terça-feira, 28 de janeiro de 2025

nebulosas - livro de narcisa amália - comentário

 




narcisa amália de campos (1852-1924)
nasceu em são joão da barra, rio de janeiro e faleceu na cidade do rio de janeiro

"nebulosas": poesias românticas com algum teor crítico. isso a aproxima do que fez castro alves, na mesma época, ou seja, na segunda metade do século 19. o livro de narcisa é de 1872. 
o livro apresenta três partes: a primeira com um poema apenas, "nebulosas"; a segunda com 27 poemas e a terceira, 16 poemas. o texto que abre esta última parte é justamente "castro alves".
no geral, o que chama atenção do leitor, hoje, é o excesso de termos raros, uma escolha lexical que pode cansar o leitor apressado, dificultando a interpretação, num primeiro momento. é preciso estar sempre próximo a um dicionário.

no conjunto, a obra "nebulosas" é de lirismo denso, místico, lavado de cristianismo e melancolias. a natureza é constantemente citada como cúmplice das emoções, em muitos poemas. o livro "nebulosas" também traz atmosfera contemplativa e, muitas vezes, mora aí o elemento divino. recheado de adjetivos, é puro romantismo.
o aprimoramento técnico no trabalho com a linguagem chama atenção justamente num universo em que o feminino pouco transitava: o mundo erudito (e masculino) das letras, século 19.

veja o poema "nebulosas" que abre o livro:


            NEBULOSAS

 No seio majestoso do infinito,

– Alvos cisnes do mar da imensidade –

Flutuam tênues sombras fugitivas

Que a multidão supõe densas caligens,

E a ciência reduz a grupos válidos;

Vejo-as surgir à noite, entre os planetas,

Como visões gentis à flux dos sonhos;

E as esferas que curvam-se trementes

Sobre elas desfolhando flores d'ouro,

Roubam-me instantes ao sofrer recôndito!

Costumei-me a sondar-lhe os mistérios

Desde que um dia a flâmula da ideia

Livre, ao sopro do gênio, abriu-me o templo

Em que fulgura a inspiração em ondas;

A seguir-lhes no espaço as longas clâmides

Orladas de incendidos meteoros;

E quando da procela o tredo arcanjo

Desdobra n'amplidão as negras asas,

Meu ser pelo teísmo desvairado

Da loucura debruça-se no pélago

Sim! São elas a mais gentil feitura

Que das mãos do Senhor há resvalado!

Sim! De seus seios na dourada urna,

A piedosa lágrima dos anjos,

Ligeira se converte em astro esplêndido!

No momento em que o mártir do calvário

A cabeça pendeu no infamo lenho,

A voz do Criador, em santo arrojo,

No macio frouxel de seus fulgores

Ao céu arrebatou-Ihe o calmo espírito!

Quando desci mais tarde, deslumbrada

De tanta luz e inspiração, ao vale

Que pelo espaço abandonei sorrindo

E senti calcinar-me as débeis plantas

Do deserto as areias ardentíssimas:

Ao fugir das cendais que estende a noite

Sobre o leito da terra adormecida,

Fitei chorando a aurora que surgia!

E - ave de amor - a solidão dos ermos

Povoei de gorjeios melancólicos!..

Assim nasceram os meus tristes versos,

Que do mundo falaz fogem às pompas!

Não dormem eles sob os áureos tetos

Das térreas potestades, que falecem

De morbidez nos flácidos triclínios!

Cortando as brumas glaciais do inverno

Adejam nas estâncias consteladas

Onde elas pairam; e à luz da liberdade

Devassando os mistérios do infinito,

Vão no sólio de Deus rolar exânimes...

