O INFANTE
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
F Pessoa - Mensagem 1934
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o poema pertence ao livro "mensagem", originariamente concebido com
o nome "portugal", depois modificado para o que conhecemos hoje.
participa, o livro todo, de um concurso oferecido pelo governo luso mas
não chega a vencer. a mudança se deu a conselho do amigo cunha dias
que achava o nome jáum pouco vulgarizado, gasto, na época.
pessoa concordou. "mensagem", de propósito, foi nome escolhido por
ter o mesmo número de letras.
o livro, como um todo, traz relações com o épico de camões,"os
lusíadas", porquehistórico e por vezes narrativo. contudo sobram
lirismo e caráter reflexivo, marcas impressionistas e até clássicas
(soneto), neste conjunto que, no mínimo se equipara à grandiosidade
de obras como as de camões.
"infante" é aquele que há de ser. filho de reis mas não diretamente ligado
ao trono. o texto é dedicado a dom henrique, morto em 1460.
ele faz referência à rotunda forma do planeta.
a mágoa reinante no desfecho é similar à que se lê em "mar português",
mas bem menos contundente.
aqui, neste "infante" parece que a vontade de deus ou o sonho humano
se esfarelou. o mar está, deus é, mas portugal carece de bom destino.
o fim do império luso, reza a lenda, teria começado com o sumiço de
dom sebastião, 1578. não por acaso, nome de um dos poemas deste
"mensagem".
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