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uma experiência privada - chimamanda

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  " uma experiência privad a " , conto do livro " no seu pescoço " , de chimamanda adichie. a história se passa em kano, nigéria, durante onda de violência entre muçulmanos e cristãos. chika é estudante de medicina de férias na cidade. ela é pega de surpresa pela violência enquanto está no mercado com sua irmã, nnedi. na confusão, ambas se separam. chika -- da etnia igbo -- se refugia numa pequena loja junto com uma mulher hausa muçulmana. é esta mulher hausa que pede para chika vir com ela para a pequena loja abandonada   . . . . .  .  .   . (...) Chika se pergunta se a mulher a está observando também, se sabe, por sua pele clara e pelo rosário de dedo feito de prata que sua mãe insiste em obrigá-la a usar, que é igbo e cristã. Mais tarde, Chika descobrirá que, quando ela e a mulher estavam conversando, muçulmanos hausas estavam atacando cristãos igbos a machadadas e apedrejando-os. Mas, naquele momento, ela diz: “Obrigada por me chamar. Tudo aconteceu tão...

trevas - sophia de mello bryener - comentário

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                                                [ francisco gijón, cristo em agonia, séc 17 ]             7.  Trevas         O que foi antigamente manhã limpa        Sereno amor das coisas e da vida        É hoje busca desesperada busca        De um corpo cuja face me é oculta.                 [ O cristo cigano,  1961 , Sophia de M B Andresen ]      . . . . . .  .  .  .   .   .    . este é o sétimo poema de "o cristo cigano".   aqui, pode ser a voz do escultor -- que aparece no poema 1 -- que está buscando uma imagem de um cristo em agonia para construir sua estátua.  agora, se liga nessa história :   sophia breyner encontrou-se com...

desengano - narcisa amália

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        DESENGANO   _narcisa amália_   Quando resvala a tarde na alfombra do poente E o manto do crepúsculo se estende molemente, Na hora dos mistérios, dos gozos divinais Despedaçam-me o peito martírios infernais E sinto que, seguindo uma ilusão perdida Me arqueja, treme e expira a lâmpada da vida Feriu-me os olhos tímidos o brilho da esperança A luz do amor crestou-me o riso da criança: E quando procurei - sedenta - uma ventura, Aberta via a fauce voraz da sepultura!... Dilacerou-me o seio, matou-me a crença bela, O tufão mirrador de hórrida procela! Então pálida e triste, alcei a fronte altiva Onde se estampa a dor tenaz que me cativa:; Sorvi na taça amarga o fel do sofrimento. E a voz queixosa ergui num último lamento: Era o cantar do cisne, o brado da agonia... E a multidão passou soberba, muda, frial Desprezo as pompas loucas, desprezo os esplendores, Trilhar quero um caminho orlado só de dores: E além,...

em nome do cinema e do país: ainda estamos aqui

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" E m nome do cinema brasileiro, é uma honra tão grande receber isso de um grupo tão extraordinário. Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande no regime tã o autoritário, decidiu não se dobrar e resistir... Esse prêmio vai para ela: o nome dela é Eunice Paiva. E também vai para as mulheres extraordinárias que deram vida a ela. Fernanda Torres e Fernanda Montenegro"   [W Salles, março 2025, diretor de Ainda estou aqui]   veja o que mais disse w salles - clica aqui sim, é o filme de salles sobre o assassinato e tortura de rubens paiva (1971) -- pela ditadura militar -- que venceu mais uma premiação: oscar de melhor filme estrangeiro, 2025, nos estados unidos. o prêmio acadêmico e o reconhecimento público são a unanimidade que todo artista quer. poucos conseguem. elis regina, tom jobim, clarice lispector, fernanda montenegro, milton nascimento, guimarães rosa, antônio lisboa (aleijadinho), carolina de jesus e mais dois ou três. e agora, "ainda estou aqu...

rupestre moderno

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                     [ rupestre moderno - versão engraçada feita por i. a. - fev 2025 ] já fui um velho livro esquecido numa biblioteca subterrânea. ninguém sabia quem me escrevera, nem por que me haviam trancado ali. quem me folheou dizia que as páginas mudavam a cada leitura. o texto se embaralhava, era assombroso. às vezes, eu era um romance trágico; em outras, um tratado filosófico. houve quem jurasse ter encontrado fórmulas matemáticas nunca vistas antes, enquanto outros diziam que eu contava segredos de borboletas extintas. vai vendo. todos que leram, morreram. se bem que é normal humanos morrerem.  até aí, as coisas. por séculos, permaneci intocado, até que uma criança  -- chata, com certeza -- desobedecendo às placas de "cuidado" e "sopa de letrinhas fervendo", acabou me encontrando. a tal criança remelenta abriu minhas páginas e, pela primeira vez, eu soube o que era ter alguém que me lesse com curiosidade. e sem ...