                                

     notas_

  frouxel – qualidade daquilo que é macio; penugem macia

  flux  -  abundamente; não deixar escapar nada

  infamo – difamado; desonrado

  procela  -  tempestade

  tredo  -  falso; traidor

  pélago – espécie de abismo oceânico

  triclínio  - roma antiga: sala de jantar com três leitos (similares a               sofás) - eram símbolo de luxo e ociosidade

  cendais - tecidos finos e transparentes

  clâmide – manto, na grécia antiga, que se prendia com um broche

  exânime  -  quase morto; moribundo

  sólio  - acento elevado típico de uso real

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poema "nebulosas" apresenta o eu lírico em dois momentos distintos: no início, a comparação do céu estrelado com "alvos cisnes do mar da imensidade" traz sensações de leveza e beleza etérea. a imagem dos cisnes sugere movimento gracioso e harmonia. num outro momento, embebida nas reflexões e no êxtase de encantamento, cita a morte de cristo e começa a fazer ponderações sombrias sobre a vida.

o poema é uma espécie de justificativa aos demais do livro.  "nebulsosas" é o primeiro poema. 

no desfecho do poema"nebulosas," o sentimento de leveza e pureza dá lugar a uma visão um pouco mais pesada e melancólica da existência. de modo metalinguístico, o eu lírico confessa que então os versos ficaram tristes.

a presença dos triclínios faz contraste com a imensidão divina das nebulosas, ou seja, a pequenez da vida humana e seus luxos não alcançam a beleza e a energia das nebulosas.
as linhas finais, como "cortando as brumas glaciais do inverno" e "vão no sólio de deus rolar exânimes" mostram que a busca por compreensão e inspiração se esgota, resultando em resignação. a leveza do início transforma-se em um peso existencial, revelando que a pureza não resistiu às profundezas reflexivas do eu lírico. as nebulosas são símbolo de beleza e mistério, aqui. o caráter divino (cristão) é presente no poema, assim como em praticamente todo o livro. 
a visão final é de uma conexão com o divino, mas marcada por sacrifício e dor, ao invés da pureza intocada que aparece no começo.


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domingo, 19 de janeiro de 2025

opúsculo humanitário - nísia floresta brasileira augusta

               

          dionísia pinto lisboa  - -  nome oficial
      nísia floresta brasileira augusta  - -  pseudônimo

- "floresta" faz referência ao sítio onde nasceu (rio g do norte)
- "augusta" é o nome do marido falecido, "augusto"

filha do português dionísio pinto lisboa e da brasileira antônia clara freire, dionísia nasceu no rio grande do norte, em 1810. morreu na frança, em 1885. 

no início de "opúsculo humanitário", nísia expõe o modo como mulheres foram tratadas em épocas distantes, como na grécia, pérsia e egito, por exemplo, antes de cristo. passa pelos pensamentos de platão, sócrates, cita dario, safo, perictione (mãe de platão), aspasia, indo à idade média, chegando até -- mais recente --, a cornelia bororquia.
vale explicação: "cornelia bororquia" é nome de um livro anticlerical, do final do século 18, com subtítulo: "a verdadeira história da judith espanhola". o livro é de luiz gutierrez, um ex frade

entre os capítulos 1 e 7, apenas alemanha é citada de modo positivo, no que diz respeito ao modo como educam mulheres, vejam: 

"Os alemães (...) concederam à mulher privilégios reais, baseados na educação sólida desse povo por demais profundo e morigerado, para compreender toda a importância da mãe de famílias, da matrona esclarecida edificando os filhos e o sexo com exemplos de uma sã moral, (...) O legislador alemão, quando estabeleceu no casamento a igualdade entre os sexos, compreendeu, melhor que nenhum outro, a sabedoria do Eterno, doando ao homem e à mulher a mesma inteligência."  (cap 6)

ao tratar de sociedades como as citadas (grécia, alemanha etc), o "opúsculo" de nísia se esmera em citar figuras acadêmicas importantes destas sociedades, a maioria homens. com o reino unido não é diferente. shakespeare, bacon, raleigh e outros fazem fila no discurso de nísia ilustrando a visão laudatória da escritora sobre os ingleses. estamos no capítulo 8. vejam:

