BALANCETE
José Paulo Paes
A esperança: flor
seca mas (acaso
ou precaução?) guardada
entre as páginas de um livro.
A incerteza: frio
de faca cortando
em porções cada vez menores
a laranja dos dias.
O amor: latejo
de artéria entupida
por onde o sangue se obstina
em fluir.
A morte: esquina
ainda por virar
quando já estava quase esquecido
o gosto de virá-las.
[in "prosas seguidas de odes mínimas", cia das letras]
balancete : documento que mostra movimentações financeiras em um certo período, numa empresa; serve também para identificar prejuízo ou lucro
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numa gradação que indica fim de vida, "balancete" apresenta pequena lista de temas que são caros ao humano comum, como "esperança", "dúvida" (medo); "amor" e "morte".
aqui, cada tema é tratado de modo a expor o seu lado triste, estéril, num pessimismo digno de fim de século.
a flor entre páginas de livro dá falsa esperança de que ainda haveria vida por ali. agora, cortar laranjas em porções menores fornece ideia de um desespero, necessidade de guardar, de adiar o fim da fruta, adiar o fim da vida...
ao final, a morte seria esse virar de página, ou seja, uma passagem para outras esferas... interessante que, na primeira estrofe, a metáfora da esperança esteja num livro com flor seca dentro. ao final, nova metáfora envolvendo livro: virar página da vida. o fim.
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