dizem que terapia é exercício para cérebro, mas nos últimos tempos tem
sido mais que isso. pra começar, não caio na
armadilha do "corpo e alma", como se uma coisa existisse por si só,
separada dessa outra (anima) sem forma nem definição. fim da idade
média. o humano, desde aristóteles, é animal racional e, aí, já entramos
noutro problema com palavras. por que só ele o racional? uma
coruja elabora seu trajeto até o ninho, depois até a presa, prepara seu vôo,
ataca, enfim, está usando algum tipo de lógica, seu insitinto, digamos,
racional. qualquer bicho articulado (com exceção do macunaíma) elabora, pensa e
age de acordo com seu meio também, mesmo que seja para mudá-lo, como os
castores e os humanos. pensar não dói.
olhem, tanto lou marinoff quanto marc sautet defendem o
bem-estar do homem pela fiolosofia. se ainda não conhece, deveria ler
"mais paltão, menos prozac", do primeiro, e "um café para sócrates", do segundo.
seguindo a linha aberta, com
sucesso, por sautet (um café para sócrates), Marinoff procura seduzir o leitor
com a tentação do momento : filosofia. filosofia aplicada ao cotidiano,
assinala o subtítulo.
logo
de cara, o filósofo diz a que veio :
"na
medida que as instituições religiosas estabelecidas perdem cada vez mais a sua
autoridade e que a psicologia e a psiquiatria excedem os limites de sua
utilidade na vida das pessoas (e começam a fazer mais mal que bem), muitas
pessoas estão passando a ser dar conta de que a especialização filosófica
abarca lógica, ética, valores, racionalidade, tomada de decisão em situações de
conflito ou rico e todas as vastas complexidades que caracterizam a vida
humana. (...) durante todo este século [XX], um grande abismo se abriu debaixo
de nós quando a religião retrocedeu, a ciência avançou e o significado se
extinguiu."
marinoff
defende a ideia de que a filosofia deveria fazer parte de todo processo de
educação. na verdade, hoje, recuperar valores comuns, mínimos de convivência
entre pessoas e o próprio meio-ambiente parece não ser tarefa fácil, no
ocidente voltado apenas para a estrada do "compro-vendo-financio".
nesse
ritmo, o grande embuste do século vinte, a psicologia, colaborou para que se
fizessem, no máximo, relatos de posturas, síndromes ou justificativas (quase
sempre superficiais) para suicídio, depressão, dificuldade em se relacionar ou
facilidade para fazer contas mentalmente. daí a brincadeira com "prozac"... marinoff traz relatos de como a filosofia ajudou, de fato, pessoas a resolver
conflitos como separação matrimonial, postura ética na escola, dúvidas sobre
opção ideológica (vida comum ou monástica, por exemplo), o que vem a ser
"o bem", essas coisas. o crescimento de cafés
filosóficos e aconselhamentos, tanto informalmente como em clínicas, numa
tentativa — segundo marinoff — de superar as limitações de trabalhos
psicoterápicos, tornou-se uma tônica, nesse mundo cheio de catástrofes, como as
guerras, exploração econômica ou verticalização de conhecimento como sinônimo
de progresso.
o livro é pretensioso, direto,
defende bem o peixe do autor e ainda ataca a ferida de muita gente ligada às
humanidades, na medida que contrapõe filosofia e psicologia. e esta última fica
devendo a que veio.