"O povo inglês (...) não podia deixar de facultar à mulher a liberdade e os meios do segui-lo nos progressos da civilização moderna. (...) Assim também, compreendendo melhor que as suas ilustradas vizinhas do continente a importância dos sagrados deveres de esposa e de mãe, a mulher inglesa não vê, como geralmente aquelas, no casamento um estado que as liberta do jugo de solteira, e lhes permite uma liberdade, de que nem sempre fazem bom uso. Pelo contrário, é neste novo estado que começa para ela a prática de todas as virtudes da vida doméstica. Pode dizer-se que o primeiro dever maternal e inato à mulher inglesa, a quem, a civilização nada tendo feito perder do sentimento que o ordena, não foi necessário um "Emilio" de Rousseau para indicar-lho. (...) A mulher Inglesa, educada nos severos princípios de uma sã e esclarecida moral, dá provas desde sua mais tenra mocidade de uma discrição e modesta altivez, que as mulheres das outras nações não lhe podem disputar." (cap 8)

nísia compara inglesas e francesas e detona a terra de rousseau. venera o modo de vida das mulheres britânicas. vejam a ironia com as francesas: "ilustradas vizinhas" e "liberdade de que nem sempre fazem bom uso". vale notar que o livro de rousseau trata da educação e a visão aí é iluminista. parece que nísia não se liga muito às liberdades expostas nos tempos após a revolução francesa. e mais: o final do século 18, a frança expôs uma necessidade de separar igreja de estado. como se vê, a fé católica de nossa escritora faz com que essa história toda de "libertè", "igualitè" e afins seja inferior à vida na terra de darwin.

os capítulos 11 e 12, por sua vez, admitem que a figura feminina tem seu destaque:

"Se a severidade de uma página da legislação francesa exclui a mulher da supremacia de que gozam as mulheres das duas nações de que falamos ultimamente, o império do espírito, em cujo trono ela se assenta como absoluta soberana, prodigamente a indeniza dessa parcialidade, depondo em suas mãos (...) os destinos dessa bela nação. (...) as virtuosas Maintenon, Antoinette e Adelaide, esclarecida conselheira de Luiz Philippe, tem dirigido, mais que os reis, o governo da França.(...) a mulher francesa não se limitou somente aos exemplos da coragem, que deu a Joanna d’Arc a glória de libertar a pátria do poder dos ingleses, (...) 

ao final do cap 13, a citação de michelet (1798-1874), sem contextualizar:

“Etre aimée, enfanter, puis enfanter moralement, élever l’homme, (ce temps barbare ne l’entend pas bien encore); voilá l’affaire de la femme"

tradução: Ser amada, dar à luz, depois dar à luz moralmente, elevar o homem (este tempo bárbaro não o entende bem ainda); eis o papel da mulher.

ou seja, procriar e ser submissa à figura masculina. 
a seguir, nísia trata da américa:

"Passemos à América, essa poderosa rainha que se apresenta por último no palco da civilização, grandiosamente ataviada de todos os ricos dons da natureza e pulsando-lhe no peito um coração superabundante de nobres e virginais sentimentos." 

repara que nosso continente é tratado rigorosamente na visão eurocêntrica: só se considera que existe américa após chegada das gentes europeias. triste isso. mas segue:

"Todos sabem que quanto mais ociosa é uma nação, tanto maior é o espírito de galanteio que a domina: os importantes trabalhos que ocupam os americanos do norte não lhes deixam tempo para a polidez dos franceses."

mais uma pancada nos franceses. e o que seria uma nação "ociosa" ?...
resposta: aquela que não foi invadida, colonizada por europeus... claro está que, indiretamente, o conceito de civilização mora na essência do viver europeu e nada resta aos nativos desta américa, a não ser obedecer e aceitar novos costumes e leis. desanimador.
segue:

"Esperamos somente que os zelosos operários do grande edifício da civilização, em nossa terra, atentem para os exemplos que a história apresenta, do quanto é essencial aos povos (...) o associarem a mulher a esse importante trabalho. (...) Entretanto sigamos o exemplo do pobre e corajoso explorador de nossas virgens florestas, exposto aqui e ali à mordedura de venenosos répteis, para rotear um campo, que outros terão de semear e colher-lhes os saborosos frutos.... (cap 18)

gente! a construção de uma sociedade boa, na concepção de nísia, é a de que a floresta é pra ser explorada mesmo. ponto. azar de quem vivia dela, desde as pinturas rupestres, cerca de 50 (cinquenta) mil anos atrás. olhem, difícil crer que -- neste livro -- nísia floresta estabeleça necessidade de respeito com nativos anteriores à chegada de europeus, sinto muito. 

