romance da fase final da vida literária de eça de queiroz (1845-1900), "a ilustre casa de ramires" propõe uma espécie de paráfrase -- com algum humor -- para a trajetória política e econômica de portugal, desde a idade média, até o século 19.
personagem central, gonçalo mendes ramires, é o último fidalgo descendente de uma geração de ramires que sempre estiveram próximos da nobreza lusitana. ao final, o próprio joão gouveia, personagem, afirma que gonçalo é a representação de portugal.
por que injustiçado? porque leitores e leitoras do século 21 têm pressa. livros do século 19 -- em prosa -- não se encaixariam nessa ansiedade das gentes do tal século.
há muitas descrições ? sim. isso torna a narrativa lenta ? sim!
e o que fazer ? ler com calma. agora, se ficar insuportável, basta deixar de lado e procurar outra horta. nçao tem jeito. se quiser, pode ver o vídeo que fiz sobre o livro, logo aqui baixo.
olhem, é cultural da época, é do estilo do fim do século e início do séc 20, a narrativa lenta. está em dostoyevski, está em aluísio azevedo, raul pompeia, euclides da cunha, julia lopes... porque naquele tempo, predominava o determinismo, aquela tendência filosófica que acreditava ser o homem um escravo dos instintos e fruto do meio em que vivia. logo, fazia sentido o descritivismo de ambiente e de pessoas, o figurino, tudo, para poder justificar as ações dos personagens.
o joão de barro, ao contrário do que o nome sugere, não é feito de terra. trata-se
do singelo passarinho, conhecido no meio ornitológico como
"furnarius". uma ave que constrói algo parecido com um forno. o joão constrói sua casa porque chega o momento de abrigar fêmea e ovos. ele faz o
ninho quando chega o momento da postura, da incubação. é trabalho para o presente, por conta do
desejo de viver.
freud fala
que a consciência não representaria o todo de nossa percepção do mundo. no dia-a-dia absorvemos energias externas, impressões, calores, humores e
ansiedades para lidar com nossos planos e os planos dos outros. até aí, as
coisas.
muita gente
ainda crê que apenas a razão pode mover as pessoas para algum lugar. planos
para o futuro, planos para filhos, planos para o cachorro.
hoje, dá pra dar
tanto crédito assim ao futuro? acreditar em amanhã, normal, mas ficar só
pensando nisso, fazer da vida um eterno trampolim de vento para o talvez é demais. melhor é a lição do joão.
casa velha é narrativa relativamente curta, em prosa, e chamamos de "novela". o trabalho de machado saiu na revsita "estação", entre 1885 e 86.
o que tem nessa história:
rio de janeiro: 1839 é o tempo da narrativa. um casarão já antigo -- a casa velha -- com antônia, a viúva do ministro de d pedro I, no comando do lugar. há uma capela, no espaço externo.
destaques: padre narrador - 32 anos félix - filho de antônia, cerca de 20 anos antônia - viúva, dona da casa cláudia - 17 anos, órfã, vive com tia mafalda, educada na casa velha vitorino - moço humilde pretendente de cláudia (lalau) sinhazinha - futura esposa de félix
a trama: padre narrador quer escrever uma história sobre política nos tempos de pedro I. por indicação, vai até uma casa velha porque lá há documentos que podem ajudar a pesquisa, uma vez que o dono da casa, já falecido, foi ministro do rei. na casa velha, o padre desconfia de um amor entre félix (filho de antônia) e cláudia (lalau). leitor fica sabendo que a mãe de félix não quer a relação pelo fato da moça ser pobre. por insistência na liberação da relação entre ambos, o padre acaba descobrindo -- via d. antônia -- que os jovens podem ser irmãos, porque o tal ministro teve um caso extraconjugal com mãe de lalau. os jovens tomam ciência do fato, ficam tristes, separam-se.
mais tarde, o padre faz novas pesquisas e acaba sabendo que o filho que o minsitro teve com a mãe de cláudia faleceu com meses de idade. não era lalau, então, a irmã de félix: ela já era nascida quando o caso extraconjugal do marido de antônia se deu. tudo parecia resolver-se, quando o padre descobre que antônia inventou mesmo a história da possibilidade dos jovens serem irmãos justamente para separá-los. antônia tinha noção de que lalau não era irmã de félix... o tal padre narrador tenta reaproximar os dois, mas não dá certo: a jovem prefere ficar longe da casa pois o tal ministro envergonhou sua família. fim.
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a "casa velha" pode sim ser uma representação figurada do império brasileiro da época. existe a dona do espaço (antônia), existe o clero (narrador) e existe um pedro II querendo a maioridade (félix).
assuntos como a guerrados farrapos e a maioridade iminente do filho de pedro I permeiam a narrativa, é bom saber: eles são citados sim, daí ser relativamente fácil fazer o paralelo entre o casarão de antônia e o império brasileiro.
há uma outra questão importante, envolvendo padre narrador e sua personalidade, por conta da citação de um livro, visto dentro da casa: "storia fiorentina" e mostra uma nova visão sobre a relação do religioso com os dois jovens -- o que torna a capa do livro, no alto deste post, bem mais significativa.
esta "storia" pode também revelar contraste na postura do ministro, anteriormente, ou seja, livros religiosos ao lado deste, considerado depravado, na época. então, o ministro que levava vida recatada, também agia de modo condenável, quando de seu adultério com mãe de claudia. se bem que esta versão, a mim, parece simples demais em se tratando de machado. enfim.
agora, pra saber tudo, você precisa ver o vídeo abaixo.
