Este poema de amor não é lamento
nem tristeza distante, nem saudade,
nem queixume traído nem o lento
perpassar da paixão ou pranto que há-de
transformar-se em dorido pensamento,
em tortura querida ou em piedade
ou simplesmente em mito, doce invento,
e exaltada visão da adversidade.
É a memória ondulante da mais pura
e doce face (intérmina e tranquila)
da eterna bem-amada que eu procuro;
mas tão real, tão presente criatura
que é preciso não vê-la nem possuí-la
mas procurá-la nesse vale obscuro.
de longe, não é o texto mais legal de jorge de lima, contudo, há vestibulares à vista e vamos estudá-lo.
com influência do parnasianismo, a mensagem se prende à forma clássica do soneto (14 versos metrificados) e à linguagem culta, dentro dessa estrutura sabidamente erudita.
de início, o poeta quer distanciar-se dos amores cantados nesse tipo de gênero (soneto: poema lírico), dizendo que é poema de amor mas não é isso, nem aquilo, nem aquilo outro. retórica. pura retórica.
metalinguagem, leitor, metalinguagem. é a função da linguagem que trata da própria mensagem, explicando-a, explicitando-a. aqui, o eu lírico afirma, como já disse, que seu poema não é lamento, não é queixa, muito menos um texto lavado de paixão. seu poema (ver terceira estrofe) é memória da pessoa amada. aqui, sobra marca romântica, na visão idealizada de sua musa ("doce"; "eterna") que anda perdida num vale obscuro que bem pode ser a morte como apenas a distância.
Nenhum comentário:
Postar um comentário