agora preparem-se para este trecho que cita família indígenas:

"Isto posto, indaguemos, à vista do estado atual da educação das nossas brasileiras, quais os meios que se têm empregado, há mais de três séculos, para promover o seu desenvolvimento, em ordem a conseguir os resultados felizes que dela se deve esperar, quando dirigida por instituições sábias e liberais."

pausa: brasileiras existem há três séculos?? é isso?? sim, é o que está escrito, ou seja, contando no dedo pra ficar claro: séculos 16, 17, 18 e pedacinho do 19. e os 40 mil anos anteriores com famílias indígenas e suas histórias? nísia não considera importante. triste né? segue:

"Retiremos por agora os olhos das tristes páginas de nossa história concernentes à situação da mulher indígena, depois que o farol do cristianismo veio esclarecer esta mais deliciosa porção do novo mundo. Nós a analisaremos em lugar competente e com o coração profundamente compenetrado da sua sorte! Tratemos primeiramente das mulheres a quem os homens da civilização, entre nós, denominam brasileiras, isto é, as mulheres não indígenas, que nascem de famílias livres, ou aquelas que a bondade dos pais resgata, na pia batismal, do triste selo da escravidão!"

por "esclarecer", entende-se a violação de cultura e imposição do cristianismo e o que mais se sabe que veio junto. aqui, civilidade significa a vida dos brancos europeus, ponto. existe sim a ressalva da escravização, mas repara novamente: a negritude escravizada será salva depois de se converter ao cristianismo, na "pia batismal". ou seja, nada de respeitar as tradições afro. esquece.

mais sobre a mulher indígena, no brasil:

"Quereis ver a esposa terna, previdente, dedicada e fiel? Contemplai a célebre Paraguassú captando para o esposo as simpatias e os favores da sua tribo, ajudando-o em sua missão civilizadora, e civilizando-se ela mesma para amenizar-lhe os dias, privado como se achava ele das comodidades europeias. Circunspecta e fiel aos seus deveres, quando passou a França e apresentou-se na corte de Caterina de Médicis, (...) ela atraiu a admiração de todos, por seu tipo americano, suas graças ingênuas e sua dedicada afeição pelo esposo, com quem voltou à Bahia, no mútuo e constante empenho de utilizar aquela nascente colônia. Quereis admirar o amor em toda a sua espontaneidade e na grandeza da abnegação pessoal? Vede Moema; a sensível e infeliz Moema, lançando-se ao mar, seguindo a nado o navio que lhe levava o homem por quem só prezava a existência e por quem queria morrer não podendo com ele viver! ..." (cap 59)

socorro. todos conhecem a história de paraguaçu (assim, com cedilha, como manda o figurino) e do navegante português diogo álvares correa (apelidado "caramuru"). o caso amoroso entre ambos se dá no século 16, bahia. ela é tupinambá. foi rebatizada "catarina álvares paraguaçu". moema seria sua rival, digamos. se bem que no caso de moema, há quem afirme que ela é ficção, que só existe no livro de durão. aconselho você que me lê a ir em "meus livros", aqui acima. clica em "letra líquida". lá, trato dessa questão de moema e o que o sentimento amoroso pode fazer com alguém.

no capítulo 21, contudo, há espaço para ilustração de uma situação prejudicial à vida das mulheres no mundo acadêmico, que é de uma portuguesa, no século 16:

"Citaremos Públia Hortênsia de Castro (1848-95), que, sob os trajes masculinos, frequentou com seu irmão a Universidade de Coimbra, onde obteve os grandes conhecimentos, que excitaram a admiração dos homens de sua época, inclusive Filipe II. 