julho 2022 e como estamos? ansiedade diminui mas existe. exercícios físicos são um tiquinho mais regulares. em seis meses perdi dez quilos. isso mesmo: dez. dieta, nervosismos, sorte, terapia, essas coisas. julho 2022. pais estão em casa de acolhimento de idosos. difícil usar o termo "asilo". nosso preconceito estrutural em relação à velhice é mais sólido que as pirâmides. asilo não dá. por tradição, brasil sempre descartou nossa gente idosa. mas isso não interessa agora. eles estão lá, o lugar parece bom, jardim, enfermagem, refeições frescas, exercícios e tempo. aqui, tenho comprimidos: o antidepressivo e um outro lá pra pressão alta. tem fitoterápico pra acalmar alguma engrenagem que se solte. óleos essenciais também tem aqui. três, quatro pessoas me ouvem regularmente. uma é a analista. então, pais estão nessa casa desde 16 de junho de 2022. e estamos em julho. e daí, você vai perguntar. daí que é difícil. pode ser que queiram sair. pode ser que enjoem... que se sintam abandonados. arrepia pensar nisso, cérebro tem vida própria e de tempo em tempo ele me joga nos olhos um desses cenários. eles estão lá, sendo cuidados, é o que importa. pelo menos eles.
governo federal ainda não tem um plano de vacinação em massa pra chamar de seu. quem tem atuado são governadores e prefeituras. além do sus, claro. as mortes continuam a galope, mesmo com mais de 22 milhões de vacinados, hoje, meio de abril. o mapa do país é verdadeiro arco-íris, onde se alternam fases vermelhas, roxas, amarelas e por aí vai, uma vez que cada estado buscou seus meios de conter pandemia e vacinar seus habitantes. sempre é bom lembrar que o governo federal recusou-se a comprar vacinas no final do ano de 2020 por puro capricho do presidente. simples assim. hoje, a tragédia só aumenta. também há quem não dê a mínima pra isso e continua transitando, distribuindo vírus pelo mundo. o que está faltando, afinal? é informação? o que é que está faltando? olhem, muita gente que pode ficar em casa insiste em sair todos os dias, até andar sem máscara ... é revoltante!
quem votou nessa tragédia, lá em 2018, não deve estar conseguindo dormir e isso é o mínimo que espero pra essa gente que sabia sim o que estava fazendo. era para castigar pretos, pobres, comunidade lgbt, mulheres e tudo em nome da família e do tal deus. por quê? porque brasileiro de elite -- e os que pensam que são -- odeiam dividir espaço com outras classes sociais. são egoístas, individulaistas, ignorantes mesmo. houve brasileiro que também aplaudia donald trump, hoje está meio murcho, esperando a banda passar e dizendo que tudo que está aí é culpa do vírus. antes fosse. minha saúde mental que há alguns anos é quase terreno baldio só se mantém viva porque há minha companheira, terapias e remédio... uma vez que muito do entorno só me deixa submerso na tristeza.
negação da ciência, crença em vírus comunista, crença na demência que nega a quarentena... sim, sim, estamos em abril de 2020 e há pessoas (parecem gente, pelo menos) que pregam volta ao trabalho pelo simples fato de que sem ele há menos lucro, menos caixa dois, menos submissão. já escrevi aqui, recentemente, que ficar em casa é ato contra burrice mais do que contra vírus. pior para a sandice que prega fim da quarentena, pois quem fica em casa conversa, mesmo que pouco, mas conversa. quem fica em casa ouve. quem fica casa presta atenção no que está em torno. essa gente que minimamente pensa já é uma tempestade contra quem prega fim da quarentena supostamente pelo bem da economia. se ficarmos em casa, menos infecções. se ficarmos em casa, menos mortes. melhor pra economia, num futuro breve. se voltarem aglomerações, mais mortes. essa gente que prega fim do isolamento sabe disso. tanto que faz manifestação de carro. a questão é não deixar o povo em casa porque eles, naturalmente, vão descobrir com quem está a verdade. . . . . . . . . . . . . . . . . vale a pena assistir, juro - -
é possível que haja luz no fim do túnel e não locomotiva na contramão
esta é mais uma postagem da série "literatura para salvar o mundo"
de repente, estudantes ou professores ou tudo isso junto sentem-se à vontade de fazer movimento pelo trabalho interdisciplinar, pela pesquisa; pelo exercício com a cidadania
exemplo
"capitães da areia" - amado séries sugeridas - 1a. a3a. série (emédio)
o que pode ser trabalhado moradia; menor abandonado; violência contra mulher; religiosidade (cristãos e o candomblé); adoção
* existe problema de moradia na região de sua escola ou no bairro onde mora? * no início do livro, há relatos de meninas violentadas na praia: discutir o respeito às mulheres * um dos conflitos da narrativa é a prisão de uma imagem: ogum (guerreiro) ... em que medida o racismo é institucionalizado, até hoje? * como funciona o process de adoção, em seu país? - o intuito é provocar discussão sobre as relações que se estabelecem entre pessoas
- claro que o educador, a educadora, pode perguntar sobre as características do modernismo ou o significado do nome "sem-pernas" para o jovem do grupo de pedro bala etc etc ... mas nossa proposta principal é a da civilidade, o exercício de humanidade
de repente, com atividades envolvendo empatia, descoberta do outro ou reconhecimento da diversidade, poderemos ver, num futuro, pessoas que busquem a verdade, o respeito, não creiam em sandices como terra plana ou campanhas contra vacina, que queiram a união e não se sintam sozinhas diante de injustiças.