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Mostrando postagens de setembro, 2021

sinfonia - olavo bilac - tarde

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      SINFONIA  Meu coração, na incerta adolescência, outrora,  Delirava e sorria aos raios matutinos,  Num prelúdio incolor, como o alegro da aurora,  Em sistros e clarins, em pífanos e sinos.   Meu coração, depois, pela estrada sonora  Colhia a cada passo os amores e os hinos,  E ia de beijo a beijo, em lasciva demora,  Num voluptuoso adágio em harpas e violinos.   Hoje, meu coração, num scherzo de ânsias, arde  Em flautas e oboés, na inquietação da tarde,  E entre esperanças foge e entre saudades erra...   E, heróico, estalará num final, nos clamores  Dos arcos, dos metais, das cordas, dos tambores,  Para glorificar tudo que amou na terra!       [BILAC, Olavo. Tarde , 1919]    nota      scherzo - peça musical ligeira, alegre   . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  ...

pra não dar explicações, mando falar com o setembro amarelo

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                                                 [ os gêmeos ] num muro perdido pela cidade pode-se ler :  " finjo estar tudo bem pra não dar explicações " é por aí a poesia do cinza. a narrativa de poeira e pedra que é essa solidão que a depressão entrega.  praticamente ninguém entende. setembro amarelo é pra poucos. quase ninguém ouve... quem tem depressão precisa sempre fazer concessões, cuidar do que diz e suportar conselhos aleatórios, ouvir críticas à postura, ao tipo de terapia, jeito de falar, essas coisas... uma distopia.  quem tem depressão precisa sempre dar explicação. e quase nunca adianta. setembro amarelo é um luxo. e para poucos.

samantha schmütz expôs o que quase todo meio artístico não quer ser

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em maio de 2021 e atriz samantha schmütz deu a letra: " Q ueria entender como que pode, o chefe da nação , na atual conjuntura, imitar alguém com falta de ar. O que é que a gente está esperando para fazer alguma coisa? Quem mais a gente vai esperar morrer? Quem mais o Brasil vai perder? Seja quem for. Que a mesma força que nos uniu no amor, em orações, nos una para tentar parar esse horror.  Então, acho que devia parar de fazer dancinha de TikTok. De verdade.  (...) um negócio que não vai ter fim nenhum além do entretenimento. Acho que a gente tem que se unir direito. Votar em quem acredita na ciência. Fazer mutirão pro que realmente importa. Não adianta fazer mutirão para reality show da vida dos outros. A nossa realidade está bizarra. Bizarra! E ninguém está usando todas as cartas. (...)   Não dá pra gente ficar postando -- nós, que temos milhões de seguidores, nada mais que não seja em prol da porra da vacina! Em prol de alguém fazer alguma coisa, porque quem pode faz...

casamento do céu e do inferno - drummond

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   C ASAMENTO DO CÉU E DO INFERNO No azul do céu de metileno a lua irônica diurética é uma gravura de sala de jantar. Anjos da guarda em expedição noturna velam sonos púberes espantando mosquitos de cortinados e grinaldas. Pela escada em espiral diz-que tem virgens tresmalhadas, incorporadas à Via Láctea, vagalumeando… Por uma frincha o diabo espreita com o olho torto. Diabo tem uma luneta que varre léguas de sete léguas e tem o ouvido fino que nem violino. São Pedro dorme e o relógio do céu ronca mecânico. Diabo espreita por uma frincha. Lá embaixo suspiram bocas machucadas. Suspiram rezas?  Suspiram manso, de amor. E os corpos enrolados ficam mais enrolados ainda e a carne penetra na carne. Que a vontade de Deus se cumpra! Tirante Laura e talvez Beatriz, o resto vai para o inferno.       [ C. Drummond.  Alguma poesia, 1930 ] texto de caráter descritivo e narrativo, quase didático, opondo os conceitos de céu e inferno, ou seja, o mundo da salvação e ...

itabira - drummond e o buraco do cauê

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        ITABIRA       Carlos Drummond de Andrade  Cada um de nós tem seu pedaço no pico do Cauê.  Na cidade toda de ferro  as ferraduras batem como sinos.  Os meninos seguem para a escola.  Os homens olham para o chão.  Os ingleses compram a mina.  Só, na porta da venda, Tutu Caramujo cisma na derrota incomparável.             [ Alguma poesia , 1930 ] parece premonição, este poema publicado em 1930. por volta da década de 1940, o pico do cauê -- mais de mil metros de altitude -- foi destruído pela companhia vale do rio doce, para extração de minério, em itabira.  o poema -- versos brancos e livres -- contrasta as figuras da cidade à dos ingleses e reafirma a vitória do ferro  sobre a simplicidade natural. texto com caráter de crônica, revela a dor da cidade personificada em tutu, sabedor da derrota. qual derrota?... a da natureza. " ferraduras batem como sinos " é verso do...

já é setembro de 2021

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  já é setembro de 2021 e a sensção continua de tristeza. no país, população totalmente vacinada, hoje, é de 39%. trinta e nove. bem menos da metade, para o tempo em que estamos. no estado de são paulo, 53% de vacinados completos. metade ainda.    [ dados atualizados em 23 / 09] variante delta se espalhando, inflação, saúde mental em frangalhos para a maioria dos brasileiros. e mortes. muitas mortes ainda. governo federal não quis comprar vacinas em 2020, por motivos que me recuso acreditar. as mortes vieram, devastadoras. houve pilhérias do presidente sobre pessoas com falta de ar e também campanha sórdida contra o isolamento. olhem, dia 07 de setembro de 2021, houve quem defendeu o genocida.  ou seja, existem os que apoiam a escalada do preço de combustíveis, do gás, da comida, apoiam homofobia, o fim do supremo tribunal e, por tabela, a falta do horário de verão que, nada, nada, evitava picos de consumo no final da tarde, brasil afora. hoje, o próprio governo fed...

dona tareja - fernando pessoa

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                                                         [ do site -  quebichotemordeu.com ]     D. TAREJA     As nações todas são mistérios.    Cada uma é todo o mundo a sós.    Ó mãe de reis e avó de impérios.    Vela por nós!    Teu seio augusto amamentou    Com bruta e natural certeza    O que, imprevisto, Deus fadou.    Por ele reza!    Dê tua prece outro destino    A quem fadou o instinto teu!    O homem que foi o teu menino    Envelheceu.    Mas todo vivo é eterno infante    Onde estás e não há o dia.    No antigo seio, vigilante,    De novo o cria!       [ Pessoa, Fernando . Mensagem, 1934 ] dona tareja é mãe de afonso henriques, o primeiro...