amor é um fogo que arde sem se ver - camões - comentário
[ luiz vaz de camões 1524 - 80 ]
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
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soneto publicado no livro "rimas", século 16. luís vaz de camões (1524-80)
texto mais famoso da língua portuguesa, até aqui. não arrisco dizer que é o melhor, mas o mais famoso sim.
e o que há neste poema? a busca de definição do amor. repleto de antíteses e paradoxos, o poema reúne contradições, opostos, para definir o sentimento amoroso que, no limite, seria algo turbulento, uma mistura de razão e emoção. nas três primeiras estrofes, há uma lista de contradições. daí, a última estrofe traz a pergunta retórica instigante: se o amor é tão repleto de contradições, como alguém é capaz de buscar amizade (sossego) dentro dele? ou seja, como procurar serenidade em algo tão intensamente contraditório?
muitas leituras críticas deste poema insistem em afirmar que o texto não traz uma definição do amor porque o poeta está cheio de dúvidas. errado. os versos afirmam! o tempo todo afirmam que é uma comunhão de opostos! logo, a definição do amor está dada: é um jogo de contrários. o amor -- segundo o poema -- é um conjunto de sensações contraditórias. simples assim.
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