filme de animação com narrativa sensível, apesar de previsível. funciona assim: figura feminina precisa resgatar pedaços de uma pedra, a joia dos dragões, para trazer pessoas e também outros dragões de volta à vida. para isso, necessário é a união dos povos humanos, pois cada comunidade -- cinco, na história -- detém uma parte da pedra. e as comunidades são inimigas. como se lê no título, um dragão sobrou e vai ser motivador para raya buscar um caminho para reconstruir a pedra que se quebrou. por que isto aconteceu, só mesmo vendo o desenho.e vale a pena. figuras femininas detêm poderes. isso incluiu personagem mágico, o dragão, que é fêmea. dar o primeiro passo buscando conciliação requer coragem e é o mesmo que responsabilizar-se pelo custo disso. pode dar certo, pode não dar. mas iniciativa de união vale qualquer resultado.
coloco aqui, trecho do artigo de ana rosa, na folha de s paulo 2021:
"Algoritmos têm se mostrado ferramentas de reprodução de preconceito,
injustiça e discriminação. Num ambiente automatizado, questões de gênero
e de raça podem resultar em exclusão ou perpetuação de desvantagens (...) Algoritmos são códigos com instruções para execução de uma tarefa ou
solução de um problema e, na atualidade, representam a forma mais
eficiente para identificar, organizar e atingir um mercado. Assim como
podem ser inclusivos, está comprovado que são também absurdamente
excludentes.
Por isso, uma questão relevante é quem os programa, como e com que
motivação. Conscientemente ou não, preconceitos são embutidos nos
algoritmos e reproduzidas pelas máquinas”. [ folha de s paulo, 23 maio 2021 ]
olhem, o assunto é mais do que grave. falei, em 2020, sobre o tema -- ver vídeo abaixo -- e resvalei nessa questão. já adianto: não vale a pena demonizar redes sociais e os tais esquemas de algoritmos. hoje, não dá pra simplesmente deletá-los do planeta. o que se deve pensar é na melhoria deles. eu ja deixei o twitter por não ver utilidade naquilo e, mais recentemente, saí do facebook por puro cansaço. os incomodados que se mudem. agora, o que faz do ser humano médio figura tão dependente desse cordão umbilical tecnológico? como utilizar vias digitais para melhorar cotidiano da humanidade e da natureza? parece que boa parte ddessa história, hoje, passa pelo consumismo. daí pergunto: como discutir o consumismo dentro de um universo capitalista? o mesmo que debater técnicas de mergulho com quem não sabe nadar. ou uma plenária de maioria masculina, no brasil, tratando do aborto. não resolve. com a palavra, educadores e tecnólogos.
O esforço é grande e o homem é pequeno. Eu, Diogo Cão, navegador, deixei Este padrão ao pé do areal moreno E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita. Este padrão sinala ao vento e aos céus Que, da obra ousada, é minha a parte feita: O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano Ensinam estas Quinas, que aqui vês, Que o mar com fim será grego ou romano: O mar sem fim é português.
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma E faz a febre em mim de navegar. Só encontrará de Deus na eterna calma O porto sempre por achar. [ Mensagem, F Pessoa, 1934 ]
poema que se inclui na segunda parte do livro "mensagem" -- nomeada "mar português". quem fala é diogo cão, navegador que primeiro chegou ao litoral africano do congo (1482-84) e criou esse tipo de marco, um padrão, ou seja, elemento físico da marca das invasões portuguesas (muita gente chama de "expansão"). o trabalho de cão é base para o que iria fazer vasco da gama, em 1498.
a cruz é a referência ao destino luso da navegação, ou seja, um ser divino tornou possível aos portugueses as viagens e, consequentmente, o aumento do império. vale sempre reforçar que a cruz também pode ser referência aos templários: ordem da qual faziam parte tanto vasco como pessoa, por exemplo. "alma imperfeita", verso 1, mostra que cabe ao homem, segundo este e outros poemas, sonhar com uma vida plena, perfeita, ou seja, com domínio sobre as terras, formando quinto império. insisto: no texto, sonhar é possível...realizar, só com deus.
"mensagem" faz referência a fatos históricos da vida portuguesa, daí sua proximidade com "os lusíadas", de camões. contudo, os poemas de pessoa apresentam uma abrangência tal que, sozinhos, não dão ao leitor clareza didática a respeito do momento histórico tratado neste ou naquele poema. é necessário, então, conhecimento mínimo prévio de eventos da história portuguesa.
veja nosso vídeo sobre livro "mensagem", aqui, para ajudar melhor.