a visão das plantas - djaimilia de almeida

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  romance - djaimilia almeida - angola, 2019 cenário é portugal  --   século 19, predominantemente enredo base:  celestino é um pirata idoso retornando a sua casa numa vila, na rua dos choupos.  local estava abandonado e a casa vai sendo recuperada aos poucos, principalmente o jardim, com cravos, roseira, cameleira e outras plantas o início é assim: Noite abençoada. Acordou em casa, restaurado, após uma vida cheia. Mas a casa tinha mudado. Com as portadas trancadas, a mobília coberta com lençóis, a toalha manchada de vinho sobre a mesa, a arca da roupa fechada a um canto, os reposteiros de veludo negro, esgarçados pela traça, tudo era outro e, ainda, o mesmo. Na penumbra, o volume dos móveis insinuava fantasmas. O pó, tornado um ser, animava o espaço, iluminado pela claridade através das frestas das janelas. (...) segundo a narração -- 3a pessoa onisciente -- as plantas não davam a mínima importância às intenções e ações carinhosas, ali no jardim....

o escultor e a tarde - sophia m breyner - comentário

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        1 . O escultor e a tarde   No meio da tarde   Um homem caminha:   Tudo em suas mãos   Se multiplica e brilha.   O tempo onde ele mora   É completo e denso   Semelhante ao fruto   Interiormente aceso.   No meio da tarde   O escultor caminha:   Por trás de uma porta   Que se abre sozinha   O destino espera.   E depois a porta   Se fecha gemendo   Sobre a Primavera.         [ O cristo cigano,  1961 , Sophia de M B Andresen ] este é o poema número 1 de "o  cristo cigano ". importante :  sophia breyner encontrou-se com joão cabral de melo neto, em sevilha, espanha, onde vivia o brasileiro que era também diplomata. lá, ela ouviu a lenda de que o escultor espanhol francisco gijón, no final do século 17, recebera uma encomenda de um cristo em agonia. para este fim, o tal artista buscou uma cena que pudesse ver alguém morrendo para conseguir insp...

o encontro - sophia de mello breyner - comentário

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             O encontro       Redonda era a tarde       Sossegada e lisa       Na margem do rio       Alguém se despia.       Sozinho o cigano       Sozinho na tarde       Na margem do rio       Seu corpo surgia       Brilhante da água       Semelhante à lua       Que se vê de dia       Semelhante à lua       E semelhante ao brilho       De uma faca nua.       Redonda era a tarde.         [ O cristo cigano, 1961 , Sophia de M B Andresen ] poema número 4 do livro "o cristo cigano". o texto parece descrever um encontro entre a figura divina e a água do rio, como num batismo tradicional, à moda de joão batista.  contudo, sabemos que se trata do cigano "cachorro", cuja lenda -- em sevilha -- inspirou a poetisa...

a embaixada americana - chimamanda adichie

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" a e m bai xa da am e r ic ana ", conto do livro " no seu pescoço ", chimamanda. tempo da narrativa: final dos anos 1990 e início da década seguinte. começa assim:  Ela estava na fila diante da embaixada americana em Lagos, olhando fixamente para a frente, quase imóvel, com uma pasta azul cheia de documentos enfiada debaixo do braço. Era a quadragésima oitava pessoa numa fila de cerca de duzentas, (...) Ela ignorou os jornaleiros que usavam apitos e enfiavam exemplares do The Guardian, do The News e do The Vanguard na sua cara. E também os mendigos que andavam para cima e para baixo estendendo pratos esmaltados. E ainda as bicicletas dos sorveteiros, que buzinavam . (...)  O conto "embaixada americana" se passa na nigéria, em lagos  -- a maior cidade do país --,  onde se vê uma mulher anônima na fila para solicitar um visto para os estados unidos. ela busca asilo político Foi então que Ugonna começou a chorar, correndo até ela. O homem de camisa c...

canção de matar - sophia de mello bryener - comentário

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      Canção de matar    Do dia nada sei    O teu amor em mim    Está como o gume    De uma faca nua    Ele me atravessa    E atravessa os dias    Ele me divide   Tudo o que em mim vive   Traz dentro uma faca   O teu amor em mim   Que por dentro me corta     Com uma faca limpa   Me libertarei   Do teu sangue que põe   Na minha alma nódoas   O teu amor em mim   De tudo me separa   No gume de uma faca   O meu viver se corta   Do dia nada sei   E a própria noite azul   Me fecha a sua porta     Do dia nada sei   Com uma faca limpa   Me libertarei.         [ O cristo cigano,  1961 , Sophia de M B Andresen ] aqui, a ideia da morte do cigano -- confirmada nos dois poemas finais do livro -- é ressaltada. a faca que mata acaba dividindo o eu lírico. traz à tona a dualidade: dor e purifica...

o baile - narcisa amália

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                 O BAILE              Esta fingida alegria,            Esta ventura que mente,          Que será delas ao romper do dia?..                                 G Dias *   A noite desce lenta e cheia de magia; A multidão febril do templo de alegria,          Invade as vastas salas O mármore, o cristal, a sede e os esplendores, Do manacá despertam os mágicos olores,          À languidez das falas.   Ao rutilar das luzes as dálias desfalecem.. Roçando o pó as vestes das virgens s'enegrecem.            Enturva-se a brancura... O ar vacila tépido... a música divina Semelha o suspirar de uma harpa peregrina.           E a hora da loucura!   Pela janela...