Recife, dia 19 abril de 1886. Faleceu no Hospital Samaritano do Rio de Janeiro, em outubro de 1968.

. . . . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   .   .   .

Manuel Bandeira é poeta que sabe estruturar seus temas. Seus temas são simples: recordações da infância, um amor irrealizável, a sombra de uma doença grave, um enterro que passa, uma linda tarde de despedidas, uma velha casa que vai abaixo e na qual se sofreu e se amou muito.
                                                                         Otto Maria Carpeaux

Manuel Bandeira chamou-se um dia “poeta menor”. Fez por certo uma injustiça a si próprio, mas deu, com essa notação crítica, mostras de reconhecer as origens psicológicas de sua arte : aquela atitude intimista (...) um lirismo confidencial, auto-irônico, talvez incapaz de empenhar-se num projeto histórico, (...). O esforço de romper com a dicção entre parnasiana e simbolista de Cinza das Horas foi plenamente logrado enquanto fez de Bandeira um dos melhores poetas do verso livre em português e, a partir de Ritmo Dissoluto, talvez o mais feliz incorporador de motivos e termos prosaicos à literatura brasileira.
                                                                                          Alfredo Bosi

De qualquer maneira, sabe-se que a poesia de Manuel Bandeira é de um lirismo bondoso. Mário de Andrade o chamou de São João Batista do Modernismo. Aquele do batismo. Que coisa. Devoto de simplicidade que extasia, o poeta brinca com a vida através de seu passado, através da forma quase coloquial de escrita em versos, com um sensualismo nada ingênuo e musicalidade. Com ironia e concisão. Predomínio do verso livre. A literatura de Manuel Bandeira é repleta de outras referências modernas; e temos nela um dos quatro pontos de sustentação da poesia brasileira do século XX, junto com Jorge de Lima, Carlos Drummond e mais alguém que bem poderia ser a Cecília Meireles, mas sei que não é.                              
                                                                                                      Carlos H. Carneiro