"Não há um salvador do BraZil. Nunca existiu e nunca vai surgir. Ninguém vai aparecer pra decidir tudo sozinho. Política se faz com partidos, projetos e alianças. Inclusive alianças com políticos e partidos de tendências opostas. Se eu quiser que o país seja mais democrático e includente, então o que eu posso esperar do futuro presidente é o quê? Que ele use de suas capacidades para fazer alianças que permitam isso. Em 2016 as alianças fizeram o oposto. Jogaram o país numa crise imensa que resultou nessa katastrophe. Em 22 os partidos e a grande maioria dos congressistas serão os mesmos. O que pode mudar será a capacidade de se organizar uma aliança que sustente um projeto democrático em um governo democrático. Então o voto proporcional dado para vereador, deputado estadual e federal, para senador é muito decisivo. O salvador do BraZil somos nós mesmos. Ou o carrasco." [ maio, 2021]
concordo com tudo. por isso, não entendo por que, em pleno maio de 2021, o psol lança candidatura à presidência, 2022. é triste. num discurso recente, neste mesmo mês de maio, glauber braga (o candidato) afirmou: "Buscaremos construir uma plataforma comum na esquerda – mas precisamos estabelecer limites evidentes, por exemplo, não podemos sentar à mesa para discutir uma plataforma comum com nomes como Doria, Moro, Maia e Lemann" .
pois justamente com estas pessoas (maia, doria, p. ex.) é preciso conversar. e, claro, propor alianças.
são figuras que têm representatividade em parcela da população. democracia se faz assim.
já houve erros, de grupos ditos de esquerda, quando do golpe de 2016 e, depois, falta de unidade total nas eleições de 2018.
agora -- falemos a verdade -- para surpesa de zero pessoas, há lançamento de candidatura à presidência, pelo psol. será que não aprenderam? que absurdo! falta de estratégia plena. psol é o novo psdb.
pedra no sapato de nove entre dez jovens de classe média, o romantismo, em literatura, precisa ser mais simples. mais simples porque parece estar pregado no século 19. bobagem. no 21, surge um travamento ímpar. pouca gente está disposta a expor-se, a dizer que ama, mesmo que não haja compromissos íntimos possíveis. e é bom dizer que se ama, creia. mas o que se tem é silêncio. um peso. em sala de aula, li "este inferno de amar", do garrett. um recurso quase secular meu, para ilustrar a teoria da coisa. no texto -- curto -- o eu lírico se mostra confuso quanto ao que sente. parece novidade.
por isso, ser romântico, até hoje, soa como um problema. um mal. por que será?
olhem, que o romantismo -- em literatura -- está associado à morte ou ao gótico, isso é lá é verdade. até o grupo pop rock "the cure", inglês, desenvolvia canções nessa linha depressiva e noturna, no século 20. agora, na prática, em dia de semana, por que tem sido difícil expor sentimentos sem culpa?
será mesmo um problema quase patológico essa vivência da paixão?
às vezes tenho vontade nenhuma de me mexer, tenho sensação de que cada movimento, frase ou gesto resultará em tragédia ou, simplesmente, em nada, zero. às vezes há alguma euforia. do tamanho dos comprimidos que tomo. saúde mental é um coisa delicada. pouca gente entende. quase ninguém acolhe. tenho pesadelos recorrentes. nasci em dezembro, dia 19. e a história desse vírus "19" parece piada ruim. enfim, não fico pensando muito nisso, seria enxugar gelo.
já me considerei artista, educador, cozinheiro e fotógrafo. também motorista, herói da marvel, prefeito, falso nove, ator, guitarrista, fernando pessoa, gustavo kuerten, ridley scott e macunaíma.
um poema do italiano dante alighieri (séc 14) é versão lírica -- provocante -- daquilo que mary shelley faria, no século 19, quinhentos anos depois. um milagre, dirão uns. ficção, sussurrarão outros.
veja:
Tanto gentile e tanto onesta pare la donna mia, quand'ella altrui saluta, ch'ogne lingua deven tremando muta, e gli occhi no l'ardiscon di guardare. Ella si va, sentendosi laudare, benignamente e d'umiltà vestuta; e par che sia una cosa venuta dal cielo in terra a miracol mostrare. Mostrasi sì piacente a chi la mira, che dà per li occhi una dolcezza al core, che 'ntender nolla può chi nolla prova. E par che de la sua labbia si mova un spirito soave pien d'amore, che va dicendo a l'anima: Sospira.
