AOS ÓCULOS [ José Paulo Paes ]
só fingem que põem
o mundo ao alcance
dos meus olhos míopes.
já não vejo as coisas
já não vejo as coisas
como são: vejo-as como querem
que eu as veja.
logo, são eles que vêem,
não eu que, cônscio
do logro, lhes sou grato
por anteciparem em mim
o Édipo curioso
de suas próprias trevas.
[in "prosas seguidas de odes mínimas", 1992]
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dos doze versos, pelo menos quatro com cinco sílabas poéticas, sugerindo, logo de início, um ritmo tradicional, a redondilha menor.
as lentes dos óculos mentem a realidade. as lentes podem ser essa representação de consumismo, como já se viu no poema "ao shopping center", no mesmo livro. as lentes são parte de um sistema social que dirige a pessoa, esse sistema faz com que ela perca noção de realidade e passe a se comportar de acordo com o que outros querem. a identidade do poeta fica em risco. o verso "são eles que vêem" confessa a presença desse sistema.
a citação a édipo refere-se ao final da tragédia grega, quando este fura os olhos, cegando a si mesmo, para não ver a realidade. logo, os óculos se apresentam como aquele filtro enganoso... talvez pior do que isso: aquilo que cega mesmo.
a citação a édipo refere-se ao final da tragédia grega, quando este fura os olhos, cegando a si mesmo, para não ver a realidade. logo, os óculos se apresentam como aquele filtro enganoso... talvez pior do que isso: aquilo que cega mesmo.
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saber mais? veja-me!
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