vejam o início do capítulo 50:

"Boas mães e esposas fiéis, eis aqui duas qualidades preciosas comuns às nossas indígenas, dois vínculos santos que ligam e enobrecem a família, vínculos que sabem, no estado selvagem, respeitar apresentando exemplos que bem merecem ser considerados pelas mulheres civilizadas de todos os países."

os elogios à mulher indígena são inerentes à sua postura submissa, não só a um homem, mas a uma cultura que não era a dela. parece que o sonho de toda figura humana -- segundo a escrita de nísia -- é viver como europeus. 

já o capítulo 60 traz alguma luz da coerência social:

"Quando, por sábio decreto de um rei justo e humano, a revoltante escravidão dos nossos indígenas foi abolida, e a introdução dos infelizes africanos veio substituir o vergonhoso tráfico, que em todo o Brasil se fazia com aqueles, julgou-se conveniente procurar exterminar os que acabavam de libertar-se, de direito que não de fato, porquanto a perseguição continuou debaixo de outro caráter; e ainda em nossos dias, com horror o sabemos! Caçam-se os selvagens em suas matas como animais ferozes, para apreendê-los e arrancar-lhes as mulheres e filhos, que se retêm e fazem servir como escravos... em muitas roças e casas do interior das províncias!"

parece contraditório -- e é -- pregar contra a escrvização de indígenas, ao mesmo tempo que se acredita apenas no catolicismo como um bem para essa gente... agora, no capítulo 61, lemos:

"Do pouco que havemos expandido relativamente às qualidades naturais da mulher indígena, queremos concluir que ela é digna de ocupar outra posição em nossa terra; e que o desprezo, com que foi sempre, e continua a ser olhada a sua raça pelas nossas outras populações, é um abuso antinacional, anticristão, que os nossos governantes e o nosso clero devem fazer desaparecer, empregando, por bem da pátria e da igreja, meios mais próprios e seguros para consegui-lo. A humanidade e a civilização reclamam imperiosamente deles convenientes medidas para arrancar essa pura, digna porção do povo brasileiro à vida em que vegeta, e torná-la útil como incontestavelmente pode ser a uma e a outra."

pois é... indígenas "vegetam"; indígenas devem ser arrancados de onde estão para o bem da pátria.. deveriam ser "úteis". ahã.  

o capítulo 62 é o último e termina assim, com um pedido aos governantes do brasil:

"Não vos diz a consciência que a mulher nascida nesta vigorosa terra superabundante de magnificências naturais, respirando sob um céu radiante, no meio da poesia de tão admirável natureza, não se pode limitar ao papel que tem até hoje representado? Não sentis que a sua missão nesta parte da América civilizada (...) não deve ser a de recolher factícios triunfos tributados à matéria, quando o seu espírito pode e deve pretender a elevar-se a mais dignas e nobres aspirações promovendo na terra o bem do seu semelhante? À providência, colocando-vos tão vantajosamente, pareceu chamar-vos a comandar um dia os destinos de toda a América do Sul, assim como aos filhos da União os de toda a América do Norte. Eia! Se, com mais rico solo do que o dos Estados Unidos, faltou-vos a mola principal – a educação, para a par deles marchardes, preparai-vos ao menos a satisfazer dignamente a parte essencial da grande missão que vos fora destinada. Educai para isto a mulher, e com ela marchai avante na imensa via do progresso, à glória que leva o renome dos povos à mais remota posteridade!"
                                                                [  fim  ]
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domingo, 12 de janeiro de 2025

balada de amor ao vento - paulina - história de amor

                                   

  "balada de amor ao vento" -- romance, 1990, moçambique - paulina chiziane

- narração: predominantemente primeira pessoa pela figura feminina: sarnau
- existe, principalmente, nos capítulos 7, 15, 16 e 17, a presença de um narrador onisciente 

"o passado persegue-nos e vive consosco cada presente" (...) eu tenho um passado, esta história que quero contar"

mambone, às margens do rio save, começo de tudo. no início da história, ela revela que ali aprendeu a amar a vida e os homens.