Dante Alighieri [in: Vita nouva ] séc 14
a melhor tradução pra mim é a de augusto de campos mesmo
É tão gentil e tão honesto o ar de minha Dama, quando alguém saúda, que toda boca vai ficando muda e os olhos não se afoitam de a fitar.
Ela assim vai sentindo-se louvar na piedosa humildade em que se escuda, qual fosse um anjo que dos céus se muda para uma prova dos milagres dar.
Tão afável se mostra a quem a mira que o olhar infunde ao coração dulçores que só não sente quem jamais olhou-a.
E quando fala, dos seus lábios voa Uma aura suave, trescalando amores, que dentro d'alma vai dizer:
"Suspira!"
campos optou por traduzir em forma de soneto, marca dos italianos. a figura amada é transmutada em angelical matéria de fé e
realidade. uma beleza de paradoxo. suspira. para expressão "donna mia", augusto foi de “dama”, mantendo as nasais. e a "cosa venuta dal cielo" virou "anjo" mesmo. excelente solução.poeta criador de um inferno bem à moda cristã, dante, aqui, parece estar mais pagão, mais humanizado do que em "a divina comédia". amor que tira gente dos infernos?
o anjo veio, está lá, no texto, para dar provas de milagre. no meio do poema, a palavra “milagre”. e este -- imagina-se -- deve ser o amor. mas pode ser outra coisa. o que seria?... a falta que os nomes fazem. mas deve ser bom não saber nomear certas coisas.
o título pergunta o que seria maior: o bem vivido e perdido ou aquilo que se perde sem ter havido a chance de alcançar. pois lá mesmo, o poeta defende que o problema maior é perder o que se viveu. na primeira estrofe, enfatiza o poeta que não pode haver tormento parecido com uma perda dessas.
soneto que tematiza a perda de um bem, possivelmente um amor. o eu lírico reforça ideia de que quem o perde não consegue reavê-lo
a memória diminuiria o problema, uma vez que resgataria o bem, via pensamento
até agora, nunca ouvi
“recanto escuro” por inteiro, mas só a voz de gal me fascina e dá ideia de que
é a coisa que me diz de meu estado de ontem e de anteontem. não sei se diz do futuro, mas o que me incomoda é noção falsa de tempo noção certa de tempo falso, muito tudo
confuso quando mergulha-se nessa fantasia de liberdade de estar em plenas ações
do corpo -- o que me tem faltado há tempos -- e do corpo do outro pois oswald de andrade já disse que o que interessava
era o outro e sei de alguns mais filósofos que disseram do inferno nos outros por isso essa quase cachoeira cascatinha verbal sem pontuação vai caindo como diversão marítima de onda que leva pra
cá e pra lá um estado de álcool gel um estado de música e voz bonita de gal
tropical fatal e é com um gel que sou passeado pela música – que é do caetano – então "recanto escuro" vira mar e escorrego pro fundo é bem onde queria estar nessas brechas da gente com sensações sem nome é bom não precisar dar nome às coisas
ao desejo feito completado porque sem nome não há memória nem esse jorro falso
que misturo com sangue.
vale a pena juntar
"guernica" (picasso) e "3 de maio 1808" (goya), também
conhecido como "fuzilamento".
vale a pena misturar "o pensador" (rodin) e "abaporu" (tarsila). o mesmo com iracema (alencar) e bertoleza (o cortiço/azevedo): ambas sofrem horrores nas mãos de um português... vale a pena emparelhar igreja de são francisco de assis (ouro preto/aleijadinho) com uma caravela...
é muito bom também combinar "sabiá" (tom & chico) com "canção do exílio"
(dias); sempre faz bem unir sebastião salgado ("terra") e "morte
e vida severina" (cabral)
melhor ainda é unir "o mostrengo" (pessoa) e "gigante adamastor", lá n'os lusíadas, isso sim.
nunca esquecer de juntar "bacurau" (dornelles/mendonça) e "a hora e a vez de augusto matraga" (rosa). básico.
assim como é bacana separar "amor de perdição" de "romeu e julieta", fica ruim pro português se ficarem juntando os dois. do mesmo jeito
nunca misture gregório e caetano. nem precisa explicar, né. mais que isso, peça a seus alunos que façam suas misturas e recriem os títulos dos livros legais que consumiram. quem sabe, até sai uma
outra obra aí, colega.
romance, 2018 narrativa acontece em minas gerais, entre os anos 1930 e 70
cenário base: fazenda água negra que abriga, durante dezenas de anos, famílias negras, exploradas em troca de moradia.
