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Mostrando postagens com o rótulo odes

ceia - josé paulo paes

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                                                              José P Paes  1926-98        C E I A    Pesca no fundo de ti mesmo o peixe mais luzente.    Raspa-lhe as escamas com cuidado: ainda sangram.    Põe-lhe uns grãos do sal que trouxeste das viagens    e umas gotas de todo o vinagre que tiveste de beber                                                                           na vida    Assa-o depois nas brasas que restem em meio    a tanta cinza   Serve-os aos teus convivas, mas com pão e vinho   do trigo que não segaste, da uva que não colheste   ...

balancete - josé paulo paes - comentário

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  [ J P Paes - 1926-88 ]         BALANCETE                                            J o sé P au lo P a es      A esperança: flor    seca mas (acaso    ou precaução?) guardada    entre as páginas de um livro.    A incerteza: frio    de faca cortando    em porções cada vez menores    a laranja dos dias.    O amor: latejo    de artéria entupida    por onde o sangue se obstina    em fluir.    A morte: esquina    ainda por virar    quando já estava quase esquecido    o gosto de virá-las.           [in " prosas seguidas de odes mínimas ", cia das letras] b alancet e :   doc umen to que m ost ra movi menta ções fi nanceiras e m u m certo per íod o, nu m a em ...

aos óculos - josé paulo paes - comentário

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           AOS ÓCULOS    [ José Paulo Paes ]     só fingem que põem       o mundo ao alcance     dos meus olhos míopes.     já não vejo as coisas     como são: vejo-as como querem     que eu as veja.       logo, são eles que vêem,     não eu que, cônscio     do logro, lhes sou grato     por anteciparem em mim     o Édipo curioso     de suas próprias trevas.      [in " prosas seguidas de odes mí nimas ", 1992]   . . . . . . . . . . .  .  .  .  .  .   .   .   . dos doze versos, pelo menos quatro com cinco sílabas poéticas, sugerindo, logo de início, um ritmo tradicional, a redondilha menor. as lentes dos óculos mentem a realidade. as lentes podem ser essa representação de consumismo, como já se viu no poema "ao shopping center", no mesmo livro. as...

escolha de túmulo - josé paulo paes - comentário

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                                                        [ j p paes - por osvalter ]           ESCOLHA DE TÚMULO                                José Paulo Paes                                 Mais bien je veus qu'un arbre                              m'ombrage au lieu d'un marbre .  -  R onsar d -   Onde os cavalos do sono   batem cascos matinais.   Onde o mundo se entreabre   em casa, pomar e galo.   Onde ao espelho duplicam-se   as anêmonas do pranto.   Onde um lúcido menino   propõe uma nova infância.   Ali repousa o poeta.  ...

canção de exílio - josé paulo paes - comentário

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                                             CANÇÃO DE EXÍLIO                        José Paulo Paes [1926 - 98]   Um dia segui viagem   sem olhar sobre o meu ombro.   Não vi terras de passagem   Não vi glórias nem escombros.   Guardei no fundo da mala   um raminho de alecrim.     Apaguei a luz da sala   que ainda brilhava por mim.   Fechei a porta da rua   a chave joguei no mar.   Andei tanto nesta rua   que já não sei mais voltar .     [in " prosas seguidas de odes mínimas ", cia das letras ]   . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   .   .    . poema paródia do adocidado "canção do exílio", gonçalves dias, 1843. aqui, século 20, ao contrário das boas expectativas no citado po...