"Tudo começa no dia mais bonito do mundo, beleza característica do dia da descoberta do primeiro amor. (...) Eu estava bonita com a minha blusinha, cor de limão (...). Coloquei-me na rede para ser pescada, e por que não? Já era mulherzinha e já tinha cumprido com todos os rituais. As mulheres atarefadas giravam para cá e lá no preparo do grande banquete. O aroma das carnes excitava o olfacto, fazendo crescer rios de saliva em todas as bocas (...)"

sarnau se aproxima de mwando. descobre que ele quer ser padre. mesmo assim, à beira do rio save, eles se revelam.

"Emudecemos de repente. As mãos encontraram-se. Veio o abraço tímido. Trocamos odores, trocamos calores. Dentro de nós floresceram os prados. Os pássaros cantaram para nós, os caniços dançaram para nós, o céu e a terra uniram-se ao nosso abraço"

mwando em conflito: quer ser padre mas está ligado a sarnau; o padre do colégio descobre carta que mwando escrevia para a moça. é expulso

sarnau revela a ele que está grávida, mas mwando já está de casamento marcado com moça que a família dele arrumou

sarnau entra em agonia. descobre, em seguida, que irá casar-se com nguila, da família zucula (nobre). família de sarnau foi lobolada. ou seja, o lobolo é uma espécie de compra de casamento: ofertam-se bens à família da noiva: aqui, foram 36 vacas e mais algum dinheiro

casada, separada da família, tem sensações conflitantes: vai absorver os benefícios da riqueza material do marido, mas sabe que terá função de ser dócil e agradável o tempo todo. por ter liderança nobre, nguila pode ter outras mulheres: poligamia. mas por ter chorado de ciúme ante postura nguila com uma das outras esposas, ela acaba tomando pontapé e soco. sangra, perde dente. a sogra insiste que ela deve obedecer e que será feliz assim.

mwando, por sua vez, casara-se com sumbi mas a relação deteriorou-se. ele fazia as vontades dela e era criticado até pelos anciãos. o casamento termina 

a morte do rei de mambone faz ascender ao trono nguila, o filho -- marido de sarnau; mwando ressurge a aborda sarnau; eles se declaram, se amam, ela fica grávida

graças a feitiços e fé nos mortos, sarnau consegue que seu marido tenha relações com ela, enconbrindo assim a gravidez adúltera. nasce zucula, filho de sarnau com mwando; phati -- a preferida do rei -- flagra encontro entre mwando e sarnau: conta tudo a nguila, o marido delas: o rei diz que matará ambas -- phati e sarnau

mwando e sarnau fogem; phati é morta
pouco tempo depois, no local onde se refugiam, surge nhambi, amigo de infância, para matar mwando a pedido do rei: mas mwando consegue um tempo para voltar para casa e decide fugir 

ele vai par angola... lá, é conhecido como padre-moçambique e vive em meio a degredados e a desgraça da vida do povo que trabalha na lavoura. 

quinze anos depois, ele volta para moçambique, em busca de sarnau -- ela agora vive de vender legumes numa feira, já havia se prostituído, perdera um ovário --  eles trocam juras de amor; contudo, ela diz que pode ficar com ele, mas contanto que pague: ela explica que teve de se prostituir para viver e que ele a traiu, causando sofrimento -- sarnau insiste que para ficar com ele é necessário pagamento: o preço de vinte e quatro casamentos, fruto do lobolo que envolveu trinta e seis vacas -- no passado --, animais estes que puderam gerar outros casamentos além do dela, na época

mwando parte porque não tem como pagar o que sarnau exige. tempos depois, ele ressurge, pede para ficar e é aceito

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domingo, 5 de janeiro de 2025

não passe pela direita

 

[ stefania, bril - são paulo, 1974 ]

foto da stefania bril, em 1974, do elevado "costa e silva" -- o general ditador, que bancou o AI - 5, dentre outras atrocidades.

conhecido como minhocão, ele foi rebatizado "joão goulart", tempos depois.

