VOTO
À MINHA MÃE
No dia festival em que ela chora,
Com ela suspirar nos doces prantos!
Álvares de Azevedo
A
viração que brinca docemente
No
leque das palmeiras,
Traga
à tu'alma inspirações sagradas,
Delícias
feiticeiras.
A
flor gazil que expande-se contente
Na
gleba matizada,
Inveja-te
a tranquila e leda vida
Dos
filhos sempre amada.
Só
teus olhos rorejem délio pranto
De
mística ternura;
Como
silfos de luz cerquem-te gozos,
Enlace-te
a ventura!
Os
filhos todos submissos junquem
De
rosas tua estrada:
E
curvem-se os espinhos sob os passos
Da
Mãe idolatrada!
Tais
são as orações que aos céus envia
A
tua pobre filha:
E
Deus acolhe o incenso, embora emane
De
branca maravilha!
notas_
leda - feliz
délio - relativo à ilha de delos, em tempos de apolo (grécia)
gazil - elegante
silfos - seres espirituais ligados ao ar
gleba - porção de terra; terreno
rorejar - gotejar; orvalhar
junquem - cubram-se de juncos
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repare que o "embora", ao final, parece marcar uma contradição: apesar da grandiosidade e pureza dessas manifestações místicas, elas são ainda frágeis ou pequenas diante do que a mãe merece. o "embora", explicita que o que vai ser ofertado é único, mas vem de uma figura singela e humana: a filha que ainda está na terra.
este "embora" reforça a humildade do eu lírico: deus aceita as orações, mas elas vêm de uma criatura simples, como uma "maravilha branca", algo belo, porém efêmero. é um misto de gratidão e reconhecimento das próprias limitações.
"branca maravilha" pode signficar a pureza do gesto que, mesmo humilde, modesto, se eleva com sinceridade e amor.
no contexto, claro, do séc 19 e o universo moral da poetisa, podemos afirmar que esta expressão "branca maravilha" é poética, simbólica pois une a fé e a simplicidade de quem envia as orações, ou seja, algo puro.
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