donana, ainda jovem, rouba faca que estava num coldre, esquecido num alpendre da fazenda caxangá. queria vendê-la, melhorar a vida. mas a faca era bonita. afeiçoou-se ao objeto, guardou. quando soube que a filha carmelita era abusada pelo seu próprio companheiro, donana sangrou o homem, na beira do rio, livrando-se do estorvo. anos mais tarde, na fazenda água negra, as netasbibiana e belonísia, fuçando na mala sob a cama da avó donana, encontram o objeto. curiosas, acabam se cortando.bibiana fere a boca e belonísia perde a língua.
donana vai à beira do rio com um embrulho. tempo depois, é encontrada morta, à margem do rio. a faca desaparece.
romance narrado por três mulheres: bibiana, belonísia e rita pescadeira -- esta última, uma entidade que se apossava do corpo de uma mulher conhecida por miúda
completam a família das irmãs bibiana e belonísia: zeca chapéu grande - o pai, curador de jarê
zeca era parteiro e podia receber entidades, os "encantados"; ele cuidava de aflitos, doentes, e mantinha certa liderança entre os trabalhadores da fazenda água negra - - era filho de donana
os demais: salustiana - mãe // zezé - irmão // domingas - irmã //servó - tio //severo - primo
bibiana se aproxima do primo severo, ambos se enamoram, ela engravida.ambos fogem para outras terras. tobias, funcionário da fazenda, convida belonísia para morar com ele. zeca chapéu grande (pai) , consultado antes, reforça a ela que deve prevalecer a própria vontade. belonísia aceita. tobias é violento. ofende belonísia que se arrepende de ter saído de casa
a faca de donana, do início da história, é encontrada acidentalmente por belonísia, na casa, quando tobias ainda era vivo. estava num pote de cerâmica
aparentemente possuída pelo espírito de santa rita pescadeira, num acesso de lucidez ou loucura, assassina o marido.
a outra irmã, bibiana retorna trazendo filho inácio. visita aos pais. anos mais tarde, traz todos os quatro filhos, passa a viver novamente no lugar, na casa que constroem. bibiana se torna professora, na escola que prefeito construiu a mando de santa rita pescadeira, quando estava no corpo de zeca chapéu grande
belonísia continua morando em sua casa, desde a época da união com tobias
marido de bibiana, severo, torna-se liderança e defende terra para quilombolas confrontando as posturas tradicionais de fazendeiros exploradores
severo é morto em frente sua casa. a investigação se inicia, mas a justiça declara -- mentirosamente -- que conflito se deu na disputa por drogas
santa rita pescadeira, a miúda, relata que tentou salvá-lo, entrando por seu corpo, mas não conseguiu. era um rio de sangue escorrendo pela fazenda
pelo crime contra severo, todos creem na responsabilidade de salomão, novo dono das terras de água negra inácio, jovem, parte para cidade: quer estudar, ser professor -- filho de bibiana
salomão é morto. encontrado seu corpo próximo ao rio, um corte no pescoço
a narrativa termina com o percurso de santa rita pescadeira pelo corpo de belonísia que sai em busca de uma onça que assustaria a comunidade. nesses movimentos, leitor acompanha o animal caindo numa cova, uma armadilha, e seu pescoço é cortado
. . . . . . . . . . . . . .f i m
narrativa contém três partes: fio de corte;torto aradoe rio de sangue
primeira parte: referência à perda da língua por belonísia e morte de donana -- narração por bibiana
segunda: "arado" é a palavra que belonísia acredita poder pronunciar -- narração por belonísia
terceira: "rio de sangue" é a expressão que se refere ao assassinato de severo, encontrado por sua esposa sobre um rio de sangue, símbolo da história dos negros pelo país que, metaforicamente ou não, sempre derramam sangue em meio às injustiças contra comunidade preta -- narração por santa rita pescadeira
faca - instrumento conhecido como "arma branca"; no romance, serviu para defender opressão sofrida pela comunidade preta; segundo uma das irmãs, donana tinha mais medo do significado dela do que seu poder de corte língua - órgão fundamental na comunicação humana; no livro, simboliza a castração verbal a ques eram submetidos pretos e indígenas, no brasil, desde cabral; a perda da língua e a necessidade de se comunicar com ajuda da irmã bibiana expõe sorororidade, valor à união e consciência de suas origens mulheres - donana, salustiana, belonísia e santa rita pescadeira representam a história acumulada pela ancestralidade que sofreu peso do racismo institucional mas que graças às suas origens souberam resistir e, de alguma forma, enfrentar essas adversidades