a foto, hoje, é tragicamente poética. e necessária. 
para frear a sanha ambiciosa e violenta desta extrema direita é necessário algo simples: votar. daí, fica mais fácil respirar.
basta reconhecer, em sua cidade, políticos (homens, mulheres) que apoiem a natureza, educação e democracia. o básico!

então, eleger essa gente! 

no dia da eleição, lembrar que política é do povo e para ele, e não um prêmio pra supostas celebridades.





sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

duas fotos

[ são paulo, dezembro 2024 ]

gosto dessa foto. mais ainda da que está por dentro, é um rosto de buda. a flor na foto dentro da foto é a mesma do vaso, acho que dá pra ver
é apartamento de carolina, filha do meio, são paulo, região do tatuapé.

as duas fotos fui em quem fez. a maior, agora, em dezembro 2024, a que está dentro, há anos. carol sempre carregou o quadrinho por onde morou
o ano foi intenso, denso, cheio de altos e baixos. mas não foi tão brutal como 2023, quando tive crise de ansiedade fortíssima, em julho. hoje, continuo na luta contra o sobrepeso, contra a sequela do câncer de próstata (retirado em 2018) mas acho que vou conseguir... família perto sempre acolheu tornando tudo bem leve, isso dá confiança. é amor que fala?

dezembro é mês de recesso escolar, então haverá chance de regular planos para o sobrepeso e mais terapias, vamos ver...
também estou mais perto de quem carrega os fardos e algumas delícias, isso importa. bia, filhos, irmão renato e quatro, cinco amigas e amigos.

mas eu tinha começado esse texto pra desejar feliz ano novo pra família. 

então, faço: feliz ano novo, família!
amo! obrigado!

:)

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sexta-feira, 29 de novembro de 2024

canção para ninar menino grande: a escrevivência de conceição evaristo

 


narradora -- numa espécie de prólogo -- explica ao leitor que vai contar histórias de amor e que o processo é difícil. 
o relato do livro trata das relações de mulheres com um homem chamado fio jasmim. no presente da história, ele está com 44 anos, casado, vários filhos, da esposa pérola maria e de outras, como dalva, a ruiva.

a construção do livro é obra de duas mulheres: a narradora e juventina. outras mulheres que surgirão na narrativa: aurora, dos santos, angelina, dolores, antonieta, tina, dentre outras. tina é apelido de juventina. 

"(...) a fala suspensa foge da escrita. E mais, a grafia não registra a intensidade de um silêncio intervalar, diante de um renovado estado de estupor (...) só falarei do brilho das estrelas, das árvores frondosas que habitam determinada esquin e debulharei as palavras, da sua raiz até suas derivações, se tudo me vier agarrado à vida (...) fui uma das mulheres de fio jasmim (...) não, o moço não me é estranho , como as mulheres que estiveram com ele também não. eis o motivo de minha preocupação em escutar todas. são muitas, plurais e diversas as vozes que me provocavam a escrevivência

depois, a narrativa se inicia com o mal estar de juventina. dores no peito. assusta as amigas que a acolhem e pedem que ela levante os braços e que cante, para ativar os sentidos, melhorar a dor, mostrar que está bem. ela canta "canção para ninar menino grande".

o livro é composto por episódios que narram encontros de fio jasmim com mulheres, nas cidades em que o trem para. na juventude, ele foi auxiliar de maquinista e tinha sido educado para se envolver sexualmente com mulheres. "pai (...) ensinando ao filho, quando ele ficou rapazinho, como conquistar as mulheres". fio jasmin, crescido, conquistava, seduzia -- ou era seduzido -- e depois seguia adiante com o trem, abandonando tudo, até mesmo mulher grávida. a masculinidade de jasmim -- atrelada ao apoio dos dois maquinistas mais velhos -- é cruel, toxica, misógina. ele se comporta como um corpo que carece de satisfazer os desejos e é motivado a isso pelos homens em seu entorno, incluindo a  memória de seu pai que o incentivava a provar virilidade. existe o episódio do "príncipe", na escola: criança, não o deixaram  fazer o papel de príncipe, por ser negro.

