O CONDE D. HENRIQUE
Todo começo é involuntário.
Deus é o agente,
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.
À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
«Que farei eu com esta espada?»
Ergueste-a, e fez-se.
[ in: Mensagem, 1934, Fernando Pessoa ]
- notas -
conde d. henrique (1057-1114) - nobre militar, alistado no exército de afonso VI
(leão e castela) para combater mouros; casou com tareja, filha do rei e tornou-se
governador do condado portucalense, em 1093
o condado seria o núcleo do país independente, sob comando do filho de henrique e
tareja: afonso henriques
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
- henrique parece agir sob comando de uma energia maior: "fez-se", é
o que se lê no fim, assim como "deus é o agente", verso 2
- o conde é o embrião do país, como se vê na história e o poema denota
que, sem saber o que fazer com o poder (espada), apenas a ergueu e isso
foi o bastante
- a razão pela qual fatos acontecem pode escapar do entendimento: isso
é uma tônica no livro "mensagem" como um todo
- homem seria instrumento de algo maior