canção para ninar menino grande: a escrevivência de conceição evaristo
narradora -- numa espécie de prólogo -- explica ao leitor que vai contar histórias de amor e que o processo é difícil.
o relato do livro trata das relações de mulheres com um homem chamado fio jasmim. no presente da história, ele está com 44 anos, casado, vários filhos, da esposa pérola maria e de outras, como dalva, a ruiva.
a construção do livro é obra de duas mulheres: a narradora e juventina. outras mulheres que surgirão na narrativa: aurora, dos santos, angelina, dolores, antonieta, tina, dentre outras. tina é apelido de juventina.
"(...) a fala suspensa foge da escrita. E mais, a grafia não registra a intensidade de um silêncio intervalar, diante de um renovado estado de estupor (...) só falarei do brilho das estrelas, das árvores frondosas que habitam determinada esquin e debulharei as palavras, da sua raiz até suas derivações, se tudo me vier agarrado à vida (...) fui uma das mulheres de fio jasmim (...) não, o moço não me é estranho , como as mulheres que estiveram com ele também não. eis o motivo de minha preocupação em escutar todas. são muitas, plurais e diversas as vozes que me provocavam a escrevivência"
depois, a narrativa se inicia com o mal estar de juventina. dores no peito. assusta as amigas que a acolhem e pedem que ela levante os braços e que cante, para ativar os sentidos, melhorar a dor, mostrar que está bem. ela canta "canção para ninar menino grande".
o livro é composto por episódios que narram encontros de fio jasmim com mulheres, nas cidades em que o trem para. na juventude, ele foi auxiliar de maquinista e tinha sido educado para se envolver sexualmente com mulheres. "pai (...) ensinando ao filho, quando ele ficou rapazinho, como conquistar as mulheres". fio jasmin, crescido, conquistava, seduzia -- ou era seduzido -- e depois seguia adiante com o trem, abandonando tudo, até mesmo mulher grávida. a masculinidade de jasmim -- atrelada ao apoio dos dois maquinistas mais velhos -- é cruel, toxica, misógina. ele se comporta como um corpo que carece de satisfazer os desejos e é motivado a isso pelos homens em seu entorno, incluindo a memória de seu pai que o incentivava a provar virilidade. existe o episódio do "príncipe", na escola: criança, não o deixaram fazer o papel de príncipe, por ser negro.
numa das passagens da história, dolores dos santos recebe um envelope e descobre, dentro dele, foto de jasmim com pérola maria e seis filhos. era uma mensagem avassaladora: ele realmente mentira para ela. dolores tinha duas filhas com jasmim: rubia e safira. dolores teve ódio. certa vez, olhando novamente a foto, percebeu no rosto de pérola as faces de outras mulheres, parentes mais velhas, sofridas, "uma gama de mulheres, um universo feminino em ebulição, mesmo quando aparentemente estático. eram muitas as mulheres. e foi então que dolores dos santos percebeu que matar aquela mulher seria se matar também".
reparar os nomes das cidades: vila azul, ardência antiga, nova ardência, chegada feliz, fé rompida, dois laços, águas infindas, dias felizes... -- dentre outros nomes peculiares que indicam, sugerem um cenário ligado ao prazer, ligado ao relacionamento de jasmim com as mulheres em cada lugar.
juventina (tina) - - aquela que viveu com fio jasmim por trinta e cinco anos, mesmo ele sendo casado com pérola, claro.
é de tina a obra musical "canção para ninar menino grande": ela fez para ele.
os nomes das mulheres são colocados por inteiro. reforçam identidade e tiram possibilidade de que sejam tratadas só por apelido ou pela função na história. a narrativa é marcante, pela sororidade. fio jasmim, em determinado momento, vai descobrir que amor não é apenas o sexo.
o último episódio do livro começa assim: "busquei escrever a história que tina me contou".
"escrevivência" o que é?
ah, vai ter que assistir o vídeo abaixo!
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