numa das passagens da história, dolores dos santos recebe um envelope e descobre, dentro dele, foto de jasmim com pérola maria e seis filhos. era uma mensagem avassaladora: ele realmente mentira para ela. dolores tinha duas filhas com jasmim: rubia e safira. dolores teve ódio. certa vez, olhando novamente a foto, percebeu no rosto de pérola as faces de outras mulheres, parentes mais velhas, sofridas, "uma gama de mulheres, um universo feminino em ebulição, mesmo quando aparentemente estático. eram muitas as mulheres. e foi então que dolores dos santos percebeu que matar aquela mulher seria se matar também".

reparar os nomes das cidades: vila azul, ardência antiga, nova ardência, chegada feliz, fé rompida, dois laços, águas infindas, dias felizes... -- dentre outros nomes peculiares que indicam, sugerem um cenário ligado ao prazer, ligado ao relacionamento de jasmim com as mulheres em cada lugar.

juventina (tina) - - aquela que viveu com fio jasmim por trinta e cinco anos, mesmo ele sendo casado com pérola, claro.

é de tina a obra musical "canção para ninar menino grande": ela fez para ele.

os nomes das mulheres são colocados por inteiro. reforçam identidade e tiram possibilidade de que sejam tratadas só por apelido ou pela função na história. a narrativa é marcante, pela sororidade. fio jasmim, em determinado momento, vai descobrir que amor não é apenas o sexo.

o último episódio do livro começa assim: "busquei escrever a história que tina me contou".

"escrevivência" o que é? 

ah, vai ter que assistir o vídeo abaixo!

saiba mais - -



quarta-feira, 20 de novembro de 2024

bala que ficou para trás -- ebook do carneiro

 


da série "emília e iracema", deste que vos fala. 

um conto -- ou algo assim -- que envolve a cidade de santos, três (ou quatro) mulheres apaixonadas, uma chance de morte, literatura e ... e você precisa ler. é por pagu -- a patrícia galvão --, só pra deixar claro.

clicando agora aqui  bala que ficou para trás (clica) -- consiga seu livro!

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veja mais o que escrevi em "meus livros" -- botão acima

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

letra líquida é romance de relações fluidas

 


pisar as uvas. 

é o começo de tudo.
romance "letra líquida" é obra que mistura elementos de ficção, crítica literária e referências culturais em uma narrativa fluida.
o romance explora interações entre personagens fictícios com elementos da cultura literária e popular.
o enredo gira em torno de moema, uma personagem que parece ter saído diretamente das páginas de um livro clássico, especificamente de "caramuru", do frei santa rita durão.
a índia tupinambá moema é retratada como figura enigmática, quase mitológica. ela interage com outros personagens: gaspar e o narrador, tanto num mesmo apartamento, como na biblioteca da universidade. esta, por vezes, um lugar caótico, onde livros e versos se misturam de modos inesperados... o motivo? só lendo mesmo.
a trajetória de moema na narrativa pode ser vista como um processo de acúmulo e descarga de influências literárias... e sobra sensualidade nisso tudo. juro.

por que estou falando disso? 
é meu novo livro. um romance. 
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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

letra líquida está chegando: é a vingança

          


eu por mim mesmo:


"letra líquida" é obra que se destaca pela sua prosa lírica e enredo dinâmico. romance.

a narrativa demonstra domínio da linguagem, alternando entre prosa e versos envolventes. personagens são densos, bem desenvolvidos, refletindo complexidade das experiências amorosas. amor existe? desejo e impermanência da vida são temas básicos aqui. o livro nos convida a refletir sobre a perenidade da arte. é literatura.

marcelino freire já disse: "escrevo pra me vingar".
gostei da frase. então fica.

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no alto da página clca em "meus livros" - conheça o que já cometi




sexta-feira, 1 de novembro de 2024

em dezembro 2024: o que será ?...

 

                          
                                     [ legenda por sua conta ]


           está 

        chegando

   . . . . . .  .   .    .

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pedras no sapato

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