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nota social - carlos drummond

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  NOTA SOCIAL O poeta chega na estação. O poeta desembarca. O poeta toma um auto. O poeta vai para o hotel. E enquanto ele faz isso como qualquer homem da terra, uma ovação o persegue feito vaia. Bandeirolas abrem alas. Bandas de música. Foguetes. Discursos. Povo de chapéu de palha. Máquinas fotográficas assestadas. Automóveis imóveis. Bravos… O poeta está melancólico. Numa árvore do passeio público (melhoramento da atual administração) árvore gorda, prisioneira de anúncios coloridos, árvore banal, árvore que ninguém vê canta uma cigarra. Canta uma cigarra que ninguém ouve um hino que ninguém aplaude. Canta, no sol danado. O poeta entra no elevador o poeta sobe o poeta fecha-se no quarto. O poeta está melancólico.     [ drummond, alguma poesia, 1930 ] . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   . * " assestadas " - - apontadas . . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   . "nota social" faz referência a uma pa...

itabira - drummond e o buraco do cauê

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        ITABIRA       Carlos Drummond de Andrade  Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê.  Na cidade toda de ferro  as ferraduras batem como sinos.  Os meninos seguem para a escola.  Os homens olham para o chão.  Os ingleses compram a mina.  Só, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota incomparável.             [ Alguma poesia , 1930 ] parece premonição, este poema publicado em 1930. por volta da década de 1940, o pico do cauê -- mais de mil metros de altitude -- foi destruído pela companhia vale do rio doce, para extração de minério, em itabira.  o poema -- versos brancos e livres -- contrasta as figuras da cidade à dos ingleses e reafirma a vitória do ferro  sobre a simplicidade natural. texto com caráter de crônica, revela a dor da cidade personificada em tutu, sabedor da derrota. qual derrota?... a da natureza. " ferraduras batem como sinos " é verso do...

torto arado - itamar vieira júnior - sinopse

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                                                                                                                                               [ foto: roger ballen ] romance, 2018 narrativa acontece em minas gerais,  entre os anos 1930 e 70 cenário base: fazenda água negra  que abriga, durante dezenas de anos, famílias negras, exploradas em troca de moradia. donana, ainda jovem, rouba faca que estava num coldre, esquecido num alpendre da fazenda caxangá. queria vendê-la, melhorar a vida. mas a faca era bonita,  guardou. quando soube que a filha carmelita era abusada pelo seu próprio companheiro, donana sangrou o homem,...

romance I ou da revelação do ouro - exercício

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jogo de cartas marcadas - drummond #4

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jogo de cartas marcadas sim. o mineiro de itabira escreveu demais, publicou demais, poderia ter sido mais econômico, menos verborrágico. mas cada um, cada um. tem lá seu "máquina do mundo", bom texto. fez aquele "no meio do caminho", no primeiro livro que o fez popular. nem "áporo" -- seu melhor poema -- é tão comentado quanto esse da pedra. é pouco, convenhamos.

romanceiro da inconfidência - cecília meireles

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ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA  - -  - narrativa que revê, no século 20, as atrocidades e frustrações do movimento libertário do século 18, em minas gerais. prevalece o tom evocativo e espiritualista, estilo da poetisa. há clima de ansiedade e mistério apesar da subjetividade inerente ao estilo da autora, há marcas do gênero épico, que se percebem no caráter nacionalista e histórico. além, claro, de certo teor heroico na caracterização dos chamados "inconfidentes". já escrevi, mas repito: "inconfidente" é designação que portugueses deram aos brasileiros que reclamavam das cobranças injustas de impostos sobre o ouro -- dentre outras questões.  "confidente"é quem confia. "inconfidente" é traidor.  logo, brasileiros chamarem outros brasileiros de "traidores" é incoerente.  contudo, esse nome -- título do livro de cecília -- está absorvido pela cultura brasileira, parece difícil mudar. prefiro usar "conjura...